O Anúncio do aumento do preço da gasolina em Angola originou hoje enchentes nos postos de abastecimento em Luanda, com filas intermináveis de viaturas e automobilistas agastados pela espera para abastecer, receando a subida do custo de vida.
“Vim aqui abastecer este carro, já estou há mais de uma hora, não sei qual é o transtorno que está lá à frente, não tem como explicar”, disse à Lusa Domingos João.
Este condutor de uma viatura hospitalar admitiu que a enchente nas bombas de combustível da Sonangol, conhecido posto de abastecimento da Rádio Nacional de Angola, seja reflexo da subida do preço da gasolina.
“Acredito que sim, acho que todo mundo agora está preocupado em encher os depósitos para que amanhã possam ter a reserva, deve ser isso”, apontou.
O cenário foi constatado pela Lusa ao fim da tarde de hoje na Avenida Comandante Gika, bairro Alvalade, centro da capital angolana, onde o desfile de viaturas, com automobilistas ávidos em encher os depósitos, serpenteava grande parte da extensão do asfalto.
A presença de viaturas neste perímetro condiciona a circulação do trânsito em ambas as faixas de rodagem, sendo que havia, inclusive, motoristas que ali estavam há mais de uma hora na expectativa de obter uma reserva de combustível para fazer face aos dias seguintes.
O Governo angolano anunciou a retirada gradual de subsídios à gasolina, que vai passar dos atuais 160 kwanzas (0,25 euros) para 300 kwanzas (0,48 euros)/litro, mantendo a subvenção ao setor agrícola e à pesca.
De acordo com o ministro de Estado para a Coordenação Económica, Manuel Nunes Júnior, as tarifas dos taxistas e mototaxistas vão ser subvencionadas, continuando a pagar 160 kwanzas pelo litro de gasolina, cobrindo o Estado a diferença.
A medida entre em vigor à 01:00 locais (mesmo hora de Lisboa) de sexta-feira.
Questionado sobre as vantagens ou desvantagens da medida anunciada, Domingos João disse ser uma avaliação difícil, contestando, no entanto, a decisão das autoridades, por “não estar muito de acordo”.
“É preocupante sim, porque também vou usar os táxis e não sei como vai ser”, atirou.
Preocupado com decisão das autoridades angolanas também está o automobilista António Marcelino, acreditando mesmo que a decisão deve concorrer para a subida dos principais produtos da cesta básica.
A bordo de uma viatura topo de gama, Marcelino disse que gasta 25.000 kwanzas (40 euros) e que doravante deverá duplicar os gastos, situação que o vai obrigar a refazer cálculos para decidir entre colocar comida em casa ou abastecer o depósito do carro.
“Tem desvantagens (a medida), espero que o Governo dê mais um pouquinho de tempo até equilibrar mais ou menos as coisas para depois fazer a subida do combustível, porque vai também salário que não está a chegar, vai combustível, a alimentação”, apontou.
O automobilista lamentou também o elevado tempo de espera na longa fila em direção ao posto de abastecimento, onde aguarda há quase uma hora, tendo ainda vaticinado especulação no preço da corrida de táxi (fixado atualmente em 150 kwanzas [0,24 euros]) para 200 kwanzas (0,32 euros).
“Porque, talvez agora passarão a cobrar 200 kwanzas pela corrida e vai complicar muitas coisas, porque aqui no nosso país quando os combustíveis sobem a tendência das coisas também é de subir e quem sofre aqui é sempre o cidadão”, rematou.
Manuel Nunes Júnior disse ainda que a subvenção aos derivados de petróleo tem criado grandes problemas não só à Sonangol, petrolífera estatal, mas também às finanças públicas.
Em 2022, a subvenção aos preços dos combustíveis ascendeu a cerca de 1,98 biliões de kwanzas, o correspondente ao câmbio atual a 3,8 mil milhões de dólares (3,5 mil milhões de euros).
O Governo angolano vai liberalizar os preços dos combustíveis, de forma faseada, até 2025, começando pela remoção parcial dos subsídios à gasolina, cujo preço será “livre e flutuante” já no próximo ano, anunciaram as autoridades.