Angola: O que fazer com a “almofada financeira” do aumento do preço do petróleo?

O preço do petróleo sobe no mercado internacional com as sanções impostas à Rússia e terá impacto positivo nas contas públicas de Angola, dizem economistas. Para onde deve ser canalizado o excedente do crude do país?

O preço do petróleo no mercado internacional continua a subir devido às sanções impostas pelo Ocidente à Rússia, após a invasão à Ucrânia.

O barril está a ser comercializado acima dos 100 dólares, quando o Orçamento Geral do Estado (OGE) angolano fixou um preço de 55 dólares por barril. Para onde deveria ser canalizado o excedente do crude do país?

A questão está a gerar debate em Angola, mas o economista Nataniel Fernandes não tem dúvidas: parte do excedente do petróleo deve ser canalizado para abater a dívida externa.

“Se tivermos um grande excedente das receitas vindas do petróleo, poderíamos procurar diminuir aquilo que é a nossa dívida com o exterior e essa dimnuição poderia aliviar-nos em OGE futuros”, diz o economista.

Também Nkinkinamo Tussamba, especialista em assuntos internacionais, concorda com a redução da dívida. Mas aponta outra prioridade: “Porque não fazer uma revisão do OGE, sendo que o atual foi aprovado a preço de 55 dólares? E hoje estamos a falar de 120, logo, era importante que o OGE aqui fosse revisto”, considera.

Nkinkinamo lembra ainda que Angola depende, essencialmente, das receitas provenientes do crude para cobrir as suas despesas. “É importante que Angola possa olhar para esta subida nesse momento e fazer um investimento no sector petrolífero”, defende o especialista.

Mas há outros sectores para onde devem ser canalizados estes valores, diz Nataniel Fernandes, que se foca nas necessidades da área social.

“Temos muitas famílias carenciadas, o tecido social foi muito debilitado durante os últimos anos, também devido a políticas públicas que não foram as mais corretas e que levaram à asfixia de muitas famílias”, afirma.

Já Solya “Lumumba”, secretário provincial do Partido de Renovação Social (PRS), no Huambo, é da opinião de que estas verbas deveriam ser investidas no setor agrícola: “Para evitar a vergonha dos nossos irmãos, que estão a morrer no sul de Angola, no centro e em todo país por causa da fome, devia investir-se na agricultura”.

Dinheiro pode ser menos que o esperado

Apesar de vários economistas e analistas apontarem o impacto positivo do aumento do preço do petróleo nas contas públicas de Angola, a ministra das Finanças, Vera Daves, já deixou um alerta: “O preço atual obriga Angola a pagar mais aos seus credores internacionais”.

Em causa, explicou, “acordos que determinam pagamentos mais altos com o aumento do preço do barril de petróleo”.

Respondendo aos deputados no Parlamento, na semana passada, a ministra sublinhou que a “almofada financeira” que se esperava com a subida do preço será, por isso, menor do que se esperava.

 

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