Angola: Um Novo Céu e Uma Nova Terra “A Necessidade de Uma Nova Ordem em Angola”

A fé e a visão Cristã é focada no amor de Jesus Cristo e tem como prioridade urgente o estabelecimento de uma nova ordem espiritual e material na vida e comportamento humano como indivíduo e colectivo aqui na terra.

Para sua efectivação, ela é assumida com responsabilidade e ética política e social, cuja missão não é fazer com que as coisas sejam muito fáceis e demasiado confortáveis para uns e muito difíceis e extremamente desconfortáveis para os outros. O objectivo da fé e visão cristã inspirado e guiado pelo amor e vontade de Deus é fazer com que as coisas sejam fáceis, confortáveis, boas e melhores para todos, sem excepção. Somos de diferentes tribos, línguas, raças, religiões, tamanhos e formas, mas a nossa existência humana está intrinsecamente ligada nesta soberana vontade do amor de Deus mesmo que alguns acreditam serem originários e descendentes de macacos.

Pensar fazer as coisas muito fáceis e confortáveis para uns poucos traduziu-se em 45 anos de atitudes e práticas sistémicas de discriminação, intolerância, exclusão, eliminação dos diferentes, impunidade, gatunice, negócios de extorsão, empobrecimento e miséria da grande maioria dos autóctones e sua intencional incapacitação como forma de subserviência e subjugação neocolonialista. Os programas populistas assistencialistas de “esmolas” nunca promoveram capacidades de resiliência nem oportunidades de desenvolvimento para os empobrecidos e milhares de jovens abandonados no desemprego, analfabetismo, fome, indigência, desespero e frustração. Fazer as coisas muito fáceis e confortáveis para uns, significou a imposição de soluções paliativas e de bálsamo sem sustentabilidade duradoiras para os problemas políticos, económicos e sociais que “cancerosamente” enfermam a sociedade Angolana.

Por outro lado, “Corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”, exige visão, imaginação, coragem, fé, descomplexo, humildade e convicção de aceitar e admitir que a velha ordem política, económica e social já não serve os novos tempos e muito menos as novas e futuras gerações. Na verdade, nunca serviu a nação, senão uma minoria egoísta e gananciosa. É uma demência e ilusão política acreditar que a antiga ordem política e governativa e os seus actores, que religiosa e violentamente promoveram a discriminação, exclusão e intolerância contra os outros Angolanos converteram-se em pessoas do bem de um dia para o outro. Fazer melhor as coisas exige mudanças de mentalidades, consciência, do coração, conversão e assunção de novas convicções, que produzem resultados mensuráveis do melhoramento das condições de vida da maioria da população e não da minoria “auto-privilegiada e desmedidamente ambiciosa”. Fazer melhor as coisas é muito mais que efectuar manipulações e campanhas de sobrevivência política e “para o inglês ver”, mas sim, uma necessidade para humanização e dignidade de todos os Angolanos.

Fazer melhor as coisas ou corrigir o que está mal, não se compadece com discursos de promessas populistas e assinaturas de centenas de decretos que centralizam e absolutizam cada vez mais o poder da governação em uma só pessoa ou grupinho de “iluminados”, mas sim ter a humildade, honestidade e coragem patriótica de desconstruir a velha ordem com uma revisão pontual da constituição e reforma radical do estado. Fazer melhor as coisas ou corrigir o que está mal, não podem ser manobras de conveniência e de sobrevivência política partidária, mas de uma transformação profunda substantiva e qualitativa das estruturas políticas e governação para que sirvam todos os cidadãos e não simplesmente militantes de um partido político. Angola precisa de ser construída como Estado-Nação e não Estado-Partido. O velho modus operandi serviu e muito bem tudo o que está mal.

