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EUA: A CASA-CE deve mais de “5 milhões de dólares” a um chinês – diz Manuel Fernandes

Há três meses na liderança da CASA-CE, em substituição do almirante e deputado André Mendes de Carvalho ‘Miau’, que, por sua vez, ‘afastou’ Abel Chivuvukuvu, o também político Manuel Fernandes procura resgatar a mística desta coligação, por sinal a terceira força política na Assembleia Nacional. Herdou um activo e também um passivo de mais de 5 milhões de dólares, fruto de uma dívida contraída a um cidadão chinês para a participação nas eleições de 2017. Na política desde muito novo, tendo-se tornando secretário-geral do PALMA, que hoje dirige, com apenas 21 anos de idade, Fernandes é o mais novo conselheiro da República. Aborda, nesta conversa, o futuro da coligação, descarta aderir à chamada Frente Patriótica, considera-se presidenciável e apresenta, aqui, a sua versão sobre a criação da CASA-CE, relatando que tudo partiu de uma abordagem que o próprio fez, inicialmente, a Abel Chivukuvuku, quando este ainda estava na UNITA

O que lhe vem à alma quando pensa em Quitexe?

Para dizer a verdade, nasci na diáspora, no Zaire (actual Congo Democrático). O meu pai foi um antigo guerrilheiro do Exército de Libertação Nacional de Angola (ELNA), braço armado da FNLA, treinado na base do Kinkuzu, uma região militar do Congo Democrático, no Baixo Congo. Era dos que escoltavam os angolanos que se refugiavam no Congo Democrático na altura da guerra de libertação nacional. Foi assim que a minha mãe teve que seguir no ano de 1966. Eu pessoalmente e a irmã que me segue nascemos já na actual RDC. Depois de soprarem os ventos da liberdade foi assim que se regressou, em 1974. Na altura, tinha dois anos de idade. Fomos directamente para a terra natal dos meus pais, que é também a minha, porque apenas o meu cordão umbilical ficou lá fora. Portanto, é uma história muito bonita dos meus pais do ponto de vista da resistência e contribuição para este país. Sem receio, digo que sou filho de heróis anónimos, porque são pessoas que se bateram tanto para a auto-determinação deste país, mas não conseguiram usufruir daquilo que foram os sonhos que os levaram, de forma destemida, a pegar em armas para acabar com a opressão.

Quais são as recordações que tem de Quitexe?

É lá onde fiz os meus estudos primários até à 4.ª classe e foi num sistema monolítico. Quando estivéssemos de férias, ainda íamos às fazendas colher café. O que me constrange é que, volvidos mais de 30 e tal anos, desde que saí da minha aldeia e do meu município, não há desenvolvimento absolutamente nenhum. E isso endurece aquilo que é a nossa capacidade de luta. Na altura, quando os nossos pais empunharam armas para lutar contra a opressão, a ideia era de que seríamos donos do nosso destino. Infelizmente, não foi este o contexto, porque os que dirigiram este país não governaram para os angolanos, nem para consolidar a independência real de Angola. Quando falamos em independência real, não basta ter um Presidente preto, um hino e uma bandeira nacional, mas sim potenciarmos o país economicamente para evitar a dependência externa. É vergonhoso que hoje, quase 50 anos, Angola é quase dependente a nível da satisfação das suas necessidades internas de perto de 75 por cento do estrangeiro. Urge a necessidade de se inverter o quadro, de haver políticas inovadoras que possam trazer o desenvolvimento sustentável do nosso país e que possa orgulhar a todos os angolanos por terem nascido nesta terra.

A política está-lhe no sangue?

Eu diria que sim, aliás, todo o homem é político. Enganam-se aqueles que pensam que a política é para algumas pessoas. A gestão de uma família, de uma casa, é um conjunto de políticas. De uma igreja também é um conjunto de políticas. Só que está estratificada. Há aqueles que fazem a política com o fito de assumpção do poder e os que a fazem do ponto de vista da gestão da vida quotidiana. Eu, pessoalmente, gosto de fazer política, não no intuito de satisfação dos interesses pessoais, mas sim como um instrumento que concorre para a satisfação das necessidades da colectividade.

Qual é a influência que teve o município do Cazenga na sua vida política?

Depois da terra natal, com base naquilo que já disse anteriormente, a terra dos meus pais, na qual me reconheço e onde comecei a dar conta de mim, o Cazenga, para mim, é o espaço que me forjou homem. Por força das contingências da guerra, em 1996, fomos obrigados a refugiarmo-nos lá. Eu sou do Uíge, município de Quitexe, comuna da Aldeia Viçosa, povoação de Kiluanda. Volvidos todos os anos de guerra intensiva, sobretudo depois de ter sido atacada a sede comunal, ter sido destruído o comissariado comunal, um edifício imponente e bonito, então não havia solução em continuar. Nesse dia morreu muita gente. É assim que saímos. Com 14 anos de idade, cheguei ao Cazenga onde fui recebido. A minha adolescência foi feita no Hoji-Ya-Henda, na área do Santo António e, depois, aos 17 anos, tive que me mudar para o Cazenga mais profundo, na área da Sonefe, onde, em condições difíceis, mas com uma consciência um pouco atrevida, porque sempre sonhei ser alguém na sociedade, esforcei-me do ponto de vista da leitura e dos estudos. O grau de dificuldades que vivia fez com que tivesse sonhos altos, para ter que me superar na vida. Isso fez com que continuasse com a formação, embora, inicialmente, não sonhasse ser político.

