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“É preciso chamar o Fundo Monetário Internacional (FMI) devido a desvalorização do kwanza em Angola” — Economista Carlos Rosado de Carvalho

O kwanza sofreu uma desvalorização recorde. Desde maio, a moeda angolana caiu 37%, atingindo um valor de 804 kwanzas por dólar. Em entrevista à DW África, economista alerta para clima de desconfiança.

A desvalorização do kwanza tem atingido valores recorde e a inflação sobre cada vez mais. Em entrevista à DW África, o economista Carlos Rosado de Carvalho aponta a alta dependência das exportações de petróleo e a excessiva importação de matérias-primas e produtos alimentares essenciais como as principais causas para a desvalorização da moeda angolana.

Carlos Rosado acusa ainda o Ministério das Finanças de não apresentar contas desde junho do ano passado, e afirma que esta falta de transparência gera maior incerteza na economia.

O economista apela à revisão urgente do plano de estabilização do país, mas afirma que o Governo “tem que chamar o Fundo Monetário Internacional (FMI) para dar credibilidade à política económica angolana”.

DW África: Que fatores levaram à desvalorização do kwanza? Como chegámos a este ponto? 

Carlos Rosado de Carvalho (CRC): O valor de uma moeda depende da fortaleza da sua economia e depende obviamente da procura e da oferta de moeda estrangeira. A economia angolana depende quase exclusivamente do petróleo. Portanto, quando o preço do petróleo baixa, Angola tem menos divisas.

Neste caso, não foi só o preço do petróleo a baixar, foi também a produção de petróleo. Isto é uma espécie de “tempestade perfeita”: caiu o preço, caiu a produção, há menos exportações, menos divisas e menos moeda estrangeira. Sendo assim, a moeda estrangeira valoriza-se, neste caso o dólar, e a moeda nacional desvaloriza.

DW África: A ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, assegurou que Angola iria cumprir com as suas obrigações relacionadas com salários públicos e serviços estatais. Há alguma forma de garantir que isto irá acontecer?

Carlos Rosado de Carvalho (CRC): A senhora ministra das Finanças pode dizer aquilo que quiser, mas o que acontece é que não apresenta contas públicas desde junho do ano passado. Portanto, nós não temos informação.

DW África: Que impactos terá esta desvalorização do kwanza para a população angolana?

Carlos Rosado de Carvalho (CRC): Os impactos são brutais? Porque a desvalorização significa que os produtos estrangeiros se tornam mais caros. Mesmo que o preço se mantenha no estrangeiro, em kwanzas eles são mais caros.

Uma percentagem elevada do que os angolanos consomem, nomeadamente da cesta básica, são comprados ao estrangeiro e, portanto, tornam-se imediatamente mais caros. O óleo, o frango, o arroz, a massa e todas essas coisas aumentam de preço.

Portanto, “o principal efeito é no poder de compra. E a população é pobre, a taxa de pobreza ultrapassa os 40%. Portanto, como os salários não aumentam, não há empregos, assistiremos ao aumento exponencial da pobreza”. É isso que já estamos a ver.

Tem outro impacto também nas empresas, porque as empresas dizem que, para produzir internamente, também têm de importar. Isso significa que os custos das empresas vão aumentar. Agora, veremos se as empresas têm capacidade de transmitir esse aumento dos custos para os consumidores.

DW África: O que fazer perante esta situação?

Carlos Rosado de Carvalho (CRC): Eu defendo duas ou três coisas. A incerteza é tremenda e, portanto, acho que alguém do governo deveria falar com os agentes económicos para os tranquilizar. Por outro lado, o governo deve revisitar o programa de estabilização de 2018, que passa por fazer reformas.

Eu não acredito que o Governo faça essas reformas sozinho. Do meu ponto de vista, tem de chamar o Fundo Monetário Internacional para dar credibilidade à política económica angolana.

 

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