Angola: Rede de burladores usa “cartões multicaixas” alugados

Aluguer de cartões multicaixas facilita teia de transferências fraudulentas da rede de burladores. Método tem dificultado rastrear passos de criminosos e recuperar dinheiro dos lesados, de acordo com o Serviço de Investigação Criminal (SIC).

A rede de burladores espalhada pelo país, cuja actuação é verificada principalmente nas redes sociais, tem usado cartões multicaixas alugados no valor de 20 a 30 mil kwanzas a detentores de contas bancárias com pouca ou sem movimentação. Manuel Halaiwa, porta-voz do SIC, explica ao Valor Económico que membros da rede têm como preferência “pessoas desempregadas e sem renda” que dispõem do cartão multicaixa mas encontram-se impossibilitados de usar com regularidade a conta bancária. Os alvos são maioritariamente residentes em Benguela, Malanje, Cunene e Luanda.

“Entregam com perspectiva que vão receber dinheiro em troca. Em alguns casos uns recebem 20 a 30 mil kwanzas e, noutros casos as pessoas ficam à espera que vão receber os seus cartões com a recompensa em dinheiro, muitas vezes acabam não vendo mais os cartões”, explica, salientando que os detentores dos cartões não sabem que as suas contas “são usadas para fins inconfessos.”

O método usado tem dificultado em certos casos a identificar os responsáveis pelas burlas visto que criam uma “teia de transferências”, ou seja, transferem a várias contas de proprietários de cartões sem que estes saibam. Manuel avança que existem casos em que um único burlador pode ter 30 contas pela qual passa o dinheiro. No entanto, refere que a acção é facilitada pela vulnerabilidade do sistema bancário.

“Os bancos também são surpreendidos quando o SIC está a investigar um caso. Vamos a conta e encontramos descoberta, mas houve movimentações até a conta ficar negativa”, conta.

A complexidade desencadeada pela teia de transferência dificulta os lesados a recuperarem o dinheiro diante dos bancos.  “Muitas vezes é difícil restituir às vítimas porque mesmo que o criminoso venha a ser detido fica impossibilitado de devolver o dinheiro, não se consegue chegar a todas as contas de uma única vez”, esclarece o porta-voz do SIC, explicando que, quando averiguado se nota que a conta nem está em nome do burlador ou ainda os cartões foram destruídos. “Fica difícil saber onde estão os dinheiros, eles fazem uma teia de distribuição de dinheiro, os proprietários também ficam sem saber que as contas estão a movimentar.”

Entretanto, o SIC espera que o Ministério Público responda no “relâmpago da necessidade investigativa” tendo em conta que a colaboração dos bancos no acesso às contas requer mandato. Por outro lado, apela os cidadãos a não cair na prática de aluguer de cartões.

Burladores vão sendo detidos 

Os principais cabecilhas da acção criminosa têm como base Luanda. O SIC garante que já houve detenção de várias pessoas. A mais recente foi a do arquitecto da rede na Huíla, foi preciso um ano de caça ao homem. Desfalcou mais de 60 milhões de kwanzas as vítimas.

 

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