O Maior partido da oposição em Angola, a UNITA, pretende monitorar em tempo real os resultados das eleições gerais de 24 de agosto. Oposição acredita que poderá vencer se o escrutínio for justo e transparente.
A União Total para a Independência de Angola (UNITA) está a preparar um centro de escrutínio para fazer a contagem paralela dos votos das eleições gerais.
Segundo Alcino Kuvalela, dirigente do partido e porta-voz da campanha eleitoral da Frente Patriótica Unida – plataforma eleitoral que integra a UNITA, o Bloco Democrático e o projeto político PRA-JA Servir Angola – estão a ser criadas todas as condições técnicas e humanas para monitorar os resultados em tempo real.
Os delegados das listas nas mesas das assembleias de voto serão indispensáveis, explica Kuvalela. “Os delegados têm direito a ter as atas sínteses das mesas das assembleias” e, com base nesses dados, o Centro de Escrutínio Paralelo poderá verificar “se há convergência” dos seus resultados com os da Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
“Onde houver insegurança e incerteza nos resultados, teremos capacidade de provar por A+B através deste centro de escrutínio.”
Receio de fraude
Esta não é primeira vez que a oposição angolana fala em contagem paralela dos votos.
A UNITA disse ter monitorado as últimas eleições, em 2017, mas os resultados não chegaram a ser divulgados, apesar de o partido ter considerado o escrutínio fraudulento.
Este ano, a oposição já se queixou várias vezes da forma como o processo eleitoral está a decorrer. Questionou a credibilidade do registo eleitoral oficioso e pediu mais transparência na organização das eleições.
Sobre o dia da votação, em agosto, a UNITA entende que – mesmo detetando indícios de fraude – o processo poderá ser convertido, desde que haja condições de voto para todos os eleitores registados.
“Estamos a mobilizar o povo para todos irem votar, porque, no final, o que conta é o voto debitado na urna e a confirmação através dos delegados de listas dos partidos concorrentes, que vai certificar o resultado final das eleições”, diz Alcino Kuvalela.
Iniciativa ilegal?
Ao que a DW África apurou, o Centro de Escrutínio Paralelo deverá funcionar no Complexo do Sovsmo, sede da UNITA em Luanda, e será apoiado por consultores israelitas com experiência em monitoria eleitoral.
Sobre estes dados, o porta-voz da Frente Patriótica Unida não se quis pronunciar.
Para o coordenador da organização não-governamental Projeto Agir, Fernando Sakuayela, não há qualquer ilegalidade na iniciativa da UNITA. Mas “isto demonstra bem o clima de desconfiança em que decorrem as eleições”.
O ativista espera que, desta vez, os resultados da contagem paralela sejam tornados públicos para comparar com os resultados oficiais e esclarecer eventuais irregularidades.
“Tivemos esta experiência em 2017. A UNITA não chegou a apresentar os resultados da sua contagem, eventualmente condicionada por algumas razões. Esperamos que estas razões não venham a estar presentes no atual momento”, comenta Fernando Sakuayela.
Eleições justas e transparentes
O porta-voz da campanha eleitoral da Frente Patriótica Unida acredita que, com a contagem paralela, as eleições poderão ser verdadeiramente justas e transparentes.
Se isso acontecer, segundo Alcino Kuvalela, poderá haver uma reviravolta política em Angola daqui a menos de três meses.
“Hoje em dia, a Frente Patriótica Unida (FPU) engaja não só os partidos subscritores e alguns membros da sociedade civil, mas também membros de alto destaque do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder], que subscrevem a Frente Patriótica Unida (FPU). Isso dá-nos força e [confiança de que], no dia 24 de agosto, haverá uma surpresa neste país.”
Os votos escrutinados pela oposição deverão ser divulgados depois de a Comissão Nacional Eleitoral publicar os resultados oficiais das eleições gerais.