Nasceu uma nova forma de “protestar” contra o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) em Angola

Nasceu em Angola uma nova forma de contestar o Governo. Por serem frequentemente reprimidos, os ativistas fazem agora protestos em casa. Na sexta-feira estrearam o modelo “fica em casa”, que se repetiu no Dia da Paz.

Para o analista Manuel Godinho, mais protestos silenciosos estão por vir em Angola. O jornalista entende que a forma como o Governo tentou contrariar a manifestação contribuiu para o êxito da iniciativa dos ativistas.

“O país agora está perante um clima, como se tivéssemos uma rebelião preparada com aviões, com tanques, com armas de fogo para derrubar o poder, quando na verdade [as pessoas] estão apenas a dizer: estamos descontentes com o rumo que o país está a levar. Então, queremos ficar em casa para refletir”, observa.

Em Angola já houve outras formas de protestos com números significativos de participantes, na sua maioria promovidas por diferentes forças de pressão social. Por exemplo, em agosto último, o país viu vincar o movimento “votou e sentou” que visava garantir a lisura e transparência no processo eleitoral, que reconduziu João Lourenço no cargo de Presidente da República.

Segundo o professor e analista político Teixeira de Andrade, a crise que o país enfrenta veio a agudizar a tensão social, facto que aumentou o nível de adesão nos protestos contra o estado das coisas em Angola.

Evitar perdas humanas

O ativista Jaime MC encontra nos protestos feitos a partir de casa uma forma de evitar detenções ou menos mais perdas de vidas humanas nos protestos de rua.

“Temos de desgastar o ditador com meios que estão ao nosso alcance sem perigar vidas humanas, sem perigar a tranquilidade e sem tirar sangue ao próprio ditador”, defende.

“A luta física beneficia o ditador, porque ele quer isso, quer legitimar toda a crueldade. Houve blindados, tanques de guerra na via pública no dia da manifestação silenciosa e ninguém saiu de casa. Eles estão prontos para a força física, não estão prontos para uma luta inteligente”, critica Jaime MC.

Paz com retrocessos democráticos

Angola assinalou esta terça-feira (04.04) 21 anos de paz, celebrando o memorando complementar da paz assinado no Luena, província do Moxico, em 4 de abril de 2002, entre o Governo e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), que ditou o fim das hostilidades.

Mas muitos angolanos dizem que não há paz social no país enquanto o povo não tiver condições mínimas. Os ativistas queixam-se também da falta de liberdades fundamentais. Os partidos políticos e várias organizações internacionais dizem que houve retrocesso nos ganhos democráticos.

Por isso, a professora e ativista Rosalina Kanga concorda com mais protestos do tipo “fica em casa” para mudar o rumo dos acontecimentos. “Por exemplo, nós assistimos a várias manifestações feitas nas ruas, onde muitos ativistas foram agredidos, muitos manifestantes eram ofendidos. Então, estes protestos silenciosos evitariam o derramamento de sangue”, conclui.

 

 

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