Angola: Um ano do programa Kwenda: futuro das famílias angolanas beneficiadas é incerto

O programa de transferências monetárias em Angola, Kwenda, já na primeira fase de expansão, projectado para ajudar 62.935 agregados familiares em situação de extrema pobreza na província de Benguela, está a ser questionado por agentes comunitários preocupados com o futuro de cidadãos que perdem a assistência financeira um ano depois do arranque.

Dois dos 10 municípios de Benguela, designadamente Ganda e Chongoroi, estão prestes a receber o ‘’Kwenda’’, numa altura em que o elevado custo de vida dá lugar a protestos, juntando-se aos cinco de outras províncias que fizeram a experiência piloto desta iniciativa presidencial.

Situados a 156 e 201 quilómetros da cidade de Benguela, Chongoroi e Ganda estão já a mobilizar e a formar jovens que trabalharão com as comunidades beneficiárias, identificadas mediante um critério que aponta para a inexistência total de serviços básicos.

O chefe de departamento executivo provincial do Fundo de Apoio Social (FAS), Fernando Rodrigues Cristóvão, lembra que o Kwenda’ abarca igualmente a componente inclusão produtiva, para lá dois 8.500.00 kwanzas mensais previstos para cada agregado familiar.

’’Temos famílias em situação de extrema pobreza, sem o que comer e às vezes mesmo com dificuldades para manter o agregado. Mas tem a componente da inclusão produtiva, que vai dar outros benefícios a famílias com capacidade’’, diz Cistóvão, lembrando que é “após a fase das transferências sociais monetárias, que tem apenas um ano’’.

O programa, co-financiado pelo Banco Mundial e Governo angolano, num total de 420 milhões de dólares, não é apenas relativo a transferências monetárias.

Esta situação alimenta a crítica do evangelista da Igreja Católica João Guerra, com uma vasta experiência em programas comunitários.

‘’A iniciativa não é má, mas peca primeiro no valor, que não dá sequer para um saco de arroz. Segundo, se não continua … isto é para pintar o olho do cidadão, porque a fome não é só para um ano’’, alerta Guerra.

“Se calhar o pouco até serviria, mas se é apenas um acto, e não um processo era melhor não dar o rebuçado ao cidadão, ele não vai continuar a chupar”, conclui.

O consultor social João Misselo da Silva, quadro da Organização Humanitária Internacional, teme que o Kwenda’ seja mais um programa sem efeitos práticos, pelo que sugere um debate alargado entre o Governo, sociedade civil e financiadores internacionais.

“Para reflectir se eventualmente tem estratégia de sustentabilidade, temos de adoptar outro modelo, com reflexos sociais e económicos na vida dos vulneráveis. Não pode ser mais um daqueles que vemos’’, sugere aquele consultor.

As autoridades angolanas esperam apoiar um milhão 608 mil famílias até 2022.

Texto da VOA

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