Como é que se torna político? Na altura, quis ser militar, mas piloto da Força Aérea. Não queria entrar para o Exército e pertencer a um outro ramo. Foi assim que tão cedo decidi abraçar a educação, para então me formar e conseguir ter a 12.ª classe, que era a habilitação necessária para então viajar para a Rússia e fazer o curso de pilotagem. Na altura, como professor e membro da JMPLA, não ia à tropa. Tive que escapar à tropa enquadrando-me na educação, porque, na altura, como disse, sonhava em ser piloto. Entretanto, ao longo do tempo, fui gostando da profissão de professor. Além de dar aulas apenas no ensino estatal, também se abriu uma escola privada, uma das primeiras, onde depois esteve a sede do PALMA, no Cazenga, a chamada Quinta da OMA. Foi aí que fui dando explicação, até que um dia um dos meninos me diz que o seu pai queria falar comigo.

Quem era o senhor?

Recebi o encarregado de educação. Disse-me que gostaria de continuar com os estudos, mas tinha grande dificuldade de os retomar, porque só tinha a 4.ª classe e queria voltar a estudar com habilitações superiores. Disse que se sentia incapaz de enfrentar a matemática. Eu, como era professor de matemática, dei da 5.ª, 6.ª e depois do terceiro nível. Fizemos o cronograma e começamos com o trabalho. Dois meses depois confidenciou-me que tinha sido da JMPLA no Cuanza-Norte. Com base no processo democrático, criara um partido político, que, na altura, se chamava PUNA, com um tio, com o qual se desentendeu. Depois quis criar um outro projecto com um cunhado, com quem também se desentendeu. Por isso, não se sentia confortável em ficar longe da política e queria criar um outro partido político. Disse que gostaria de me convidar para criar um partido político.

E assim surge o PALMA?

Com 21 anos de idade, trabalhamos para o surgimento do PALMA e torno-me o secretário-geral. Estamos a falar de 1994. Entretanto, o PALMA é legalizado no dia 7 de Dezembro de 1994 e, no dia 27, surge o convite do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, para os cumprimentos de fim do ano, no Futungo de Belas. Recordo-me que neste dia até choveu e estive com o senhor Manuel Francisco, o primeiro presidente do PALMA, com quem tive uma cumplicidade muito forte, porque éramos homónimos. Eu sou o Manuel Fernandes e ele era, simplesmente, o Manuel Francisco. Como se diz na gíria angolana, chamávamo-nos sempre por ‘xarás’. Ele disse-me: xará, tenho este convite e vamos os dois. Fui ter com um primo que tinha um mercedes, para ver se alugássemos a viatura, e irmos ao cumprimento de fim de ano. Era uma honra, eu tinha apenas 21 anos de idade. Estávamos a sair de um sistema monolítico, o Presidente da República era visto como um Deus na terra.

No entanto, era uma ansiedade muito grande. Mas depois o cunhado, que também era presidente de um partido, chegou e disse que não pode ir o presidente e o secretário-geral. Só pode avançar o presidente com a esposa ou, se não for, então vai o secretário-geral também com a esposa. Foi assim que fiquei e demos o convite. Ele depois aceita levá-lo. Foi assim que ajudou. Ele disse que iria sozinho, porque a esposa não estava bem. Foi estranho que nos despedimos às 14 horas e às 19 vem a filha bater à porta, dizendo: Tio Nelo, como os mais próximos me chamam, o pai morreu. Foi uma situação difícil, nunca tinha experimentado um momento como tal. Foi um dos mais difíceis antes da morte dos meus pais. Não foi fácil. Como se não bastasse, em Maio tivemos que realizar o congresso para normalizar a vacatura que se fazia sentir no partido e, como o PALMA na altura era maioritariamente de professores, por minha influência, todos disseram: ‘tens que segurar os destinos do partido’.

Mas, em termos de projecção, as pessoas acompanham-no a partir da coligação Partidos da Oposição Civil (POC) e da Campanha por uma Angola Democrática. Qual foi a influência que Paulino Pinto João teve na sua vida política?

