Conforme anunciado ontem, decorreu esta quinta-feira a segunda autópsia ao corpo de Inocêncio de Matos, jovem estudante que morreu na sequência de uma manifestação contra a pobreza e a corrupção em Luanda no dia 11 de Novembro, severamente reprimida pelas forças da ordem.
Depois de terem sido ultrapassados “os obstáculos”, anteriormente impostos, o advogado da família do jovem, Zola Bambi, confirma à RFI que a autópsia decorreu na presença, tal como tinha sido reclamado, “dos membros da família, do fotógrafo que desejavam, técnicos assim como o médico indicado pela família.”
Ao dar conta das primeiras observações resultantes desta autópsia na qual esteve também presente, Zola Bambi refere que “o certo é que há orifícios no crânio e determina-se uma morte violenta”. O advogado que diz agora pretender “aguardar pelo relatório para melhor se pronunciar”, indica ainda que se esperam os resultados “o mais urgente possível”, sem todavia mencionar prazos.
Questionado sobre a sua intenção, já anteriormente anunciada, de levar o caso à justiça, Zola Bambi confirma que “se vai realizar, tendo em conta que se trata de um homicídio. Não importam as circunstâncias, é um homicídio, há uma morte”, insiste. “Agora vamos esperar que as coisas avancem para podermos melhor trabalhar, mas adiantamos de princípio que o que estava previsto e o que está preparado é (uma acção) contra a Polícia Nacional e o Estado Angolano”, acrescenta ainda o advogado.
Inocêncio de Matos, jovem estudante de 26 anos, morreu no passado dia 11 de Novembro, dia em que se assinalou o 45° aniversário da independência de Angola e em que centenas de jovens desceram às ruas de Luanda para exigir medidas mais contundentes na luta contra a corrupção e a pobreza.
Durante esta manifestação marcada por violências e uma severa repressão policial, Alfredo de Matos, pai do estudante, alega que Inocêncio de Matos foi morto pela polícia em circunstâncias “particularmente brutais”. Afirmações que se baseiam em testemunhos segundo os quais Inocêncio de Matos morreu no local após ter sido alvejado pela polícia.
Contudo, de acordo com informações fornecidas pelo hospital Américo Boavida em Luanda onde o jovem deu entrada, ele teria sido atingido na cabeça com um objecto contundente, chegou ainda com vida nessa unidade de saúde foi e submetido a uma intervenção cirúrgica, acabando por falecer dos seus ferimentos no hospital.
Perante esta versão dos acontecimentos que não convenceram os familiares do jovem, foi pedida uma segunda perícia. Depois de ter sido agendada para a passada sexta-feira, a organização da nova autópsia teve de ser adiada nomeadamente por não ter sido, na altura, autorizada a presença de um fotógrafo conforme reclamavam os próximos de Inocêncio de Matos. Uma situação que acabou por ser desbloqueada, permitindo a realização hoje da perícia, à qual se devia seguir uma vigília na casa onde o jovem residia, antes do seu funeral, previsto em princípio este sábado.