Brasil: Jornalistas angolanos denunciam “aperto” à imprensa em ano pré-eleitoral

Jornalistas angolanos que nos últimos meses têm estado a ser notificados pelos órgãos de justiça debaterem nesta terça-feira, 20, a sua situação a um ano das eleições gerais. Em debate, afirmam que a situação é recorrente, mas consideram que o panorama actual é pior do que no passado

Todos os participantes do projecto Debate da Comunidade dizem que não é um fenómeno novo porque sempre que se avizinham as eleições a imprensa, sobretudo a mais crítica ao regime, sofre com aliciamentos, processos judiciais e encerramentos de órgãos de comunicação, entre outras formas de coação.

Há quem considera que a situação é agora ainda pior.

Vários são os jornalistas que nos últimos meses têm feito morada na Procuradoria-Geral da República (PGR) ou no Serviço de Investigação Criminal (SIC) para responderam a acusações de difamação no exercício da atividade jornalística, entre eles Mariano Brás, Lucas Pedro, Coque Mukuta e Escrivão José, entre outros.

Francisco Rasgado, em Benguela, por exemplo, foi preso.

“Sempre nos anos pré-eleitorais acontece isso, já foi assim no consulado de José Eduardo dos Santos, quando havia cães, todo o aparato militar para intimidar as pessoas, sobretudo os jornalistas”, lembrou Luis Pedro, do portal Club-K, para quem o regime do MPLA sempre primou por estas práticas quando se avizinham as eleições.

Escrivão José, do Jornal Hora H, já foi notificado duas vezes este ano para depor e, para ele, “nota-se um certo desespero de quem governa, que vai usando esses artifícios para manter o domínio”.

“Aos jornalistas, aconselho a não ficarem apenas pelo jornalismo, dei o meu exemplo, tive de vender água, abrir recauchutagem porque se dependesse apenas do jornalismo já estaria fechado”, afirmou aquele profissional, enquanto para Guilherme da Paixão, jornalista do MISA-Angola, houve um enorme retrocesso nos últimos anos em termos das liberdades.

“Hoje, os jornalistas recebem ameaças, as suas famílias recebem notificações, regredimos muito, só temos dois semanários, mais de 300 colegas da Vida TV foram para o desemprego, é uma vergonha o que se assiste na tv angolana, o conteúdo da TV Palanca, da Zimbo, da TPA é tudo igual, não há opção de escolha para o cidadão”, lamentou Paixão.

Por seu lado, o especialista em questões políticas e sociais Olívio Kilumbo chamou a atenção para o actual momento em termos das liberdades.

“No tempo do partido único, são dados que estão aí e podem ser partilhados, o momento mais crítico da nossa comunicação foi no período em que o actual Presidente João Lourenço controlava a comunicação do MPLA, então hoje estamos com um actor como PR que é especialista em acções para coartar liberdades”, lembrou Kilumbo, para quem “na situação em que nos encontramos tudo é possível, por isso vemos que o alvo é sobretudo a imprensa alternativa”.

Entretanto, em sentido contrário, o PGR, Hélder Pitta Grós afirmou ontem, em Luanda, à margem da assinatura de um acordo entre Angola e Suiça, que desconhece qualquer caso de perseguição a jornalistas.

“Nunca tive conhecimento disso. Pelo menos a mim nunca chegou a informação ou reclamação de algum jornalista a dizer que está a ser perseguido pela PGR, não tenho conhecimento de nenhum caso”, garantiu.

A 15 de Junho, como a VOA noticiou, sete jornalistas angolanos investigados pela PGR manifestaram-se em frente à sede da instituição em Luanda, contra o que chamam de perseguição por parte da justiça.

 

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