Primeiro, antes dos POC’s, sendo um jovem muito cru, então foi preciso muita força de vontade. Recordo-me que, a primeira vez em que fui chamado para uma entrevista, a voz quase que não saía. O microfone pela primeira vez dá medo. Foram precisos vários exercícios, mas a partir do terceiro ensaio é que começamos a ficar a vontade. Recordo-me que fui entrevistado pela primeira vez pelo Alberto de Sousa, jornalista da Rádio Nacional de Angola e, depois, na LAC tive outra com a Horvanda Andrade. Não me esqueço até hoje. Depois se criaram os POC’s, mas antes houve um conjunto de partidos. Viu-se a necessidade de criar uma coligação, porque se dizia que os POC’s eram muito conservadores, um bocado radicais nas posições. Houve um grupo que tentou criar uma coligação e queria buscar lideranças com posições moderadas. Fomos contactados, estivemos no embrião da criação desta coligação, entendemos que tinha que ter o seu papel na sociedade, fazer sentir a razão da sua existência e começamos a dar uma nova dinâmica. Eu, o Quintino Moreira, o Victor Francisco, que era o presidente do PRSD. Uma crise que assolou o PNDA, que era o único com assento no Parlamento, acabou-se também com a coligação. Geraldo Pereira, na altura, era o político com mais experiência.

Quais foram as outras investidas?

Tentou surgir uma outra coligação criada pelo então colega Vunge Zemba e o mais velho Honorato Landu, que era a Frente Patriótica. Eu vi que a intenção era defender interesses do partido no poder. Na altura, estava a UNITA do outro lado, nas matas. Não concordamos, pessoalmente desisti da Frente Patriótica. E foi assim que recebi o convite dos POC’s. Fomos a uma actividade. Primeiro, criou-se uma comissão dos partidos extra-parlamentares para junto do Governo ver se solicitassem alguma verba para minimizar o grau de dificuldades funcionais. E assim fui eleito, num conjunto de seis partidos políticos, e indicado para coordenador o companheiro Agostinho Paulo Bota, hoje um dos meus assessores. Numa destas reuniões de concertação, em que víamos como deveríamos abordar o Ministério das Finanças, na altura dirigido pelo malogrado Dr. Mário de Alcântara Monteiro, tive uma intervenção muito aplaudida e recebi o convite para integrar os POC’s do malogrado Kenguele Jorge, que era o porta-voz da organização.

Posteriormente, os POC’s estiveram envolvidos numa crise interna, a FNLA e o PSD, do André Milton Kilandamoko saíram da organização. O Dr. Paulino Pinto João fica numa posição um tanto fragilizada, porque a FPD também estava em crise e não dava tanto o litro. Ele viu que havia necessidade de se colocar sangue novo e, assim, o meu amigo Quintino Moreira e eu recebemos o convite. Portanto, entrei primeiro como porta-voz dos POC’s, trabalhei durante um tempo. Com a saída do Dr. Milton Kilandamoko, que ocupava a vice-presidência e solicitou a suspensão da militância na coligação, o Dr. Pinto João promove o Kenguele Jorge a vice-presidente, eu saí de porta-voz para vice-presidente e o Quintino Moreira ficou como o porta-voz. Foi um momento de aprendizado muito grande. Digo que o meu BA=BA de política aprendi com o Paulino Pinto João.

Qual foi a influência que Paulino Pinto João teve verdadeiramente na tua vida política?

O primeiro teste muito grande foi quando ele recebe um convite para uma grande entrevista na Luanda Antena Comercial (LAC), para falar dos POC’s e a situação do país naquele momento. O Dr Pinto João disse que estava indisponível e que iria indicar alguém. Mas ele terá feito aquilo de propósito. Então, indicou-me e fizemos 30 minutos de ensaio: ele nas vestes de jornalista e eu como entrevistado. Ele fazia as perguntas e eu respondia. Entretanto, ele dizia que aqui não podes responder assim, mas de uma outra forma. Foi um exercício que durou 30 minutos e, depois daí, disse-me que poderia ir. Fui para a entrevista, o Ismael Mateus está aí até hoje, e penso que foi positiva. A questão que me marcou foi ele me ter dito, na altura era eu muito jovem: ‘um político nunca pode exteriorizar ao máximo o seu grau de dificuldade, porque estás a propor-te a organizar uma sociedade. Se não estiveres em condições um pouco superior a do cidadão, ele não vai acreditar em ti nem que estarás a altura de resolve os problemas dele, porque és um necessitado como ele. Por isso, procura forma de ter alguma estabilidade emocional e pessoal’.

Deu-me algumas técnicas, próprias de um político que contribuiu bastante para a minha afirmação. Isso fez com que tivesse a personalidade que tenho hoje. Por exemplo, na altura em que havia a guerra, os partidos da oposição eram reunidos numa sala, a convite do Governo, para fazer uma declaração contra a UNITA. A dada altura, eu perguntava: qual era a razão do encontro? Vamos fazer uma declaração. Compreendia que o objectivo era fazer uma declaração dos partidos sem assentos no Parlamento para criticar aquele que estava nas matas a fazer a guerra. De facto, era condenável, mas não estou aqui para ir numa sala e fazer esse tipo de trabalho. Estávamos em condições de fazer algo mais profundo, dar ideias.

