Será que os programas de governo dos partidos concorrentes às eleições em Angola refletem a vontade popular? No Cuando Cubango, cidadãos dizem que as ideias nos manifestos são bonitas, mas é preciso passá-las à prática.
O combate à fome, à pobreza e à corrupção, o acesso a terras, melhorias na educação, saúde e infraestruturas, bem como a criação de mais postos de trabalho são promessas recorrentes nos programas dos partidos concorrentes às eleições gerais em Angola, marcadas para 24 de agosto.
Mas são promessas que não diferem muito das da votação de 2017, comenta o professor Maximino Katchekele, residente em Menongue.
Katchekele diz que é preciso abrir um novo capítulo no país e deixar de apostar na continuidade, algo em que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder) tem insistido durante a presente campanha.
“Fala-se na continuação, em erguer infraestruturas, mas talvez o nosso problema não esteja nas infraestruturas. Nós temos infraestruturas de ponta com material de ponta, o nosso maior problema está no pessoal”, defende o professor.
Oito concorrentes, mas apenas dois se destacam
Apesar de sete partidos e uma coligação política se candidatarem às eleições gerais, os cidadãos olham para o MPLA e para a União para a Independência Total de Angola (UNITA, o maior partido da oposição) de maneira diferente.
Entre os dois principais concorrentes, o MPLA prioriza no seu programa a construção de entradas, habitações e o desenvolvimento socioeconómico. A UNITA promete também a construção das estradas, mas destaca a revisão constitucional para diminuir os poderes do Presidente da República, as autarquias, a igualdade de tratamento e a liberdade de imprensa e de expressão.
O professor Elísio Candjembe entende que não há qualquer novidade nos manifestos de programas de partidos políticos da oposição; verifica-se apenas que os partidos “se copiam” uns aos outros. O também jurista, residente em Menongue, acredita que o MPLA é o único partido que reúne as condições para vencer as próximas eleições.
“Os outros partidos políticos costumam vir a público dizer aos eleitores que vão fazer isto e aquilo, mas como vão fazer? Como é que eu vou meter água num sítio onde já há água? Como meter uma escola num local onde já existe uma escola? Como é que se faz isso? A escola não se faz apenas com palavras, faz-se com recursos financeiros”, afirma Candjembe.
A continuidade é essencial para poder resolver os problemas do povo, conclui.
Da teoria à prática…
Para o defensor dos direitos humanos Augusto Cassinda, faltou divulgar melhor os manifestos de muitos candidatos. Cassinda diz que só teve acesso ao programa da UNITA.
“Um fator muito importante que a UNITA traz no seu manifesto eleitoral é a reforma do Estado, nós sabemos muito bem que vivemos num país onde tudo depende do partido que governa.”
Mas segundo Cassinda, os discursos que os candidatos estão a fazer servem apenas para conquistar votos e “não refletem as necessidades” do povo angolano.
“O partido que governa o país prometeu sempre mundos e fundos, mas quando chegou o momento da verdade, de colocar as promessas feitas na prática, ficou-se pela vontade. Então, com tudo isso, esperamos que quem ganhar as eleições de 24 de agosto faça o esforço de concretizar as promessas feitas ou, pelo menos, 80% do que prometeu”, sugere o ativista.