EUA: A Imagem Menos Boa do “José Eduardo dos Santos” – Carlos Kandanda

Há muita conversa em torno da «imagem» do antigo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que foi filmado do Aeroporto de Dubai, nos Emirados Unidos Árabes.

Alega-se que ele estava de regresso para Barcelona, em Espanha, onde se exilou desde 2018 quando passou o Poder ao João Manuel Gonçalves Lourenço. Vendo a imagem dele, eu fiquei com o sentimento misto: de tristeza e de vergonha. Porque, seja qual for a qualidade da sua governação, mas a verdade é que, ele exerceu o cargo de Presidente de Angola durante 38 anos consecutivos. E, isso ocorreu na época muito conturbada. Nessas circunstâncias, na minha opinião pessoal, fica muito difícil fazer um julgamento apropriado.

Sem dúvidas, nem tudo foi um mar de rosas; houve coisas boas e também houve muitos erros cometidos. Caso contrário, seria absurdo e ridículo tapar o sol com a peneira. A verdade é que as pessoas são julgadas pelas suas Obras que deixam atrás, que são sujeitas ao escrutínio e à avaliação. Neste caso, eu não estou na lógica do tempo, porque o tempo não julga, mas sim, traz à superfície o que ficou oculto e menos despercebido. Por isso, quando julgamos os actos de outras pessoas devemos precaver-se da “justeza” daquilo que fazemos, por que o tempo trará à superfície o ocultado. Na política é menos prudente confundir as coisas pessoais com a vida pública. Quando assumimos uma atitude revanchista perdemos o norte da nossa visão e caímos na bagatela.

O que está acontecer com a História do nosso País é triste e vergonhoso. Começamos mal com a transição pacífica do poder político. A Zâmbia, a Namibia e Mozambique, por exemplo, estão a proceder bem. A transição tem sido não apenas pacífica, mas sobretudo, digna e segura. Os antigos Presidentes como Kenneth Kaunda, Sam Nujoma e Joaquim Chissano estão dentro do país, com toda dignidade, bem respeitados, e a transmitir livremente as suas experiências, como Mais Velhos. É assim que manda a “cultura africana,” aprender com os anciãos e os patriarcas.

A África do Sul está viver uma situação diferente dos três países acima referidos. O antigo Presidente Jacob Zuma está mergulhado na corrupção, a enfrentar vários processos judiciais, que deram inicio muito antes de sair do poder. Porém, acontece que não só ele que está implicado neste processo; mas sim, a Liderança do ANC. O actual Presidente da Africa do Sul, Cyril Ramaphosa, e os outros dirigentes do Partido, estão a responder perante a Comissão de Inquérito sobre a má-gestão, a corrupção, os desvios de fundos públicos e o financiamento ilegal do Partido ANC. Não obstante as “imunidades,” estão todos sujeitos à responder fisicamente perante a Comissão Judicial. Este é o sinal evidente de que, a Justiça Sul-africana não só é apartidária, mas sim, é suprema e é poderosa.

Infelizmente, o que está acontecer em Angola é muito diferente. Os Processos de corrupção são selectivos e politizados, que visam essencialmente lavar a imagem, afastar os adversários políticos e desviar a atenção da comunidade internacional. Vejamos! Os Juízes, os Magistrados e os Advogados todos são membros dos Comités de Especialidades do Partido no Poder, que impõe as decisões sobre os Tribunais Superiores. Aliás, esses Juízes e Magistrados estão implicados em muitos actos de corrupção e de desvios de fundos públicos. Logo, onde vão buscar a “força moral” para condenar os outros com que roubaram juntos?

Na verdade, o que está acontecer com o Presidente José Eduardo dos Santos é inédito, um paradoxo, uma coisa estranha e anormal, que deve exigir uma reflexão profunda quanto à motivação e à natureza deste Partido que foi forjado por ele próprio durante quatro décadas. E, hoje virou-lhe às costas, humilhado e exilado no estrangeiro, num país que está cheio de problemas de corrupção, de conflitos internos, e étnico-culturais.

Repare que, a História da China foi conturbada, muito mais conturbada que a História de Angola, tendo em consideração a dimensão da “Grande Revolução Cultural Proletária,” que devastou o país, ter causado (de 1966 até 1976) cerca de 20 milhões de mortos. Mas nem por isso que o Presidente Mao Tsé-Tung tenha deixado de ser o símbolo da China e o símbolo da Revolução Chinesa. Dizia um Filosofo Francês: “Não existe nenhuma Revolução de grande dimensão sem ter passivos.”

Para dizer que, cuidemos bem da nossa História contemporânea. Ninguém virá escrever a História de Angola sem Agostinho Neto, sem Holden Roberto, sem Jonas Savimbi e sem José Eduardo dos Santos. Eles constituem os “marcos históricos incontornáveis” da Luta pela Independência de Angola e pela Democracia Plural. Cada geração de um país tem o seu contexto, tem os seus desafios e tem o seu dever e a sua obrigação de fazer tudo que estiver dentro do seu alcance para defender e salvar a Pátria.

Luanda, 01 de Maio de 2021.

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