A consultora NKC African Economics melhorou hoje a anterior previsão de recessão em Angola, de 9,3%, antecipando agora uma quebra de 6,4% este ano devido à subida dos preços do petróleo e medidas de apoio orçamental.
“Esperamos uma contração económica de 6,4% em 2020, melhor do que a previsão de 9,3% em julho, motivada pelo aumento dos preços do petróleo face ao esperado em julho, bem como pela melhoria no apoio orçamental e no alívio da dívida”, lê-se num comentário aos números do PIB do segundo trimestre, hoje divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística em Luanda.
“Ainda assim, a economia está a caminho da maior contração económica desde 1993 e continuará em terreno negativo pelo quinto ano consecutivo”, argumentam os analistas na nota enviada aos clientes, e a que a Lusa teve acesso.
“As exportações de petróleo, que continuam a definir a direção do crescimento económico, estiveram muito abaixo da média no primeiro semestre devido à redução da produção e à queda dos preços”, lembram os analistas, vincando que a previsão para este ano aponta para uma produção de 1,3 milhões de barris por dia, abaixo dos 1,29 produzidos no ano passado.
O comentário desta consultora afiliada da Oxford Economics surge umas horas antes de o INE angolano ter feito uma conferência de imprensa para apresentar o relatório sobre a evolução do PIB no segundo trimestre, que já estava disponível no site.
O encontro com os jornalistas foi o primeiro depois da demissão do antigo presidente, que alguns órgãos de comunicação social angolanos atribuem ao facto de o esboço do relatório apontar para uma queda do PIB de 12,7% no segundo trimestre, muito pior que os 4,6% apresentados pelo Governo e também pior do que o relatório divulgado, que aponta para uma queda de 8,8% de abril a junho deste ano em comparação com o período homólogo.
No encontro com os jornalistas, a nova diretora-geral lembrou que a queda do PIB no segundo trimestre face ao período homólogo resulta dos “problemas estruturais” da economia angolana, “e que foram agravados pelo impacto da pandemia de covid-19”.
Channey Rosa John alertou ainda que “a pandemia não vai terminar agora” e concluiu que “estão a ser tomadas medidas para ver o que se consegue fazer” para alcançar “uma economia saudável e restaurada”.
Durante a conferência de imprensa, a direção do INE foi também questionada sobre o impacto de uma queda de 8,8% no segundo trimestre, que se junta à variação negativa de 0,5% nos primeiros três meses deste ano, que por sua vez surge na sequência de quatro anos de crescimento anual negativo.
“O mundo em geral está a passar por um momento muito difícil, o Fundo Monetário Internacional [FMI] aponta para uma quebra acima de 4%, e Angola não é um país isolado, essas questão afetam significativamente o país, sendo que Angola não foi só afetada pela pandemia, já vinha experimentando recessões ao longo dos últimos quatro anos, que foram agravadas com a situação da pandemia”, disse a diretora adjunta do departamento económico.
De seguida, acrescentou: “O INE faz inferência estatística, não define a política macroeconómica, apresenta a fotografia do ponto de vista da caracterização, para ajudar os decisores de política macroeconómica a tomarem decisões coerentes, consistentes e que certamente vão impactar a vida de todos nós. O que o INE deve fazer para ajudar a tomar essas decisões é entregar e colocar à disposição dados estatísticos fiáveis e credíveis que vão permitir a tomada de decisões de política macroeconómica”.
África registou nas últimas 24 horas mais 117 mortos devido à covid-19, num total de 41.262 óbitos, e o número de infetados subiu para 1.716.864, segundo os dados mais recentes da pandemia no continente.
De acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), nos 55 Estados-membros da organização houve mais 9.123 infetados e o número de recuperados subiu 7.290 nas últimas 24 horas, para um total de 1.406.528.
Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, Angola lidera em número de mortos e Moçambique em número de casos.
Angola regista 268 óbitos e 9.381 casos, seguindo-se Cabo Verde (94 mortos e 8.396 casos), Moçambique (86 mortos e 11.986 casos), Guiné Equatorial (83 mortos e 5.079 casos), Guiné-Bissau (41 mortos e 2.403 casos) e São Tomé e Príncipe (15 mortos e 935 casos).
O primeiro caso de covid-19 em África surgiu no Egito, em 14 de fevereiro, e a Nigéria foi o primeiro país da África subsaariana a registar casos de infeção, em 28 de fevereiro.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e quase 42,7 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.