A UNITA, oposição angolana, diz constatar “com preocupação” alguma “tendência de radicalização” do discurso por parte de “altas figuras do Estado angolano e do partido governante”, com um tom “intimidatório e de arrogância” em vez de diálogo e concertação permanentes.
Segundo o secretário-geral da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Álvaro Chicuamanga, os referidos discursos “escondem fraquezas das instituições públicas e de algumas individualidades na gestão e abordagem de situações complexas e clima de crispação”.
“É do domínio geral que as populações angolanas vivem situações económicas e sociais dramáticas e precárias. Falta de tudo um pouco aos cidadãos, sobretudo os das camadas mais pobres”, afirmou hoje o político da UNITA, em Luanda.
Para Chicuamanga, que falava em conferência de imprensa, os diretos económicos e sociais dos cidadãos “estão bloqueados” devido à existência da fome, falta de água potável, energia elétrica e vias de acesso”.
O “poder de compra baixou, os medicamentos estão caríssimos, numa altura em que as doenças tropicais se multiplicam, sem controlo à vista, o emprego escasseia cada dia, porque as empresas vão falindo todos os dias”, apontou.
A tendência de “subida do discurso acusatório/inflamatório” em pleno período de pré campanha eleitoral e a forma como decorre o registo eleitoral oficioso constituíram os dois eixos da comunicação do secretário-geral da UNITA.
O político da UNITA, maior partido na oposição angolana, criticou também os “sérios problemas de mobilidade” que se regista em Luanda considerando que o Estado “não conseguiu resolver o problema dos transportes públicos”.
“Não há direito ao contraditório. A televisão pública ocupa espaços privilegiados com comentadores e analistas que só beneficiam o partido governante. Atacam e expõem os ativistas, a juventude contestatária e os partidos na oposição condenam-nos publicamente (…)”, atirou.
A comunicação social “tornou-se um instrumento de ativismo político a favor exclusivo do partido governante”.
“São esses problemas que o Governo deve encarar com coragem e não passar de lado e optar por construir bodes expiatórios. As prisões arbitrárias dos jovens ativistas não resolvem o problema, porque as causas das suas manifestações não foram devidamente abordadas”, notou.
Álvaro Chicuamanga defendeu igualmente que o executivo “não deve olhar para a preocupação dos cidadãos de ânimo leve e nem deve culpabilizar terceiros pelas falhas das suas políticas e nem optar por criar um clima de medo como forma de limitar as liberdades”.
“Isso não resolve o problema, antes pelo contrário, agrava a tensão social”, observou, defendendo “diálogo e concertação permanentes entre os cidadãos e aqueles que hoje têm a responsabilidade de nos governar”.
Em relação ao registo eleitoral oficioso, que em Angola teve início em setembro passado e no exterior este mês de janeiro de 2022, com vista às eleições gerais de agosto próximo, foram apontadas “várias debilidades e morosidade” no processo.
Incrementar e apoiar a campanha de sensibilização sobre o registo eleitoral oficioso, melhorar e diversificar os meios e métodos de educação cívica para o voto e melhor acompanhamento aos funcionários dos Balcões Único de Atendimento foram algumas recomendações do político da UNITA.