O Ativista angolano Gilson da Silva Moreira “Tanaice Neutro”, foi posto em liberdade na sexta-feira passada, mas promete “continuar a criticar o Governo e as falcatruas do Presidente angolano” e a “lutar” por um país melhor.
“Em liberdade terão o mesmo “Tanaice Neutro”, sempre a criticar o Governo angolano, as falcatruas do Presidente da República (João Lourenço) e vamos continuar a lutar para que consigamos dar um outro rumo ao nosso país”, afirmou hoje o ativista em declarações à Lusa.
“Tanaice Neutro”, que se juntou à família na sexta-feira à noite, após oito meses de prisão depois de ter sido condenado em primeira instância com pena suspensa, considera que apenas permaneceu na prisão por “ordens superiores”.
Segundo o ativista, em 18 de maio passado um grupo de juízes aprovou a sua libertação e a decisão não foi concretizada na ocasião porque os magistrados, referiu, “ainda dependiam de ordens superiores”.
“Mas, graças a Deus, na sexta-feira quando eram 19 horas uma equipa do Governo lá apareceu e fui solto”, realçou.,
Em relação à sua condição física e emocional, o ativista, que se considera um “preso político”, disse estar “ainda perturbado” e lamentou não ter recebido qualquer assistência médica ou apoio para fazer a cirurgia “urgente” de que necessita para tratar de um problema de saúde.
“Tanaice” estava detido desde janeiro de 2022 e foi condenado, em 12 de outubro de 2022, a uma pena de prisão suspensa de 1 ano e três meses pela prática do crime de ultraje ao Estado, seus símbolos e órgãos.
A sentença de julgamento do ativista foi lida pelo juiz da causa, Daniel Ferreira, na 1.ª secção do Tribunal da Comarca de Luanda, que deu como procedente a acusação do Ministério Público (MP).
“Suspende (o tribunal) a execução da pena aplicada por um período de dois anos sob a condição do arguido se retratar às entidades lesadas no processo e pela mesma via no prazo de 15 dias”, referiu o magistrado judicial, na ocasião.
O MP manifestou-se inconformado com a decisão do juiz da causa e interpôs recurso ao Tribunal da Relação com efeitos suspensivos.
Segundo o tribunal, ficou provado que o ativista “Tanaice Neutro”, 36 anos, cometeu o crime de ultraje contra o Estado, seus símbolos e órgãos por ter chamado o Presidente angolano de “bandido e palhaço” e ter atribuído a mesma denominação aos efetivos da polícia nacional, nos vídeos que o ativista gravou e partilhou nas redes sociais.
Hoje, o ativista voltou a criticar a condição socioeconómica do país considerando que, se na ocasião em que foi detido “já estava mal”, agora a situação de Angola “está pior”.
“Neste momento o país está pior, quando entrei na prisão já estava mal, mas agora que saí está pior, então o que podemos fazer é continuar a lutar. O MPLA e o João Lourenço têm de abandonar o poder”, concluiu o ativista.
“Tanaice Neutro”, que preferiu não entrar mais detalhes, prometeu falar ainda esta semana, em conferência de imprensa, sobre a sua detenção, liberdade e o atual contexto político, económico e social de Angola.
O caso levou a Aministia Internacional (AI) a mobiizar uma campanha pela libertação do ativista ao abrigo da qual foram entregues petições nas embaixadas de Angola em Portugal, Espanha e na África do Sul, bem como no ministério da Justiça e dos Direitos Humanos em Luanda.