Bielorrússia: “Vitaly Shishov não foi o único. Os opositores de Lukashenko que acabaram mortos”

Jornalistas, opositores e ex-ministros. O regime do Presidente Lukashenko é acusado de perseguir e assassinar dissentes políticos. Líder da oposição teme “desaparecer a qualquer momento”.

A atleta olímpica que foi obrigada a voltar para casa e a morte de um dos principais opositores de Alexander Lukashenko recolocou a questão dos direitos humanos da Bielorrússia na ordem do dia. O regime do atual Presidente do país é acusado de eliminar os dissidentes políticos e a principal líder da oposição, Sviatlana Tsikhanouskaya, que se encontrou esta terça-feira com Boris Johnson, admitiu que “podia desaparecer a qualquer momento”. 

No longo mandato de Alexander Lukashenko (que está no poder desde 1994)vários opositores políticos acabaram por perder a vida em circunstâncias suspeitas, idênticas às que envolvem a morte de Vitaly Shishov, que as autoridades ucranianas encontram esta terça-feira enforcado numa árvore de um parque de Kiev.

Um desses opositores foi o jornalista Pavel Sheremet, que se dedicava a denunciar a opressão do regime bielorrusso. Foi morto na capital ucraniana na sequência da explosão de um carro bomba, em julho de 2016, conta a BBC. Antes disso, em 1997, já tinha sido preso, tendo sido posteriormente libertado, mas acabou espancado em 2004. Emigrou depois para a Rússia, onde se tornou um dos principais repórteres dos canais televisivos de Moscovo, antes de ser assassinado.

A sua morte foi vista como um “crime hediondo”, de acordo com a Amnistia Internacional, e um “ataque vil à liberdade de expressão”. Pavel Sheremet trabalhava para o jornal digital Ukrayinska Pravda, que denunciava a corrupção não só na Bielorrússia, como também na Rússia. Aliás, o jornalista também se tornou persona non grata em Moscovo, após ter criticado publicamente a intervenção russa na Crimeia e no leste da Ucrânia.

“Também há suspeitas de que tenha sido assassinado pelo regime de Lukashenko Oleg Bebenin, fundador do grupo dissidente Charter 97, encontrado enforcado em casa em 2010. As autoridades bielorrussas dizem que se tratou de um suicídio, mas os seus colegas rejeitam este cenário e acusam o regime de ter ordenado a sua morte. Dmitry Bondarenko, também pertencente ao grupo Charter 97, relatou ter visto o cadáver de Bebebin e indicou que havia várias lesões no seu corpo, como um tornozelo partido ou vários arranhões, o que confirma a possibilidade de um assassinato”.

Entre 1999 e 2000, o governo bielorrusso foi também acusado de ter assassinado quatro opositores ao regime. Um deles foi mesmo um dos repórteres de imagem de Pavel Sheremet — Dmytro Zavadsky — assim como Yuri Zakharenko (ex-ministro do Interior), Viktor Gonchar (ex-deputado) e Anatoly Krasovsky (opositor de Lukashenko). Segundo a BBC, num relatório de 2011, os Estados Unidos acusaram Lukashenko de estar “envolvido no assassinato” destes quatro homens, ainda que as autoridades do país do leste europeu continuassem a “rejeitar ter qualquer conexão com os desaparecimentos”.

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