Por isso, nós os POC’s sempre tivemos a ideia de que a guerra em Angola não podia ser terminada pela guerra. Tinha que ser encontrado mecanismos pacíficos para a paz. Sempre nos batemos pelo diálogo, razão pela qual, na altura, os POC’s não era bem vista. Foi uma situação difícil e reconheço o trabalho, o empenho e a coragem dos meus colegas Felé António, Sikonda Alexandre, que conseguiram entender a razão da nossa causa mesmo com um mar de dificuldades. E os outros, depois desta declaração, recebiam alguma coisa, mas nós tínhamos o nosso posicionamento político. Não são as dificuldades que nos vão demover o sentimento daquilo que pensamos que deve ser Angola e o processo político no país. Hoje me pergunto: onde é que saía aquela coragem? Fazíamos aquilo na base da contribuição pessoal, retirando um pouco da família. A estratégia que adoptamos na altura era ter atitudes imediatas. Qualquer coisa, uma reacção imediata. Isso fez com que os POC’s tivesse atingido o nível que teve e a respeitabilidade. Mas, estranhamente, a nossa candidatura não foi aprovada em 2008. Mas também tivemos outros problemas.

Quais foram estes problemas?

Tivemos uma situação em que logo, no fim de 2007, o presidente da coligação, Dr. Paulino Pinto João, decidiu abandonar a presidência da coligação. Já estávamos a preparar a candidatura, tínhamos alguns documentos, mas ele levou consigo todo o dossier. Tivemos que reiniciar todo o processo. Em Maio, realizámos uma convenção na qual fui eleito presidente dos POC’s, porque na altura era secretário-executivo. A nossa candidatura não passou para as eleições de 2008 e recebemos muitos convites. Recebemos também o convite da UNITA, na altura avaliamos todas as propostas, e vimos que a credível era da UNITA. Assinamos o memorando de entendimento, entre os POC’s e a UNITA, no Hotel Trópico. Assinei pelos POC’s e pela UNITA o general Numa, na altura o secretário-geral deste partido. Houve um grau de dificuldade muito grande porque a UNITA saiu de 70 para 16 deputados, alguns itens acordados não foram cumpridos. Tentou-se ainda cumprir durante um ano, mas, depois, deixou-se unilateralmente.

Quem não cumpriu?

A UNITA pura e simplesmente não quis cumprir. Chegou e disse que temos graves problemas, com os militares e com as famílias, e que aquilo que era a sua responsabilidade contratual já não estavam em condições de cumprir. Recebíamos um valor que tínhamos acordado para ajudar no trabalho dos POC’s. Houve um cumprimento por cerca de um ano, porque aquilo era mês sim, mês não, que nos permitia fazer algumas coisas. Foi assim que tivemos aquela estabilidade que nos permitiu ter representação nas províncias. Era um momento difícil, porque uns, sabendo que fizemos um acordo com a UNITA, desistiram dos POC’s por razões pessoais, mas tivemos que ir repor. Enfrentamos depois outro grau de dificuldade, porque não tínhamos nenhuma outra fonte de rendimento. Voltamos a sobreviver das contribuições da lideranças.

Mas que foi que o influenciou a ser político?

Na verdade, eu sempre quis ser do Fórum Democrático do Jorge Chikoty, porque era um partido de jovens. Quando se apresentaram, na altura, aquilo galvanizou em mim o desejo de ser político, mas nunca chegar à liderança. A minha irmã diz-me que, ainda criança, manifestei e dei esperanças de que ou seria alguém neste país ou um político. Outra influência é o meu pai. Foi soba, sempre lutou e encorajou-nos para que me formasse e fosse alguém na sociedade. Quando abraço a ideia de criar partido político, nós que somos da primeira região político-militar, onde começou a guerra de libertação nacional, aquilo não foi fácil. Todos revoltaram-se e sentiam-se traídos. Como é que este filho de um antigo combatente agora vai criar partido político? O meu pai como soba também foi primeiro-secretário do MPLA. Só mais tarde, com o surgimento da democracia, é que retomou à FNLA. Até ao último dia da sua vida, tivemos que pagar as suas quotas em atraso, tanto na Associação dos Antigos Guerrilheiros como na própria FNLA. Nos últimos quatro anos, ele viveu comigo aqui: ninguém tirava o ELNA e a FNLA dele da cabeça. Morreu triste por causa do estado em que a FNLA se encontra. Era pró-Kabangu e não do Lucas Ngonda. Ficou revoltado quando um dia viu o mais velho Ngola Kabangu a depositar uma coroa de flores aqui no Marco Histórico. Para ele, o mais velho Kabangu deveria pegar o carro e ir fazer isso em Mbanza Kongo, lá onde está o túmulo do ‘Pomba’, como chamavam o Mais Velho Holden Roberto.

Hoje é o presidente da CASA-CE. Qual é a verdadeira história desta coligação, em termos de criação, os fundadores e os objectivos?

