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Eleições Gerais 2022: “Seleção nacional” da oposição quer ganhar ao partido do Estado

Milhares de apoiantes da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) encheram hoje o antigo recinto da Filda, no Cazenga, Luanda, para o comício final da “seleção nacional” da oposição contra o regime de partido do Estado.

“Os portugueses diziam: ‘Ou vai ou racha!’” gritou Abel Chivukuvuku, líder do PRA-JA Servir Angola, que será o candidato a vice-presidente, atrás de Adalberto Costa Júnior, líder da UNITA.

“Somos a seleção nacional”, gritou Chivukuvuku, um antigo dissidente da UNITA, que fundou e liderava o terceiro maior partido parlamentar e agora fez as pazes com o partido, numa frente unida dos opositores.

A lista inclui ainda independentes e elementos associados ao Bloco Democrático (quarto maior partido, que decidiu não concorrer em nome da unidade da oposição).

“E na seleção nacional, quem é o nosso capitão? O nosso Lionel Messi?”, perguntou Chivukuvuku, obtendo a resposta uníssona: “ACJ”.

As cores sobre o pó do recinto eram o verde e amarelo da UNITA mas, aqui e a ali, apareciam outros símbolos. Rui tinha uma camisola da campanha “A Hora é Agora” da UNITA, mas o chapéu era do Bloco Democrático.

“Sou do Bloco, não sou da UNITA. É a primeira vez que estou aqui [no comício do partido], mas temos de estar juntos”, disse. “Estamos juntos, mas contra o M”, despede-se, com a saudação tradicional angolana e o diminutivo do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, no poder desde a independência).

João Santos tem uma ‘t-shirt’ da UPA [União dos Povos de Angola], já rasgada de 50 anos. Era a ‘t-shirt’ do seu pai que lutou contra os portugueses e votou sempre na Frente de Libertação Nacional de Angola (FNLA). Hoje, João Santos tem um chapéu da UNITA e ajuda na organização do comício.

“Hoje só há uma solução [para Angola], é a UNITA”, apontou. “Primeiro temos de ter democracia e depois vamos todos escolher as nossas coisas livremente”, respondeu à Lusa, confrontado com o uso de um símbolo de um partido que já acabou.

O líder do Bloco Democrático, Filomeno Vieira Lopes, também discursou e prometeu a união da oposição na tentativa de destronar o MPLA nas urnas. “Temos a independência nacional há 47 anos, mas ainda não temos a libertação nacional”, atirou.

“Votávamos na nossa cabaça e depois punham o nosso voto noutra cabaça”, recordou Vieira Lopes.

Ana Fátima, 17 anos, não pode votar, mas não quis faltar ao comício. “Não voto, mas grito e ajudo”, afirmou, no intervalo do barulho que se ouvia desde o final da manhã na zona.

“Com fraude ou sem fraude, nós ganhamos”, “o nosso galo chegou” ou “UNITA iéé” foram algumas das frases mais repetidas, a par do “Votou, sentou, porque o bumbum é meu”, uma expressão que se tem repetido em todo o lado onde vai a UNITA.

A campanha “Votou, Sentou” é uma tendência africana que tem levado os partidos da oposição a exigirem transparência do processo eleitoral. Os eleitores são convidados a ficarem nas zonas das assembleias de voto para controlar a publicação das atas dos resultados.

Entre os apoiantes da UNITA há muitos que temem que os votos não sejam devidamente contabilizados e que o governo depois reprima eventuais manifestações, à semelhança do que sucedeu recentemente nas eleições do Quénia.

Confiante na vitória, Abel Chivukuvuku dirigiu-se às autoridades: “Peço solenemente aos militares do nosso país, aos militares e à segurança nacional. Dia 24, 25 e 26 e seguintes, nós confiamos em vocês e vocês também confiem em Adalberto Costa Júnior”.

Oito forças políticas, sete partidos e uma coligação de partidos, concorrem às eleições de 24 de agosto que vão eleger o Presidente da República, o vice-presidente e os deputados à Assembleia Nacional.

 

 

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