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Angolanos em Portugal acusam Luanda de usar a COVID-19 para silenciar protestos

A Plataforma de Reflexão Angola (PRA), uma associação da diáspora angolana em Portugal, exige a libertação dos manifestantes detidos no passado sábado em Luanda e acusa o Governo de usar a covid-19 para “condicionar” a Constituição.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da PRA, Manuel Dias dos Santos, acusou o Governo angolano de “engendrar uma manobra política” com o Decreto Presidencial do estado de calamidade pública, para evitar a “grave ameaça” de propagação e contaminação de covid-19.

A manifestação “foi devidamente preparada e tudo foi acautelado”, disse Manuel Dias dos Santos, classificando a ameaça de propagação do novo coronavírus como uma desculpa.

“A covid-19 não pode condicionar o que é a lei mãe do país – a Constituição”, afirmou, acrescentando: “As alegadas preocupações com a saúde e com a infeção não existiram na forma como os manifestantes foram detidos, nem como estão a ser julgados, ao monte e, mesmo com máscaras, sem o distanciamento necessário”.

Para a PRA, “nada foi por acaso”.

“Infelizmente, esse tipo de comportamentos do Governo é uma prática”, disse Manuel Dias dos Santos, classificando de “incompreensível” o uso de armas de fogo.

“O Estado angolano tem das melhores polícias para atuar em atos que considere violentos. O uso de armas de fogo pressupõe o risco de atos que levem ao descontrolo e perdas de vidas humanas”, disse.

As acusações estendem-se ainda à detenção de menores, que “deveriam ter sido imediatamente soltos”, e de alguns cidadãos que, na visão da PRA, apenas se limitavam a observar os acontecimentos.

Em relação à manifestação marcada para Angola a 11 de novembro, data da independência do país, Manuel Dias dos Santos acredita que a mesma “vai mesmo acontecer, independentemente dos decretos que o governo faça”.

“Angola e quem a governa não acompanhou a dinâmica da mudança geracional que ocorreu no país. A maioria das pessoas que participaram na manifestação de sábado em Luanda nasceu nos últimos anos da guerra ou quando a guerra terminou, em 2003. Estão na pujança na vida e viveram um conjunto de promessas da parte dos governantes que não viram concretizadas”, referiu.

Esta juventude, acrescentou, “ainda aguarda o seu futuro. Vive sem água potável, sem saneamento básico, sem eletricidade, nos arredores, sem conseguir prosseguir os estudos. E a nova governação não se pode justificar com o passado, porque o partido é e sempre foi o mesmo”.

“É um claro grito de rutura com uma geração cansada que lhe apresentem becos sem saída”,

Na sequência dos acontecimentos de sábado, um grupo de 103 manifestantes foi detido e decorre desde segunda-feira o seu julgamento, no Tribunal Provincial de Luanda.

A manifestação foi convocada pela sociedade civil para reivindicar melhores condições de vida, mais emprego e a realização das primeiras eleições autárquicas no país, tendo contado com a participação de dirigentes e militantes da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola, maior partido da oposição).

A polícia reprimiu o protesto, tendo-se verificado confrontos, que resultaram em 103 detenções, ferimentos de polícias, e de manifestantes em números não revelados, além da destruição de meios das forças da ordem.

Segundo os manifestantes, duas pessoas morreram “baleadas” durante os confrontos.

Os protestos ficaram marcados também pelo arremessar de pedras, colocação de barricadas na estrada com contentores de lixo e pneus a arder pelos manifestantes.

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