Depois de não termos conseguido a participação em 2008, a partir de 2010, comecei a fazer estudos. Primeiro, eu tinha uma única carrinha, que era também fruto do acordo feito com a UNITA, que eram três. Mesmo como presidente dos POC’s, mas ainda me sentia uma figura não presidenciável. Precisava de galgar e adquiri mais experiência, ser mais conhecido. Estávamos à procura de uma figura que pudesse ser o cabeça de lista dos POC’s. Realizamos um encontro de reflexão, na altura tínhamos um mais velho, que é o malogrado Dr. Inocêncio Vaz, que era o nosso assessor. Dizia que tínhamos que fazer uma reflexão profunda, olhando para os quadros que temos e aquilo que é a situação real. É assim que aconselhou a fazer um estudo aturado, numa reflexão profunda e ficamos a ver quem poderíamos procurar, porque, na altura, tínhamos uma figura que se queria candidatar, a Luisete Araújo. Mas vimos que a Luisete Araújo era mais uma activista social do que propriamente uma líder. Presidenciável de facto não era. Então vimos que poderia fazer parte da máquina, mas tínhamos que encontrar uma figura que pudesse ficar à frente dos POC’s, como um instrumento que o levaria ao poder. Fomos contactados também, na sede do PALMA, pelo Dr. Vicente Pinto de Andrade, que queria ser Presidente da República. Mas vimos que não nos dava aquela certeza de que seria presidenciável à altura. Para ele, a oposição deveria ter apenas dois candidatos.

Quem seriam os candidatos?

Era ele (Dr. Vicente Pinto de Andrade) e o Dr. Chivukuvuku, com toda a honestidade. Tinham que se submeter às primárias e aquele que fosse eleito seria, então, o candidato da oposição. Porque ele dizia que nem mesmo Samakuva estava em condições de se candidatar. Fomos conversando com o Dr. Chivukuvuku, mas ele ainda estava na UNITA. Foi assim que, sabendo o descontentamento que estava a ver, eu e uma equipa fomos contactar o Dr. Marcolino Moco. Falei com ele, convidando-o a tomar uma posição e que fosse o cabeça de lista dos POC’s. Era uma figura com nome, antigo primeiro-ministro, secretário-executivo da CPLP, governador provincial, administrador e ministro. Vimos que era uma figura ideal. Ele disse-nos que não concordava, porque estava bem, descontente sim, mas não se revia na posição de candidato, porque a nossa imprensa também não ajudava muito.

Porquê?

Antes pelo contrário, ele pensava que a imprensa podia ajudar a afundar aquilo que era a imagem. Por outra, dizia que, tendo em conta o seu percurso histórico, não poderia tomar uma posição que pudesse levar a meter abaixo todas as conquistas que teve ao longo da sua vida política. E disse: eu vós aconselho a terem com o Chivukuvuku. Falem com ele. Nesta altura, passava-se aquela crise na UNITA em que o Dr. Chivukuvuku é suspenso. Como já fazia parte do nosso debate interno contactar o Dr.Chivukuvuku, com essa pista dada pelo Dr. Marcolino Moco, refletimos. Tínhamos um colega que estava a fazer o curso de relações internacionais, que é o companheiro Sikonda e o Luzaiadyo Zinguile, foram orientados a contactar o Dr. Chivukuvuku na matéria que precisavam. Nesta conversa que tiveram, eles fizeram sentir esta necessidade. O Luzayadio fez e ele disse que não tem problema, poderíamos conversar.

O que se passou posteriormente?

Depois da conversa mantida preliminarmente pelos meus colegas, tomei a iniciativa de ligar para nos encontrarmos. Recordo-me que, quando liguei, ele disse que já tinha abordado com os meus colegas, mas estava em Benguela, à convite da OMUNGA. Disse que, tão logo regressasse, daria um sinal para nos encontrarmos. Quando regressou, disse que nos poderíamos encontrar. Foi num Sábado, tinha recebido um convite para participar num debate na Rádio Despertar, mas antes passei pelo Benfica, local em que se encontra a sua quinta. E lá conversamos. Fiz-me acompanhar do companheiro Agostinho Silva, vice-presidente do PALMA. Mandou alguém esperar por nós na rua principal e conduziram-no até ao sítio em que estava. Lamentamos o que estava a acontecer com ele, manifestamos a nossa solidariedade e dissemos que o país precisava das suas valias políticas, razão pela qual convidávamos a ser cabeça de lista dos POC’s. A resposta dele, na altura, era de que havia uma forte pressão interna para que saísse. Havia uma vertente que dizia que tinha que ficar na UNITA, que são os generais que estão no exército. Eles que tinha que continuar na UNITA porque a fragilidade também os desrespeitava no exército, porque uma UNITA forte eles ficariam mais confortados. Havia um outro grupo que dizia que tinha de sair, porque o futuro político dele na UNITA estava completamente ofuscado. Por isso, tinha que reflectir. Na altura, disse-me: ‘não posso dar uma resposta política agora, porquanto estou suspenso das minhas funções. Tão logo retome as minhas funções, poderemos reflectir”.

E depois voltou a contactar para falarem de uma aliança?

