O PR de Cabo Verde está em Angola. Hoje houve conversações oficiais e um discurso no Parlamento. Porém, o momento mais marcante até agora foi o elogio de Neves: “Angola um exemplo de uma África não submissa”.
A conversação oficial entre as duas delegações foi um dos pontos mais altos da visita a Angola de José Maria Neves, Presidente de Cabo Verde, ao meio da manhã desta segunda-feira (10.01). Na ocasião, João Lourenço, Presidente angolano, disse que o “céu é o limite” no que toca às relações bilaterais entre os dois Estados.
“Nós pretendemos elevar as nossas relações de amizade e de cooperação. Por sinal, esta manhã, nas intervenções das duas delegações, ambos os chefes de Estado se referiram à necessidade de trabalharmos juntos para promover a nossa cooperação ao nível estratégico”, disse Lourenço.
O nível estratégico destas relações passará também, em breve, pela ligação aérea entre Luanda e Cidade da Praia, bem como outras capitais da África Ocidental, garantiu o Presidente angolano.
Por seu turno, José Maria Neves não tem dúvidas sobre os resultados da visita: “É para lançarmos definitivamente todos os caminhos que nos vão levar, efetivamente, ao reforço das relações de amizade e de cooperação, porque é nosso desejo que Cabo Verde se transforme numa plataforma de negócios de Angola naquela região da África Ocidental”.
Covid-19 e desiguadades
No período da tarde, José Maria Neves foi recebido no Parlamento angolano, onde discursou. Sobre a Covid-19, o estadista lembrou que o vírus desestruturou o mundo. Criticou ainda a comunidade internacional pela forma como a gestão e acesso desigual das vacinas contra a pandemia está a ser feita.
“E ficou evidente toda a mesquinhez e os sentimentos mais primários de alguns que, de uma forma quimérica, tentam proteger-se e blindar-se com sucessivas doses de vacinas, chegando à quarta, enquanto o nosso continente ainda luta por imunizar 10% da sua população”, lamentou.
À semelhança de outros líderes africanos, o Presidente de Cabo Verde também defende a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas: “É chegada a hora de o Conselho de Segurança ser mais representativo e alargado, reservando a África o direito a assentos permanentes”.
Neves recorda que “África dispõe de recursos, talentos e imaginação para ser um dos mais importantes atores políticos e económicos deste século XXI. Temos que ser ousados, destemidos e empreendedores na linha do que magistralmente escreveu o poeta: ‘Deus quer, o homem sonha e a obra nasce’.”
“Angola um exemplo de uma África não submissa”
O estadista também diz ser “fundamental consolidar as instituições democráticas” nos estados africanos, “desde os tribunais às forças armadas, passando pela imprensa livre e pelos órgãos da ministração eleitoral”.
Numa intervenção anterior, considerou “Angola um exemplo de uma África não submissa”, afirmação que está a gerar debate. Nkikinamo Tussamba, especialista angolano em questões internacionais, interpreta este pronunciamento como sendo resultado da projeção que Angola tem no contexto regional.
“Se o conflito beneficia alguns setores, alguns grupos, algumas elites, e é a intenção de Angola resolver alguns destes conflitos no continente africano, claro, não obedecendo à intenção não confessa destas elites, então se percebe bem aqui a abordagem do Presidente José Maria Neves”, afirma.
Autarquias: Cabo Verde como exemplo
Fernando Sakwayela, coordenador do projeto Agir e co-fundador do Movimento Jovens Pelas Autarquias, quer que Angola beba também das experiências de Cabo Cerde em matérias autárquicas.
“Sendo Cabo Verde um Estado que já tem mais de 20 anos de autarquias locais, a presença do Presidente José Maria Neves seria, em bom tom, aproveitada para o Governo angolano poder perceber melhor a importância e as vantagens que as autarquias podem conferir a um país como Angola”, argumenta.
Nkikinamo Tussamba concorda: “Eu penso que Angola deve ser humilde nesse quesito e beber muito de Cabo Verde. Desde 1991 até hoje que se realizam eleições autárquicas em Cabo Verde”.