O Autor Angolano José Eduardo Agualusa lamentou uma série de “eventos estranhos” à volta da biografia do político Abel Chivukuvuku, recentemente lançada, acabando por recorrer ao escritor angolano Ondjaki para fazer uma nova edição do livro em Angola.
Em declarações à Lusa, José Eduardo Agualusa apontou “uma sucessão de eventos estranhos” que começou quando o número de livros enviados para Angola não correspondeu ao que tinha sido pedido à editora.
“Eu sugeri 5.000 e continuo a achar que teria sido o número mais ajustado. Descubro, quando chego a Luanda, que tinham enviado apenas 500 exemplares, depois apareceram mais 200, 600 esgotaram logo no próprio dia [do lançamento, em 15 de novembro] e outros 100 o Ondjaki tinha conseguido pôr de parte para o lançamento no Huambo, senão nem sequer teria havido lançamento no Huambo“, adiantou.
Agualusa questionou também a ausência de representantes da editora do livro em Angola (a Plural, do grupo Porto Editora, tal como a Quetzal) no lançamento da biografia e outros eventos promocionais: “É de facto muito estranho, estou nisto há 34 anos e nunca me aconteceu”.
Segundo o autor, após ter contactado novamente a Plural para saber quantos exemplares iriam enviar mais, recebeu como resposta que seriam mais 500.
“Ou seja, depois de terem esgotado 600 exemplares no próprio lançamento enviam mais 500, o que me parece completamente absurdo (…) Nunca ouvi falar de nada assim, como é que há leitores a querer o livro e nós não conseguimos ter o livro à venda, é estranho”, destacou.
Descontente, o escritor decidiu então falar com Ondjaki, proprietário da editora Cacimbo para fazer uma edição angolana da biografia de Abel Chivukuvuku, ex-dirigente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), principal partido da oposição angolana, e da coligação CASA-CE, e que concorreu às últimas eleições angolanas pelas listas da UNITA por não ter conseguido legalizar o seu novo projeto político, PRA JÁ Servir Angola.
“Mas é claro que esta edição demora a fazer e há livros que não vamos vender devido a esta série de eventos estranhos”, lamentou, acrescentando que não recebeu nenhuma explicação por parte da Plural para o não envio dos livros que tinha pedido.
“Nunca falaram comigo, não sei quem são. Eu não sei o que se passa, ninguém me explicou”, frisou.
Contesta também o facto de os livros estarem agora a ser vendidos à Kiela (livraria de Ondjaki) ao preço de venda ao público em Portugal, em vez de ser aplicado o habitual desconto de livreiro, atingindo os 20 euros “um preço absurdo para Angola”.
O autor assinala que tinha já feito um acordo “muito difícil” para conseguir vender os livros a um preço mais acessível para o mercado angolano, prescindindo de parte das suas receitas para que os livros chegassem a mais leitores angolanos,
Afirmou ainda que a recetividade da biografia tem sido “muito boa”, declarando não ter sentido “qualquer tentativa de silenciamento” e “abertura total” nas atividades promocionais e entrevistas que tem dado neste âmbito.
“Para mim, é claro que se tivéssemos tido mais livros, mais teríamos vendido. Obviamente, os leitores angolanos ficaram prejudicados e eu, pessoalmente, como escritor, estou prejudicado”, reiterou.
À Lusa, Ondjaki manifestou-se satisfeito por editar um livro “que contribui para o debate social e político de Angola”.
“Estamos felizes por vir a fazer este livro, vamos fazer uma edição angolana, com capa angolana, vai ficar um livro bonito (…) Parece-nos desde já que é um sucesso de venda”, referiu.
Adiantou que estão a ser feitos “todos os esforços” para ter o mais breve possível a nova edição disponível, mas admite que só deverá acontecer no início do próximo ano.
“Neste momento, dado o câmbio e a nossa realidade social, o livro resulta muito caro. Ainda assim tem havido bastante procura, mas só as pessoas que tem poder de compra estão a adquirir este livro”, afirmou.
“Eu creio que vamos conseguir fazer bem melhor do que este preço, este é o nosso objetivo e o nosso compromisso”, declarou o responsável da Cacimbo, questionando “quando é que os livros serão tratados como um produto prioritário para que se chegue a um preço de custo e de venda mais acessível”.
A Lusa contactou a Porto Editora, proprietária da Plural Editores Angola, que remeteu esclarecimentos para mais tarde.