Fazer melhor as coisas deve abrir as portas ao surgimento de uma nova forma de crer, pensar e agir politicamente para com o outrem. Estou ciente que, no contexto da nossa história política e religiosa, isto não é fácil, mas também não é impossível. Exige grandes riscos e sacrifícios de todos os envolvidos, em particular daqueles que resistirão com todas as suas forças e violência ao seu dispor ao surgimento da nova ordem por serem os únicos beneficiados da velha ordem. Com certeza surgirão opositores e mesmo inimigos, assim como oportunistas em ambos os casos. Nicolau Maquiavel, o pai da filosofia do “poder político” escreveu o seguinte sobre as dificuldades para estabelecer-se uma nova ordem:

“Deve-se considerar que não há nada mais difícil de realizar, nem mais duvidoso de sucesso, nem mais perigoso de manejar, do que iniciar uma nova ordem das coisas. Pois o reformador tem inimigos em todos aqueles que lucram com a “velha” ordem, e apenas defensores mornos em todos aqueles que lucram com a nova ordem; essa mornidão decorrente em parte do medo dos seus adversários, que têm as leis a seu favor, e em parte pela incredulidade da humanidade que não acredita verdadeiramente em nada de novo até que tenha tido a experiência real disso.”

O estabelecimento de uma ordem política, económica e social alicerçada no respeito pelas diferenças, tolerância, inclusão, diálogo, justiça, transparência e honestidade é uma necessidade e exigência da fé e visão cristã e acima de tudo da vontade soberana do amor e justiça de Deus para toda humanidade. Infelizmente, esta é uma linguagem que em Angola temos de falar com muita cautela, mas com toda coragem, tendo em consideração as suas consequências de distorção, manipulações, intolerância, exclusão, represálias, violência e eliminação física. O apóstolo João, exilado na ilha de Patmos teve a visão de um novo céu e uma nova terra. A fé e visão cristã afirma e confirma que a vontade Deus “seja feita aqui na Terra assim como está no Céu.”

É muito doloroso e triste assistirmos aqueles que reclamam serem os melhores cristãos, verdadeiras igrejas, totalmente surdas e mudas, e despreocupados com o sofrimento e dor do povo que come dos tambores de lixo e aterros sanitários, crianças que morrem de fome e total miséria de pessoas que são membros destas igrejas. Afinal, qual é a utilidade da Igreja de Jesus Cristo aqui na terra, não é ser luz do Mundo e Sal da Terra?

Em Marcos 1:15 Jesus Cristo declarou: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependam-se e creiam no evangelho.” No esforço de se “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem” duas coisas importantes devem acontecer:

  • 1) Arrependimento dos erros e desvios cometidos na velha ordem e
  • 2. Acreditar na possibilidade “inevitável” do surgimento de uma nova ordem política, económica e social diferente à do passado.

O anúncio de Jesus Cristo é a afirmação da nova ordem e visão de Deus para o mundo; é o surgimento de uma coisa nova e melhor de Deus para humanidade, para os angolanos. O reino de Deus está “consumado e próximo” porque Jesus proclamou a sua urgência “arrependei-vos e creiam” e ele próprio morreu na cruz e ressuscitou para o seu estabelecimento em nós para nunca mais sermos escravos, subjugados e neocolonizados.

No contexto presente de Angola a Igreja de Jesus Cristo não tem nenhuma outra opção, não tem escolha, nem mesmo de ficar calada, muda e surda, senão crer e pregar esta visão do Salvador e do seu reino consumado entre nós. Felizmente existe um preço a pagar e nem todos que falam em nome de Jesus Cristo estão dispostos a pagar o preço.

“Corrigir o que está mal e melhorar o que está bem” não pode ser aceite como uma manipulação e campanha partidária de auto-preservação e perpetuação do poder político usurpado a qualquer preço. A crença de que “O fim justifica o meio” já não pode ser aceite como a forma “civilizada” da usurpação, manutenção, perpetuação e dominação política. “Corrigir o que está mal e melhorar o que está bem” é a oportunidade da construção de uma nação verdadeiramente alicerçada em uma nova ordem política, social e económica que respeita a diferença inclusiva, tolerante, justa, transparente e honesta de todos e para todos os Angolanos.

Pastor Elias Mateus Isaac

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