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Demolições de casas para “obra milionária” deixam famílias irritadas com Governo Provincial de Benguela (GPB)

Centenas de famílias angolanas rejeitam um plano de realojamento do Governo Provincial de Benguela (GPB), em Angoloa, para obras numa zona marítima, em curso há já cinco meses, alegando que não trocam um bairro com água, energia e escolas por um matagal, numa referência ao espaço que alberga os desalojados das Salinas.

Contra o posicionamento de um dos vice-governadores, moradores do Matadouro, bairro que deverá desaparecer para dar lugar à extensão da marginal da Praia Morena, eles realçam que as autoridades procederam à marcação de casas a demolir, mas não dialogaram com as famílias.

O avanço das obras para uma via a ligar o bairro à foz do rio Cavaco, no quadro do programa emergencial avaliado em 415 milhões de euros, tira o sono a quem viu a sua casa marcada com um X, o símbolo de demolição, mais de trinta e cinco anos após o surgimento da zona.

“Chegaram aqui e meteram o X, só que não disseram para onde vamos. Aqui temos quase de tudo, o hospital, a escola, a praia … agora nos tirar daqui para outra área vai ser complicado. Na altura mais perigosa, das calemas, ninguém veio”, assinala a senhora Cláudia.

Freitas João, no Matadouro desde 1990, acrescenta que “não sabemos o que vai acontecer, só falam que vão destruir as casas, o nosso sítio para viver é mesmo este”.

A contagem do Governo Provincial de Benguela (GPB) vai em 50 famílias com moradias marcadas para demolições, mas a Voz da América constatou nesta segunda-feira, 24, num diálogo com a população, que o número é bem superior.

O vice-governador para a área técnica e de infra-estruturas, Adilson Gonçalves, abordado a propósito pela Voz da América, garantiu que estão a ser erguidas casas em locais seguros.

“Neste momento, estamos a construir casas para o realojamento, já conversámos com as pessoas, já explicámos o processo a todas as famílias do perímetro, estão conscientes de que vão para zonas mais seguras”, indica o governante.

A proximidade ao mar, que leva milhares de famílias a viver da pesca, é um dos trunfos da população.

Os munícipes dizem que não estão a ser ouvidos e lembram, mediante o que chamam de especulações, que a zona em perspectiva não oferece condições aos desalojados das Salinas, o bairro destruído há mais de dois anos.

“O Governo tem coisas mais importantes com que se preocupar neste momento, há prédios com fissuras, degradados, e não se preocupar com este bairro, onde as pessoas vivem do mar. Os empresários querem depois fazer o seu canteiro de hotelaria”, refere o jovem Avelino Martinho.

O Governo Provincial de Benguela (GPB) promete igualmente distribuir casas nas centralidades, mas moradores dizem que não há capacidade para rendas mensais entre 30 e 45 mil Kwanzas, quase cem dólares norte-americanos.

Autoridades dizem que estão a construir para realojar, mas moradores afirmam estar alheios a tudo e contestam ida para “matagal”.

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