Angola: Sonangol deve “mais de mil milhões dólares” a empresas estrangeiras

O Estado angolano acumulou cerca de mil milhões de dólares em dívidas a companhias petrolíferas ocidentais que operam nos seus campos de exploração de petróleo, o que levou à decisão recente de leiloar parte da sua participação em campos off-shore, revela a agência Reuters que cita três fontes ligadas à indústria, mas que não foram identificadas. Fontes bem informadas indicam que o leilão de 14 de Junho deve-se à falta de pagamento de contas para manutençāo desses campos petrolíferos.

A magnitude da dívida, acumulada ao longo dos anos, é um sinal do aprofundar das dificuldades financeiras da companhia estatal Sonangol, uma das maiores de África, devido a sub-investimentos em campos off-shore em declínio, situação que piorou devido à Covid 19.

As fontes citadas pela agência disseram que o leilão anunciado a 14 de Junho deveu-se à falta de pagamento de contas a que a companhia estava contratualmente obrigada para manutenção desses campos petrolíferos, algo que nāo tinha sido anteriormente anunciado.

“A Sonangol nāo tem sido capaz de cumprir os seus requisitos financeiros em alguns dos blocos que mais necessitam de investimento”, disse uma fonte bancária nāo identificada pela Reuters, acrescentando que, em alguns casos, companhias internacionais tinham levado a parte angolana da produção em vez do dinheiro devido.

“As companhias internacionais têm sido muito tolerantes…declarar incumprimento colocaria a Sonangol numa posição de nāo poder votar (num consórcio determinado) e quando isso envolve um país anfitrião é uma situação muito delicada”, esclareceu a mesma fonte.

O Ministério dos Recursos Minerais de Angola nāo respondeu a um pedido da Reuters para comentar estas denúncias.

A Sonangol ofereceu participações em oito campos, incluindo 10% dos 45% no gigante Bloco 31, que é operado pela BP Plc, e 10% no bloco 15/06, operado pela Eni.

Estas vendas poderiam angariar pelo menos 2.000 milhões de dólares, disseram as fontes industriais citadas pela Reuters.

Ao abrigo de um acordo de comparticipação de produção (PSA, nas siglas em inglês), os participantes têm que pagar à companhia que opera o campo para cobrir custos de manutenção e expansão da produção.

O país anfitrião pode escolher pagar em dinheiro ou em barris de petróleo.

As companhias Eni, BP, ExxonMobil e TotalEnergies que operam juntamente com a Sonangol recusaram-se a comentar as informações referidas pelas fontes da Reuters.

A agência de notícias acrescentou que a falta de pagamento por parte da Sonangol tinha ocorrido ocasionalmente desde 2014, mas a situação deteriorou-se “dramaticamente” devido à pandemia da Covid-19, o que “acelerou o processo de desinvestimento nesses blocos”.

A fonte bancária citada pela Reuters disse que as quantias em incumprimento de pagamentos e juros provavelmente ascendem a mais de 1.000 milhões de dólares, “embora nāo seja claro” o montante total.

No entanto, a mesma fonte fez notar que a subida dos preços do petróleo irá melhorar as perspectivas financeiras da companhia.

“A Sonangol, há algum tempo, que nāo faz pagamentos em cash, disse uma fonte de uma companhia petrolífera e acrescentou que as dívidas em apenas um dos oito campos petrolíferos em que a Sonangol oferece comparticipação ascendem a mais de 100 milhões de dólares.

Uma análise da Reuters aos resultados anuais da Sonangol indicou que as actividades petrolíferas em 2019 não deram lucro devido aos milhares de milhões de dólares em dívidas.

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