Tão logo terminou a suspensão, convidou-me para o encontro. Então, convidou-me para a casa dele. Ele disse-me: ‘um grupo forte entende que sim, temos que avançar. Assim, não devo continuar a defraudar as expectativas deste grupo. É um grupo grande e não pequeno’. Disse que o grupo entende que não pode ser cabeça de lista dos POC’s, mas temos que entrar na máquina. Como não conhece todos os POC’s, diz que não quer. Mas vão entrar todos no PALMA e transformamos o partido. Eu (Chivukuvuku) fico o presidente, você (Manuel Fernandes (vice-presidente) e arranjamos um secretário-geral. Foi praticamente onde tudo começou. A minha resposta foi ‘não’, porque seria um risco. O partido PP fez este trabalho, realizaram um congresso, ele passou à frente do partido que tinha uma outra designação, para ser reconhecido pelo Tribunal Constitucional levou um ano. Como as eleições serão em Junho, até passar podemos não ser reconhecidos e criar dificuldades à participação. Por outro lado, também sou presidente da coligação, por isso seria uma traição deixar os colegas e eu partir para um outro projecto. Não posso fazer isso. Disse-lhe que o melhor seria partir para a coligação, deixando de ser presidente e convidamos a ser o presidente. A condição que se impôs é que não poderia ser o cabeça de lista, mas sim a figura ideal.

Não houve contestação da nossa parte e entendemos que deveríamos aceitar. No segundo encontro concordámos que tínhamos que criar uma estrutura política que deveria ser uma confluência heterogênea do ponto de vista étnico do nosso país. Perguntaram-me se era de onde, respondi que do Uíge. Então tínhamos que olhar para um Kimbundu de gema, um do leste. É assim que, para Kimbundu, havia dois nomes: engenheiro Laurindo e do Alexandre Sebastião André. Para o Leste, o Lindo Bernardo Tito e o Dr. António Muachicungo. Na mesa, o Dr. Chivukuvuku disse que já tinha trabalhado com algumas destas pessoas na Assembleia Nacional, garanto confiança a Alexandre André e a Lindo Bernardo Tito. Mas o Lindo esteve primeiro, depois veio o Alexandre André. Depois de criada essa ossatura, chegamos então à conclusão que deveríamos criar a comissão que deveria trabalhar para a constituição dos órgãos da futura comissão. Nós, os POC’s, éramos três partidos políticos e o companheiro Sebastião André mais outro.

O Lindo Bernardo Tito, na altura, estava a idealizar um partido político. E havia o bloco central que era o Dr. Chivukuvuku. Nas negociações, devo reconhecer que nós os POC’s fomos muito prejudicados na altura. Deixámos de ser tidos como três partidos políticos para ser um ente. Quando se definiram as quotas eram os POC’s, bloco central, Plataforma Política e o companheiro Alexandre Sebastião André. Não entendemos, mas deixámos, porque o que pretendíamos era um instrumento político para o país. Por isso, não criamos dificuldades. É assim que se estratificou o país em quatro regiões. A Norte seria coordenado por nós, a Kimbundu pelo companheiro Alexandre Sebastião André, a Leste por Lindo Bernardo Tito, e a Centro Sul pelo Dr. Chivukuvuku.

Como é que entra o general Miau nesta operação?

Quando vamos fazer a distribuição, o próprio Dr. Chivukuvuku dizia que mais uma figura iria entrar na CASA. Quando fizemos a ossatura inicial, o almirante Miau não estava connosco. Primeiro, criamos a CASA, o congresso constituinte, que passou aqui no HCTA, em que o Willian Tonet participou – e havia uma forte pressão para que fosse tido também como uma das partes. Mas isso já não aconteceu porque não estava na ossatura quando se organizou a própria CASA. Trabalhamos para a sua implantação em todo o território nacional. O almirante Miau aparece, podemos assim dizer, nas vésperas das eleições. Dizia-se que alguém de peso vai aparecer, mas ele não podia fazê-lo publicamente sem antes passar à reforma. É assim que se escreve. O Presidente da República decidiu passá-lo à reforma no último dia porque os prazos prescrevem. Recordo-me de que, dois dias antes, o almirante Miau apareceu, apresentaram-nos, conhecemos e quando saiu entrou imediatamente. Como na altura quem tinha que indicar o candidato a vice-presidente era o próprio presidente, então todos concordamos que o almirante fosse o candidato à vice-presidente da República. Como sendo militar, deu-se a ele a responsabilidade de ser o director-geral da campanha de 2012. Fruto do resultado, depois das eleições foi indicado presidente do grupo parlamentar.

Mas quem são os fundadores da CASA-CE?

Honestamente, lamentamos quando se diz hoje que o Dr. Abel Chivukuvuku criou a CASA. O Dr. Abel não criou a CASA sozinho. Aliás, nós tivemos a ideia. Podem perguntá-lo se ele é que nos foi contactar ou nós o contactamos para fazer a CASA? Nós é quem fomos e a ideia era ele ser o cabeça de lista. Só que houve evolução. Hoje não se consegue assumir isso. Concordamos que ele, fruto do seu conhecimento, conseguiu arrecadar receitas que apoiaram a implantação da CASA em todo o território nacional, mas também nós os partidos políticos contribuímos. Cada um contribuiu com o equivalente a 45 mil dólares norte-americanos.

‘Não devemos nada a Dr. Abel Chivukuvuku’

Hoje se diz que Abel Chivukuvuku reclama uma dívida de cerca de USD 2 milhões à CASA. É verdade que existe esta dívida?

