EUA: Padre e ativista angolano da província de Cabinda Raúl Tati defende que “igrejas africanas” devem emancipar-se de Roma

O antigo vigário-geral da diocese de Cabinda, Raúl Tati, considera que a igreja africana precisa começar “a caminhar com os seus próprios pés” e emancipar-se de Roma. A aposta deve ser na auto-sustentabilidade, defende.

Raúl Tati, que durante muitos anos esteve à frente da casa de formação de sacerdotes na diocese de Cabinda, aponta alguns caminhos que podem ajudar a igreja africana a conseguir mais independência.

“Algo mais se devia fazer nessa perspetiva para que a igreja africana pudesse emancipar-se. Para tal, os padres e clérigos africanos já defendiam há bastante tempo um concílio para África e não um sínodo. Deveria haver um concílio para África para suscitar vários assuntos. Porém, o concílio é onde são tomadas várias decisões definitivas, diferentemente do sínodo onde o papa, bispos e outros consultam”, explica em entrevista à DW África.

Atualmente, muitas denominações religiosas em África são consideradas instituições comerciais. E várias franjas da sociedade veem-se dominadas por várias religiões e as chamadas seitas religiosas. Em causa está a formação e o comprometimento daqueles que estão à frente destes grupos, afirma Raúl Tati.

Revisão do modelo de formação dos sacerdotes

O antigo secretário-geral da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) teme que a má formação de alguns agentes religiosos seja um grande empecilho e pede uma revisão do modelo de formação dos sacerdotes na Igreja Católica Apostólica Romana.

“O próprio modelo de formação de sacerdote tem que ser revisto. Este modelo romano hoje já põe em causa. Cada contexto tem os seus desafios e é preciso rever estes modelos. Hoje na Europa, por exemplo, já não se encontram vários seminários albergando vários seminaristas, ou seja, os seminaristas estão numa determinada paróquia e estes, por sua vez, frequentam a faculdade normalmente. Nós africanos devemos, sobretudo, ser um pouco mais compatíveis e isto não significa pôr em causa a obediência a Pedro”.

Numa altura em se registam várias crises nas mais variadas igrejas em África – e muitas servem de trampolim para extorquir os crentes mais pobres – o antigo vigário-geral da diocese de Cabinda afirma que a emancipação africana passa pela aposta na auto-sustentabilidade das igrejas africanas.

“As igrejas africanas estão super dependentes da congregação para a evangelização dos povos. Se houver emancipação económica e financeira, certamente vamos passar para outro tipo de emancipação. Roma continua a controlar as igrejas de África por causa disso”, conclui.

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