Metade de manifestantes detidos em Angola foram ouvidos e mais três menores libertados

Metade dos cem manifestantes detidos no sábado em Luanda já foram ouvidos e três menores foram libertados, segundo um dos advogados do processo, que adiantou que o julgamento deve prosseguir na sexta-feira num local com melhores condições sanitárias.

Em declarações à Lusa, Zola Bambi disse que foram ouvidos até agora 51 dos mais de cem detidos e que o juiz do Tribunal Provincial de Luanda aceitou o requerimento interposto pela defesa pedindo a libertação de três menores (um rapaz e uma rapariga de 17 anos e um rapaz de 16).

Os jovens ficaram com termo de identidade e residência.

Foi também libertada uma manifestante de 47 anos que tinha deixado em casa quatro filhos menores, que estavam aos cuidados da filha mais velha, de 12 anos.

O advogado adiantou que as salas do tribunal foram novamente desinfetadas, mas sublinhou que, apesar dos esforços, o edifício continua sem condições para a audição dos arguidos, entre os quais foi identificado um caso positivo de covid-19.

“Desde o início que não há condições e não se respeitam os regulamentos relativos às questões de biossegurança. A partir de amanhã [sexta-feira] é provável que se encontre uma nova sala para que haja condições de garantir a barreira sanitária”, sublinhou.

“Há luz verde, só falta dizerem-nos o local”, adiantou.

Questionado sobre se foram identificados novos casos de covid-19 entre os manifestantes, Zola Bambi indicou que “nem a polícia, nem o tribunal tocaram no tema”, apesar de os detidos terem estado “misturados” e em celas exíguas.

O advogado espera que em breve sejam também transferidos para um espaço maior, depois de várias reclamações.

Segundo os relatos que têm sido transmitidos a Zola Bambi, os manifestantes dormem no chão, não têm água nem condições de manter a sua higiene pessoal nas celas e só comem uma refeição por dia.

Além disso, têm estado “aos 15 e aos 20” em celas com capacidade para oito pessoas.

Hoje o ambiente foi de acalmia junto ao palácio D. Ana Joaquina, depois de três dias de protestos em frente ao tribunal, onde na segunda-feira começou o julgamento dos 103 manifestantes detidos no sábado, com centenas de apoiantes exigindo a libertação dos seus companheiros.

Após confrontos, desacatos e alguns atos de vandalismo, a polícia angolana proibiu, na quarta-feira, a presença de manifestantes nas proximidades do tribunal.

Os organizadores da marcha de sábado passado convocaram nova manifestação para 11 de novembro, data em que se celebram os 45 anos da Independência de Angola.

O Presidente João Lourenço falou hoje, pela primeira vez, sobre os acontecimentos de sábado, negando a violação de direitos em Angola e dizendo que o direito à manifestação está apenas “condicionado” temporariamente por causa da pandemia.

O chefe de Estado atacou também a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), principal força da oposição, que também aderiu à marcha convocada por movimentos cívicos, considerando que o partido devia assumir “todas as consequências dos seus atos de irresponsabilidade” no possível aumento de casos de covid-19, devido ao envolvimento direto nos protestos.

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