Não gostaria de entrar nos meandros desta dívida. Se for para ser certificada, com toda a honestidade, haveria dificuldades. Ela foi paga na totalidade e, neste momento, a CASA não deve absolutamente nada.

Quem reclama a referida dívida?

Depois das eleições, o Dr. Abel chegou a reclamar que a dívida total ou a contribuição que deu para a extensão da CASA é de USD 1 milhão e 600 mil. Mas não temos nenhum registo milimétrico que neste dia entrou X ou Y. Reconhecemos ter entrado alguma coisa, porque, na altura, o financeiro era o malogrado Dr. Carlos Morgado. No entanto, depois de tudo, o Dr. Abel diz que o que se deve a mim é USD 1 milhão e 600 mil. É normal que se diga isso, mas a CASA pagou tudo isto. Além disso, a grande dívida é de mais de USD 5 milhões, que foi contraída a um empresário chinês. Trabalhou connosco, é uma pessoa de boa-fé, fez-se esta dívida e, infelizmente, o dinheiro que recebemos da campanha, para as eleições, foi usado e não fomos capazes de usar para reduzir metade da dívida. É um passivo que, infelizmente, estamos a carregar, porque quem herda o activo, também herda o passivo. Ao Dr. Abel Chivukuvuku, a CASA não deve absolutamente nada.

Antes pelo contrário, reconhecemos que da sua cápsula, podemos dizer enquanto presidente da CASA, não se recebeu a carrinha, que continua com ele até hoje. Há outras três carrinhas que não se recebeu: uma delas estava atribuída ao Dr. Américo, outra com o nosso amigo Félix Miranda. Entendemos que fizeram o seu trabalho e são pessoas que contribuíram, positivamente, para a organização, por isso nós deixamos. No entanto, quando se fala hoje que a CASA foi criada por uma pessoa, não é verdade. Há fundadores e co-fundadores. Mas não se assume isso. Isso é uma desonestidade intelectual muito grande, não se faz isso. Não é verdade que uma só pessoa fundou a CASA. Nunca quisemos trazer isso à tona, mas é aborrecido quando temos um projecto, nós é que tivemos a legitimidade e a legalidade. Nós é quem fomos ao encontro do outro para criar o projecto político. O facto de esta pessoa predispor de meios para fazer a implantação não retira o mérito de os outros serem reconhecidos como co-fundadores da organização. É uma questão de honestidade intelectual e política.

Assumiu a liderança da CASA depois das saídas de Abel Chivukuvuku e André Mendes de Carvalho ‘Miau’. Já se fez uma verdadeira introspecção sobre o que terá ocorrido na organização?

Quando assumi esta função a convite dos meus colegas e de outros quadros, tive que reflectir profundamente antes de aceitar. Uma das coisas que existia é o conflito latente entre os independentes e os partidos políticos. Como sabe o meu amigo, os dois primeiros presidentes não eram presidentes de partidos políticos.

Aconteceu apenas isso?

Não foi isso apenas. Houve outras questões. Algumas vezes queriam impor as suas vontades perante os partidos políticos, mas de uma forma diferente. Às vezes, ao impor esta autoridade não se buscava o consenso. O princípio era de que sou o presidente e vocês têm que aceitar. Ora, a coligação deve funcionar na base de consensos, porque em tudo se deve ter paciência para um diálogo aprofundado e aturado. Depois é que se pode avançar. Não pode haver imposições. Houve erros desta natureza que fez com que, às vezes, esgotasse a paciência dos partidos políticos. O facto de saberem que eram os entes constituintes, que tinham a legitimidade da organização, em que a sua posição não era tida nem achada, mas pessoas que não eram líderes de partidos políticos tinham maior consideração e apreço do que o líder dos partidos, isso criou anticorpos. Por outro lado, era a confusão que se criava entre independentes e não independentes. Hoje estamos a caminhar para um processo de acabarmos com essa figura do independente. Os problemas não estavam entre os partidos, mas sim entre os partidos e os independentes. O líder também sendo independente não tinha uma posição correcta de mediar algo que pudesse salvar o momento menos bom.

Falou-se da existência de uma carta que terá forçado a saída do almirante Miau da liderança por uma suposta letargia à frente dos destinos da CASA-CE. O senhor é agora o presidente, já conseguiu virar o jogo?

Aquando do meu discurso de empossamento, dizíamos que vamos retomar a mística da CASA de ser uma instituição política de proximidade aos cidadãos, dinâmica e activa que vai ao encontro destes onde se encontrarem. Estou a caminho de três meses como presidente da CASA, e penso eu que os factos falam por si. A abertura do ano político não fizemos em Luanda, mas sim no Huambo. Já estive no Zaire. Em Luanda tenho estado a andar pelos municípios. No Sábado estivemos no Zango para contactar os cidadãos. Neste momento, estou a me preparar para uma digressão à frente sul, que me vai levar ao Namibe, Benguela, Huíla e Cuanza-Sul. Mesmo com o novo decreto, respeitando as medidas que elas impõem não vamos deixar de fazer o nosso trabalho político. Sinto-me confortável, porque conheço aquilo que fez com que os outros olhassem para uma posição de frente. Gostaria também de dizer que o propósito que nos move não é apenas nosso, eu como presidente da CASA, eles como presidentes dos partidos ou vice-presidentes. É o propósito por Angola e pelos angolanos. Só chegamos a uma mudança porque o líder tinha uma filosofia de que se deveria fazer um trabalho à sombra e não algo visível, que, para ele, deveria ser só feito por altura da campanha. Isso constrangeu a expectativa de muitos quadros, as bases reagiram e não houve pressão dos meus colegas.

