O Governo angolano prepara, pela primeira vez, uma homenagem às vítimas dos conflitos em Angola no próximo dia 27, dia que assinala mais um aniversário dos massacres de 1977, quando milhares de pessoas foram mortas pela repressão governamental, que muitos consideram uma purga no seio do MPLA, partido no poder. Autoridades angolanas assinalam pela primeira vez, em 44 anos, a data do massacre que terá deixado cerca de 30 mil vítimas.
O sobrevivente ao massacre Miguel Francisco “Michel” demarca-se das cerimónias que considera uma tentativa de “branquear a imagem dos que assassinaram cidadãos inocentes”.
Advogado e autor do livro “Reflexão: Racismo como cerne da Tragédia do 27 de Maio”, Francisco “Michel” exige a condenação dos responsáveis dos assassinatos e uma declaração pública de perdão, como condição para reconhecer qualquer acto do Governo sobre a data.
“Não me revejo nessa encenação enquanto sobrevivente”, enfatizou “Michel”, quem, apesar de louvar a iniciativa do Presidente da República, afirma-se contra o formato de reconciliação nacional apresentado pela chamada Comissão de Reconciliação.
Ele considera que o 27 de Maio “foi um crime político e uma violação dos direitos humanos” e não o resultado do conflito armado.
“A maior parte das pessoas que morreram nem sequer sabiam quem era Nito Alves”, afirma.
Plataforma 27 de Maio deixa a Comissão de Reconciliação
Também a Plataforma 27 de Maio, que congrega sobreviventes e órfãos do alegado golpe de Estado, acusou, no domingo, 23, o Governo de “encenar” uma homenagem às vítimas com fins de propaganda, ao mesmo tempo que anunciou a sua desvinculação da Comissão de Reconciliação
Em carta endereçada ao presidente da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) e ministro da Justiça e Direitos Humanos, Francisco Queiroz, a Plataforma também considera como “uma encenação” que pretende “passar uma esponja sobre os massacres que vitimaram milhares de angolanos”.
A homenagem
Pela primeira vez, em 44 anos, o Governo angolano vai realizar uma cerimónia para assinalar o 27 de Maio, uma alegada tentativa de golpe de Estado, que deverá reunir sobreviventes e órfãos, de acordo com o programa governamental.
Estão previstos dois momentos no dia 27 de maio, o primeiro no cemitério de Santa Ana e o segundo na Praça da Independência.
Francisco Queiroz marcará presença na denominada Homenagem às Vítimas dos Conflitos Políticos, na Praia da Independência, em Luanda, juntamente com um representante da Fundação 27 de Maio e um antigo -membro das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA).
Também deverão intervir duas órfãs dos conflitos, que receberão os certificados de óbito dos pais mortos.
Na ocasião será feito um minuto silêncio em memória das vítimas e será também depositada uma coroa de flores.
Antes, e de acordo com o programa, o cemitário de Santa Ana será palco de uma homenagem semelhante com desposição de flores e respeito de um minuto de silêncio.