Angola: “O Egocentrismo Partidário como causa das Desgraças dos Angolanos”

Durante muito tempo se propagou que o país estava ou está indo a passos largos para sua destruição; que os iluminados camaradas saqueavam o erário público ao seu belo prazer, e que os interesses individuais substituíam aos interesses colectivos, descartando o axioma constitucional de que o progresso é uma vocação do Estado. Os analistas, os falsos intelectuais, detentores de um linguajar venenoso, por sua vez, diziam que era tudo mentira, que isso não passava de ideias e opiniões dos inimigos da paz.
 
Volvidos 15 anos desde o alcance da paz, em véspera da eleição legislativa de 2017, o então candidato à Presidência da República-General João Lourenço, confirmara aquilo que a muito já se sabia, prometendo mudar o rumo da história, combatendo o que muitos fingiam não saber e, consequentemente saqueavam a seu belo prazer as nossas riquezas, levando-os para os famosos paraísos fiscais.
 
O tempo passou houve algumas mudanças no xadrez certamente, mas aquilo que consideramos como sendo o maior veneno (egocentrismo partidário) do desenvolvimento de Angola continua. De lembrar que o Arquiteto da Paz, o Presidente emérito José Eduardo dos Santos (2012) uma vez disse: “Deixaremos de Governar para o cidadão e passaremos a Governar com o cidadão. Com ele iremos identificar não só os problemas, mas também as soluções para os nossos desafios”.
 
O egocentrismo Partidário se manifesta de formas e em âmbitos diferentes, trata-se de um mecanismo único. No passado Jonas Savimbi já enfatizava em seus discursos, quando apelava que o “MPLA pensa que são os únicos que podem governar Angola” pese embora também ser um mal verificado na UNITA(de forma diferenciada). Ela centra se na ideia partidária de querer compreender tudo através de si próprio, tornando-os alheio aos do outros, e com acentuada dificuldade de ter a verdadeira consciência do seu próprio processo.
 
Na verdade, ela se manifesta da falta de uma verdadeira interação grupal, confusão entre o próprio pensamento partidário e as coisas que eles almejam resolver; indiferenciação entre o eu e o mundo exterior; falta de percepção e compreensão de que a crítica é um olhar diferente e necessário de um determinado fenômeno, e não má fé; dificuldade em distinguir o próprio ponto de vista e dos outros, criando um mundo imaginário aquém da realidade.
 
O egocentrismo partidário cria a ausência de equilíbrio entre a assimilação e acomodação: pensamento instável descontinua e mutável; inúmeros bajuladores, homens de línguas venenosas que alimentam a predominância de pensamentos intuitivos, a partir do qual se verifica reversibilidade no seio das políticas públicas.
 
O egocentrismo partidário desseca a noção de que quanto maior o desenvolvimento económico de um povo, mais segurança ela almeja, por isso, combate das às críticas no seu seio, bem como fora dela, criando um atraso ao desenvolvimento.
 
O egocentrismo partidário, genericamente, tem sempre durabilidade definida em torno de sim mesmo (pensam que ficarão eternamente no poder ou que o país é uma lavra de suas mães ou avós). Tendem a conservar o poder com todos os meios possíveis, defendendo os seus interesses sem se importar verdadeiramente com as causas do povo ou vida humana.
 
O aumento do desemprego e as constantes mutações da economia, que torna cada vez mais as instituições frágeis e em direção a caos, são fruto do egocentrismo partidário, que não promove debate verdadeiramente inclusivo, e que, se promove é de faixada, porque já tem ideias pré-estabelecidas que não serão alteradas por nada.
 
As incapacidades de solucionar os problemas bases do cidadão, a falta de aproveitamento dos recursos naturais, o aumento da inflação, a intervenção desajustada do Estado na economia, os movimentos consumidores que exigem mais das empresas a criarem os produtos cada vez mais inadequados, é fruto do egocentrismo partidário, que ignora os problemas bases da organização econômica em sociedade (o quê, quanto, como, quando e para que produzir?).
 
Portanto, é consensual que os partidos políticos são organizações de carácter associativa voluntária que lutam pela conquista, exercício e manutenção do poder. E que com isso, eles procuram expressar os interesses da sociedade, exercendo o governo de um Estado, buscando concretizar objectivos comuns. Independentemente da sua tipologia (esquerda, direita ou centro), eles tendem a trabalhar em sociedade e para a sociedade.
 
Paralelamente, ao carácter hegemônico do partido no poder, também é consensual que sem uma verdadeira interação grupal (inclusiva- Estado-partidos políticos e sociedade civil), longe do carácter egocêntrico predominante, o cenário caótico em que nos encontramos não mudará. Por isso, é necessário, promovermos a dimensão interativa tridimensional-Estad­­o-Partidos da oposição e sociedade civil, para assim criarmos um plano estratégico de carácter urgente capaz de tirar Angola em direção desfavorável atual (crise).
 
Enfatizo a interação grupal, porque acredito que Angola é de todos nós, não é propriedade particular de ninguém; só unidos, é que orgulhosos lutaremos pelo desenvolvimento do país, desenvolvendo uma participação proativa, dotada de um leque mecanismo que permitiram todos terem as verdadeiras oportunidades, iguais, efetivas, para fazerem os outros conhecerem suas opiniões a respeito de política. Sem nos despirmos do egocentrismo partidário, não haverá tolerância, reconciliação nacional no verdadeiro sentido, e consequentemente criatividade satisfatória a maioria parte da população que clama por melhores condições de vida.
 
Precisamos compreender que estamos todos de passagem neste mundo, e que fazer o bem em detrimento do mal, deve ser a prioridade, bem como, honrar aquilo que juramos fazer: servir o país. Enfim, para progredirmos, precisamos mudar todos, trabalhar mais, inovar, conviver como irmãos, cultivar empatia para com o próximo, só assim saberemos e compreenderemos o verdadeiro estado social do País, e deixaremos de ser fazedores ou seguidores de Politiqueiros demagogos.
 
 
Adriano Sumbo
 
Politólogo/­­estudante de Filosofia. (ISCED).
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