Os estudantes das universidades públicas angolanas dizem estar a ser vítimas da falta de consenso entre o Governo e os professores do Ensino Superior, que voltaram à greve.
Desde que 2022 começou, os estudantes das universidades públicas de Angola só tiveram aulas em abril. Foi nesse período que o Sindicato dos Professores do Ensino Superior (SINPES) suspendeu a greve de três meses.
Os estudantes (principalmente os finalistas) puderam respirar um pouco de alívio, apesar de muitos constrangimentos, conta Helena Nsuka, do curso de Secretariado Executivo e Comunicação Empresarial na Universidade Agostinho Neto.
“Ficámos 90 dias sem aulas por conta da greve. Quando voltámos a estudar em abril, fomos forçados a terminar o primeiro semestre em 30 dias. Isso não se faz.”
Mas, na segunda-feira (09.05), os professores – que pedem aumentos salariais e melhores condições de trabalho – voltaram à greve “por tempo indeterminado”, acusando o Governo de “falta de vontade política”.
A estudante Helena Nsuka conta que muitos dos seus colegas que previam concluir os estudos neste ano letivo não conseguirão apresentar o trabalho de fim do curso por conta da greve.
Os universitários estão “sem ânimo”, diz. “Na realidade, nós os estudantes é que estamos a sofrer. Estamos a passar por dificuldades que nos causam problemas psicológicos. Estamos a ficar sem saber o que fazer. Estamos sem sul e sem norte”, lamenta Helena Nsuka.
Multa para quem não paga propinas
Adilson Manuel, que estuda Sociologia na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, afirma que o retorno às aulas em abril serviu apenas para o cumprimento de um calendário que estava em atraso.
O jovem culpa o Governo angolano pelo mau momento que se vive nas universidades públicas.
“O grande problema é que as primeiras provas foram feitas, mas ainda há estudantes que não conseguiram realizar as segundas provas que lhes possibilitam conhecerem as suas notas para poderem ir ao exame ou passar para o segundo semestre, que até aqui ainda não se cumpriu. O Ministério do Ensino Superior tem conhecimento desses transtornos que a greve está a causar aos estudantes, mas não faz nada.”
Mesmo sem aulas, os estudantes são obrigados a pagar as propinas: “Quem não pagar os meses em que não usufruiu das aulas, terá que pagar com multa”, queixa-se Adilson Manuel.
Apelo ao fim da greve
Em resumo, a greve está a prejudicar os estudantes de famílias que vivem na pobreza, afirma o presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira.
Muitos jovens não conseguem concluir o curso por causa da paralisação, lembra. “No fundo, é o sonho e o futuro de milhares de jovens que está em jogo. Estamos mais indignados ainda porque não conseguimos perceber como é que os académicos, o Ministério e o sindicato dos professores não conseguem chegar a consenso durante três ou quatro meses de greve.”
“Estamos a sofrer”: Estudantes angolanos exigem fim da greve no Ensino Superior
Francisco Teixeira sublinha que o Movimento dos Estudantes Angolanos está solidário com a causa dos professores. Mesmo assim, apela ao reinício das aulas.
“Na próxima semana teremos uma reunião alargada com todos os estudantes para definirmos formas de pressionar quer o sindicato, quer o Governo.”