Depois das suspeitas de corrupção pela Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana, José Eduardo dos Santos prepara agora a sua defesa, mostrando-se decidido a provar em tribunal a sua inocência perante as acusações de que tem sido alvo, soube o Expresso junto de uma fonte do seu gabinete.
Eduardo dos Santos prepara defesa contra acusações
Através de uma carta preparada em Luanda por um grupo de advogados da sua confiança e enviada à PGR, o antigo Presidente angolano revela-se indignado com essas acusações e manifesta-se pronto para esclarecer todas as zonas cinzentas dos escândalos de corrupção em que o seu nome surge no epicentro como alegado cérebro.
Na lista destas acusações perfila-se o envolvimento da Suninvest, empresa adstrita à sua fundação – FESA – no negócio que culminou com a apropriação alegadamente ilícita por esta empresa de terrenos nas encostas do Miramar e com a construção, na mesma área, do Hotel Intercontinental. Na mesma lista está também a parceria estabelecida entre a Sonangol e o grupo chinês CIF – China International Fund – liderado pelo empresário sino-britânico Sampa Pa.
“Receio que se venha a abrir uma verdadeira caixa de Pandora e que possam vir a surgir muitas surpresas” disse ao Expresso um alto dirigente do MPLA, que pediu anonimato.
Esta carta é feita depois de Eduardo dos Santos ter sido forçado a reconhecer a sua responsabilidade directa no envolvimento do general Leopoldino Nascimento na gestão do património do CIF, deixado ao abandono em Angola após Sam Pa ter sido detido em Pequim por suspeitas de desvios de avultados recursos chineses em vários negócios em Angola. “Quer apresentar-se ao tribunal como declarante para provar que os negócios feitos em Angola pelo CIF foram inteiramente privados e que nada têm a ver com recursos públicos”, refere um advogado conhecedor do processo.
O antigo Presidente predispõe-se a prestar o seu depoimento por videoconferência na embaixada de Angola em Espanha, país a que deverá regressar na próxima semana após uma curta estadia de alguns dias no Dubai em visita familiar à filha, Isabel dos Santos. No seu contra-ataque, José Eduardo dos Santos deverá esclarecer também as informações prestadas por Manuel Vicente ao Presidente João Lourenço que o colocam como principal responsável por algumas das maiores operações financeiras realizadas pela Sonangol e que as autoridades angolanas consideram ter lesado gravemente os interesses do Estado.
O antigo homem forte da Sonangol defende-se argumentando que se limitou a cumprir ordens superiores. “Quem me apresentou Sam Pa foi o antigo Presidente, mas não creio que no contexto do nosso país, fosse possível alguém no passado não cumprir as suas ordens” terá adiantado Vicente durante a audiência com João Lourenço.
Apesar de ter exposto José Eduardo dos Santos, para as autoridades angolanas não é certo que Manuel Vicente saia completamente ileso dos inúmeros estragos provocados pela onda de corrupção que, durante anos, atingiu o sector petrolífero de Angola. “Dificilmente será inocente, porque é difícil acreditar que tudo tenha sido feito por obra exclusiva do antigo Presidente” adverte uma fonte dos serviços de inteligência.
Contra o ex-vice-presidente de Angola está agora também o português Mário Leite Silva, antigo braço direito de Isabel dos Santos que, num extenso documento enviado à PGR de Angola e outras entidades em Portugal, pôs a nu a engenharia financeira do envolvimento da Sonangol com a petrolífera americana Cobalt e a Nakasaki, liderada em simultâneo pelo próprio Manuel Vicente e integrada também pelos generais Hélder Vieira Dias, antigo chefe da Casa Militar, e Leopoldino Nascimento, homem de mão de Eduardo dos Santos. “Manuel Vicente, que já é arguido no processo CIF com a acusação de peculato a aguardar formalização, pode escapar-se em muitas coisas, mas não pode justificar como fazia negócio consigo próprio”, disse uma fonte do Ministério Público angolano. Um desses negócios tem a ver com petroleiros que, sendo sua propriedade, durante o seu mandato, prestavam serviço à própria Sonangol.
Contactado pelo Expresso, Manuel Vicente não esteve disponível para qualquer esclarecimento. Também não foi possível obter uma reacção de José Eduardo dos Santos.