Investigador Eugénio Costa Almeida considera que a “Sovietização” do MPLA é obstáculo para pacto pós-eleitoral em Angola

Angola prepara-se para eleições em agosto. O investigador Eugénio Costa Almeida já antevê o clima pós-eleitoral e defende um pacto entre as forças políticas. Mas questões internas no MPLA podem dificultar este processo.

Angola prevê realizar as suas quintas eleições gerais em agosto de 2022. Está agendada para esta sexta-feira (03.06), em Luanda, uma reunião do Conselho da República, na qual deve ser conhecida a proposta de data para a convocação do escrutínio pelo Presidente angolano, João Lourenço.

Mas o que se espera deste pleito eleitoral e do contexto pós-eleições em Angola?

Em entrevista à DW África, o investigador angolano do Centro de Estudos Internacionais – Instituto Universitário de Lisboa (CEI-IUL), Eugénio Costa Almeida, defendeu que Angola “precisa de um pacto” pós-eleitoral “para acalmar algumas situações sociais e políticas que já estão a ocorrer”.

No entanto, o investigador lembrou que “tudo irá depender de quem é que vai ganhar as eleições e, acima de tudo, quem será o número um do partido vencedor ou da coligação política vencedora”.

DW África: Acredita que estas eleições poderão representar uma virada histórica para Angola?

Eugénio Costa Almeida (EA): Eu tenho algumas dúvidas que as eleições sejam em agosto. Apontaria mais para setembro. Eu gostaria que sim, que houvesse algumas alterações, mas eu tenho muitas dúvidas. Desde logo, tenho acompanhado com muitas reservas as sondagens que têm corrido, em que mostram que parece poder haver alguma alteração, não sei se será qualitativa, mas pelo menos quantitativa em termos de distribuição dos deputados entre o MPLA e a oposição.

Por outro lado, é preciso perceber bem o problema: Como é que a oposição vai aparecer, e depois, aquilo que tem ocorrido em eleições anteriores, que embora digam que não, mas não deixa de ter alguma influência, se haverá partidos com cores e simbologias muito próximas de outras que já havia, nomeadamente da oposição, e que possam ter eventuais influências. E também quem que vai aparecer na listas da oposição, nomeadamente da UNITA. O que se fala é que 15% das listas virão para o Bloco Democrático e para o PRA-JÁ, nomeadamente para Abel Chivukuvuku. E se assim for, em que posição é que a Chivukuvuku vai aparecer.

DW África: Falando de Abel Chivukuvuku, ele diz que teme irregularidades no próximo escrutínio e fez já um apelo urgente para começar a delinear um pacto de estabilidade pós-eleições. O senhor concorda ser necessário este pacto?

EA: O país precisa de um pacto desses, até para acalmar algumas situações sociais e políticas que já estão a ocorrer, como também para ajudar a alavancar ainda mais o país, nomeadamente num ponto de vista social e económico. Portanto, esse pacto é muito pertinente e muito desejável. Se é possível, tudo irá depender de quem é que vai ganhar as eleições e, acima de tudo, quem será o número um do partido vencedor ou da coligação política vencedora.

DW África: Concretamente, caso o MPLA vença as eleições, acredita que esse pacto possa vir a acontecer?

EA: Eu não gostaria de dizer esta palavra, mas enquanto houver essa sovietização do sistema interno do partido, as coisas poderão não ser assim tão fáceis. Uma coisa é o que está no poder legislativo, no poder governativo e outra é quem está a continuar a mandar no Comité Central.

DW África: Em ocasiões anteriores, figuras da oposição já disseram não ter dúvida de que a máquina eleitoral angolana está a ser preparada para a vitória do MPLA em 2022. Como será possível garantir que estas eleições sejam livres, justas e transparentes? Acha mesmo que isso é possível?

EA: Não esquecer que quem manda na Comissão Nacional de Eleições é predominantemente o partido maioritário, o MPLA. É ele que determina quem lidera a CNE. É ele que tem a maioria. Além de que tudo mostra que a empresa que foi contratada para acompanhar o ato eleitoral não parece gozar de muita credibilidade, mesmo internacional. Mas costuma-se dizer que quando há fumo, pode haver fogo, nem que esteja muito escondido.

DW África: Como antevê que Angola poderá sair destas eleições?

EA: Tudo vai depender como é que vai ocorrer e campanha eleitoral e o ato eleitoral.

DW África: É otimista em relação ao ato eleitoral?

EA: Temos que saber ver que Angola é um país que, em termos de cultura democrática, ainda está a dar os primeiros passos. A verdade é essa.

 

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