Em entrevista à DW África, o analista Olívio N´Kilumbo considera que o MPLA, no poder em Angola, não é um partido democrático e elogia a “coragem e qualidade” da oposição, com o lançamento da Frente Patriótica Unida.
Foi oficialmente formalizada esta terça-feira (05.10) em Angola a Frente Patriótica Unida (FPU), uma plataforma que congrega três partidos políticos da oposição angolana: a UNITA, o PRA-JA e o Bloco Democrático. O conjunto propõe-se a derrubar o MPLA, a força no poder desde 1975.
A DW África ouviu o analista político angolano Olívio N´Kilumbo sobre o nascimento da FPU, uma congregação que aos olhos do politólogo está em boas condições para tirar o MPLA do poder.
DW África: O que se pode esperar politicamente da Frente Patriótica Unida (FPU)?
Olívio N´Kilumbo (ONK): Primeiro, é realçar a coragem e a qualidade da ação da oposição angolana. Ficou claro que afinal esta é a oposição e a oposição deve objetivar alternância. Esta Frente Patriótica Unida serve para a alternância e espero duas coisas desta estrutura.
DW África: Quais?
ONK: A primeira é desalojar o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o que é possível, e em segundo diminuir a sua influência no parlamento. Porém, este propósito tem grandes obstáculos. Um é a lei eleitoral que é completamente favorável ao MPLA. É preciso avançar com os princípios que a oposição defende na lei eleitoral, que são o apuramento municipal e provincial por um lado e a independência da comissão eleitoral e do seu presidente por outro. São elementos fundamentais para a monitorização e controlo do voto.
DW África: Está a dizer que até as instituições estão a lutar a favor do MPLA?
ONK: Sempre lutaram. As instituições em angola são republicanas. No discurso da Frente Patriótica Unida, os três líderes chamaram a atenção para o patriotismo e para a visão republicana das instituições. Infelizmente as instituições em Angola estão ao serviço do regime, porque ainda não somos uma democracia. Em Angola, não se respira os pressupostos básicos da democracia. Quem acredita na democracia é o povo em geral e a oposição, mas o MPLA não, porque não é um partido democrático.
DW África: A Frente Patriótica Unida tem como arma principal o desgaste da população?
ONK: O desgaste da população é uma arma fundamental. Mas é uma necessidade imperiosa haver alternância política em Angola. São 46 anos de independência e estamos com o mesmo partido. Passaram-se quase 20 anos desde a morte de Jonas Savimbi, ou seja, 20 anos sem guerra, com a UNITA a fazer oposição política no parlamento. Em 20 anos, houve durante 14 anos um boom económico, mas o MPLA não o soube transformar em desenvolvimento económico. No fundo, já não há outra desculpa para o MPLA a não ser a sua incapacidade, falta de competência e falta de vontade em transformar a vida dos angolanos. A alternância política em Angola é um imperativo político absoluto.
DW África: A Frente Patriótica Unida decidiu indicar Adalberto Costa Júnior como líder. Terá ele a tarimba necessária para derrubar o MPLA?
ONK: Do ponto de vista do perfil político, Adalberto Costa Júnior está completamente enquadrado. É um líder que conseguiu conquistar a população. Do ponto de vista político, ele tem uma grande aceitação e é uma das figuras mais influentes. Por outro lado, se no grupo dos três decidiram que era ele o líder, é porque existem condições circunstanciais que estão a seu favor.
DW África: Neste caso, como é que acha que a sociedade vai reagir a este possível “chumbo” da presidência de Adalberto Costa Júnior na UNITA?
ONK: Representa um golpe, em grande medida. Porém, se existir um plano B, uma reação da UNITA que vise, por exemplo, a realização de um congresso extraordinário com um candidato único, Adalberto sairá fortalecido e mais musculado, politicamente falando. A liderança tem de ter capacidade de analisar o momento e dirigir um discurso de esperança e perseverança.