O Tribunal Provincial Popular de Havana, na República de Cuba, deu início, esta sexta-feira, 11, ao julgamento do estudante angolano, bolseiro, de 28 anos, que se encontra detido desde o mês de Setembro de 2020, acusado pelas autoridades cubanas de ter assassinado o seu ex-professor, próximo da residência onde este vivia. A sessão durou seis horas e foram ouvidas todas as testemunhas arroladas no processo, soube o Novo Jornal junto da comunidade estudantil em Cuba.
O julgamento teve início pontualmente às 9:30, como estava previsto, e o juiz, após ler a acusação ouviu em declarações o jovem estudante angolano de 28 anos, que negou todas as acusações.
Armindo Leitão Jeremias, estudante finalista do curso superior de Sistema de Informação de Saúde, da Faculdade de Tecnologia da Saúde da Universidade de Ciências Médicas de Havana, disse em tribunal que esperou sempre por este momento e de seguida expressou a sua dor.
“Nunca me ouviram, apenas me acusaram e nada mais. No dia anterior aos factos, eu queria trocar dinheiro, 190 cuc (moeda local) por dólares americanos. Como sempre, o professor era a pessoa que nos fornecia os dólares, dávamos o dinheiro e só depois recebíamos o que nos pertencia. Ele sempre ia sozinho, tanto que pedi muitas vezes para o acompanhar e ele sempre recusou. Apenas dizia para não me preocupar e no dia seguinte apareceu morto”, explicou.
Segundo o bolseiro, antes de tudo, o professor cubano apareceu na sua residência com o semblante carregado, que mostrava preocupação, isto no mesmo dia em que desapareceu.
“Eu perguntei-lhe: “professor, passa-se algo?” Como sempre me respondeu que não e que estava tudo bem. Mas perguntou-me onde ficava a banheiro, que lhe indiquei. Posto lá, perguntou-me se não tinha balde do lixo, eu disse-lhe que, após usar a toalha, que me pediu antes, podia colocar mesmo ali, que eu depois tirava. Quando se limpou, queria colocar a toalha num saco e levá-la consigo, porque se calhar deu conta que havia manchas de sangue, mas como eu não sabia de nada, disse-lhe que não, que ele podia colocar mesmo ali na mala que estava próxima”, contou.
De acordo com Armindo Jeremias, o professor chegou a pedir o dinheiro e ajudou-o a contar.
“O professor contou o dinheiro e disse que mais tarde voltava, tudo isso foi por volta das 10 horas. Ele foi embora e eu fui dar as minhas voltas, mas como o tempo passava, fui ligando para ele e ele não atendia. Fiz várias chamadas e o professor não atendia, então passei em Fetesa, minha residência estudantil, perguntei por ele, e ninguém sabia onde ele estava” explicou.
Segundo o jovem angolano, quando eram 14: 00, o professor apareceu na sua residência com ar de cansado como se tivesse corrido, tendo ele perguntado se se passava alguma coisa, ao que o professor respondeu que não.
Armindo Jeremias disse ao juiz do Tribunal de Havana que apenas tomou conhecimento da morte do amigo e ex-professor nas redes sociais.
Ontem, o tribunal colheu também os depoimentos das testemunhas no processo e agendou para a próxima semana a leitura da sentença.
A primeira testemunha foi uma senhora que vive ao lado da residência onde foi encontrado o corpo do professor cubano.
“Ela afirmou ter visto pela manhã um jovem arrastando uma mala, pela cor da pele e características físicas, nada tem a ver com o Armindo Jeremias, por se tratar de um jovem de pele clara, o que não é o caso do bolseiro angolano”, contaram os amigos do estudante.
A última testemunha foi uma jovem que afirmou ter passado a noite com o estudante angolano, tal como assegurou Armindo Jeremias no seu depoimento.
A defesa do cidadão angolano afirmou em tribunal que não existem provas substanciais para incriminar Armindo Jeremias.
Assistiram ao julgamento amigos, ex-colegas e o representante do Sector de Estudantes da Embaixada de Angola em Cuba, Eugénio Novais.