‘A CASA-CE não vai entrar em nenhuma Frente Patriótica’

Como está o país hoje?

O país está numa condição difícil como consequência dos erros de governação que foram cometidos até agora. Está numa situação difícil porque, na altura da campanha eleitoral, elevou-se demasiado a fasquia. Os fenómenos que ocorreram após as eleições contribuíram para que a situação económica do país regredisse significativamente, havendo hoje dificuldades sociais enormes por parte dos cidadãos. O país não é visto apenas através dos discursos e das instituições. O bem-estar e o desenvolvimento do país vê-se pelos seus cidadãos. Não pode haver um país a brilhar com os seus cidadãos a passarem fome. Há alguns erros que entendemos que devem ser corrigidos.

Pode enumerar alguns?

Eu não concordo, por exemplo, com o câmbio flutuante. É uma medida económica sugerida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O FMI é um banco. E um banco não trabalha para a satisfação do interesse do cliente, mas sim em função dos seus interesses. É como as empresas: visam a maximização dos lucros e não o prejuízo. As políticas de austeridade que impõe concorre para um conjunto de medidas antipopulares, como despedimentos. O câmbio flutuante concorre, sobremaneira, para a depreciação da nossa moeda, para a inflação. Outro problema é a situação de saúde, com a malária que está a matar muita gente. Em Luanda, por exemplo, fez-se a leitura de que gastar USD 30 milhões para a recolha do lixo está  se a investir no vazio. A leitura que se tem é a de que o lixo não agrega valor, mas isso é errado. Devemos atacar as causas e não as consequências. Investir um USD 1 no  lixo, estamos a acautelar investir USD 6 na saúde curativa. Portanto, investir no lixo, estamos a investir na saúde preventiva. A outra situação é a diplomacia económica, que não deve estar virada para a diplomacia de financiamento, mas sim de investimento.

Qual é a percepção que tem sobre a luta contra a corrupção?

Primeiro, gostaria de dizer que não me revejo naqueles que dizem que o Presidente da República, João Lourenço, está a perseguir. Nós sempre reclamamos que o nosso país deveria ter instituições fortes e não pessoas fortes. E o que se está a fazer é deixar as instituições fazerem o seu trabalho. No entanto, estou de acordo que depois da guerra a corrupção é o segundo mal que deveria ser combatido. Se o país está a experimentar o grau de dificuldades que tem hoje é por força da corrupção. Desde a gasosa à grande corrupção. Por isso, quando alguém fosse indicado para um cargo público era festança na família, porque tinha chegado a sua vez. O Ministério Público não deve esperar que alguém vá bater à sua porta. Uma denúncia pública pode ser investigada. Há um conjunto de denúncias públicas que o Ministério Público não faz nada.

Em 1996 rejeitou participar numa Frente Patriótica. Estamos em 2021 e há uma outra Frente Patriótica que se prepara para enfrentar o MPLA em 2022. Vai aderir?

A CASA-CE é uma convergência ampla. Estamos abertos para outras sensibilidades juntarem-se a nós e avançarmos. Temos o nosso percurso e o nosso destino. Estamos abertos a receber. Sendo assim, não estamos dispostos a entrar numa outra Frente. Antes pelo contrário, temos o nosso caminho e propósito por Angola e pelos angolanos. Quem quiser juntar-se a nós, junte-se.

Quer dizer que a CASA-CE não entra na Frente Patriótica?

Não, de forma alguma. A CASA-CE não vai entrar. É uma coligação e não vai entrar. Aliás, por aquilo que estou a perceber, não se trata de frente nenhuma. Fala-se de uma Frente, mas no final tudo vai desembocar numa ampla integração de várias sensibilidades num determinado partido político. É impossível isso para a CASA-CE.

Tornou-se recentemente membro do Conselho da República. Vai concorrer contra a pessoa que vai aconselhar nos próximos tempos, uma vez que dizia há pouco tempo não se sentir ainda presidenciável?

Ou já se sente presidenciável? Hoje o contexto é diferente. Estou a terminar o meu segundo mandato como deputado à Assembleia Nacional, não sou uma figura anónima a nível nacional e tenho experiência política bastante. Hoje sinto-me presidenciável. Tenho a confiança dos meus colegas e fui posto nesta função para concorrer para Presidente da República. Não sou o presidente da CASA-CE porque o meu objectivo não é este. A CASA-CE é um instrumento político que me deve levar a ser o presidente de todos os angolanos.

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