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Estudantes angolanos do ensino superior “satisfeitos” com retorno às aulas pedem diálogo entre as partes

Estudantes angolanos do ensino superior mostraram-se hoje satisfeitos pelo retorno às aulas, depois de período longo de paralisação, que exigirá da sua parte esforço maior para reterem o semestre em um mês, apelando entendimento entre as partes.

Os professores do ensino superior público retomaram as aulas na sexta-feira, três meses depois de uma greve, iniciada em fevereiro, para reivindicar melhores salários, condições de trabalho e do ensino no país.

Em declarações à Agência Lusa, como Francisco Antunes, a frequentar o terceiro ano de Sociologia, na Faculdade de Ciências Sociais, da Universidade Agostinho Neto, considerou que a interrupção das aulas prejudicou o aprendizado e que o regresso às aulas por 30 dias vai sobrecarregar e pressionar os discentes.

A greve interpolada, segundo o Sindicato Nacional dos Professores do Ensino Superior (SINPES), foi retomada na sexta-feira até o dia 27 de junho, uma decisão unilateral tomada pelos docentes em assembleia-geral, no início deste mês, “para não prejudicar o ano académico”, explicouà Lusa o secretário-geral do sindicato, Eduardo Peres Alberto.

“De facto estaremos muito sobrecarregados, muitas matérias serão dadas sob pressão e seremos obrigados a fazer muitos trabalhos, o que vai dificultar muito o nosso processo de aprendizagem”, referiu.

Francisco Antunes mostrou-se satisfeito pelo retorno às aulas, mas lamentou a ausência de um acordo entre as partes.

“Como estudante o anseio de estudar é maior, mas, por outro lado, pensando nos professores, uma vez que não foram resolvidos os problemas, não há muita satisfação”, disse o estudante, que considera a greve justa.

O estudante recorda que já foram afetados pela pandemia da covid-19, em 2020, e esta greve, que já vai na sua terceira fase, o que faz com que as pessoas percam “o ânimo de estudar”, como vem acontecendo com alguns colegas, que abandonaram os cursos.

Para Francisco Antunes, a “reclamação é justa e não é ilegal”, frisando que os professores têm de ser motivados, com “um salário condigno, direito à habitação, transporte”, entre outros.

“Há professores que para chegarem aqui têm uma grande dificuldade. Então, se derem condições mínimas aos professores, terão mais motivação para darem aulas e, consequentemente, estarão mais entregues à instituição”, frisou.

O subsídio à investigação científica é um dos pontos caderno reivindicativo, o que, como estudante de Sociologia, é crucial para Francisco Antunes, um ativista literário e mentor de um clube de leitura, atividade que aproveitou para intensificar durante a interrupção das aulas.

Já Ilídio Carlos, finalista do curso de Psicologia de Trabalho, referiu que o ano está a terminar com uma grelha curricular a cumprir, receando que se regresse à greve depois destes 30 dias de aulas que agora arrancou.

“Queríamos que ela [grelha curricular] fosse bem cumprida, com todas as aulas, com todas as matérias completas, mas tivemos essa greve dos professores, infelizmente, com alguma razão. Nós entendemos a reivindicação dos professores, mas lamentamos o facto de estarmos a perder aulas”, salientou.

Ilídio Carlos expressou a sua alegria por regressar às aulas, porque “estava cansado de ficar em casa”, augurando que antes que regressem à greve, “o Governo diga alguma coisa ao sindicato, que as duas partes se entendam”.

“Os professores não estão a reivindicar à toa, também estão a ser prejudicados de alguma maneira, e nós os estudantes poderemos ter a nossa formação mutilada, o que é grave para um país que está a formar quadros”, realçou, apelando que sejam resolvidas pelo menos “as principais e as mais importantes” reivindicações.

Por seu turno, Mauro Chicussenga, no terceiro ano de Sociologia, lamentou o atraso na formação devido à greve e as dificuldades no aprendizado, lembrando que um semestre vai ser dado em apenas um mês.

“Praticamente vamos acelerar com trabalhos, provas, e teremos alguma dificuldade”, o que exigirá um esforço maior dos estudantes, disse Mauro Chicussenga, que concorda com as reivindicações dos professores.

“Penso que sim, a reclamação é sempre essa [melhoria salarial]: o professor forma o engenheiro, que passa a receber mais do que o professor, eles, na verdade, só estão a reclamar pelos seus direitos”, vincou.

Já Sabina Abel, a frequentar o primeiro ano do curso de Geodemografia, disse que a greve afetou pela negativa o desempenho dos estudantes, apesar de terem sido brindados por alguns professores com aulas online.

Na mesma senda dos seus colegas, Sabina Abel disse que este ano letivo está a ser “stressante e bastante complicado” para os estudantes, que vão ter de fazer um semestre em um mês.

“Os professores vão dar a matéria de maneira acelerada e claramente não teremos um aproveitamento benéfico”, referiu, considerando justo o protesto da comunidade docente, que “não estão a pensar só para eles, mas também nos estudantes”.

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