O MIREX: Entre a má gestão e falta de estratégias político-diplomáticas

A política externa angolana carece de recursos humanos qualificados, competentes, responsáveis, tecnocratas e especialistas em projectação diplomática do mais alto nível, porque enquanto não deixarmos de lado a prática do nepotismo e do amiguismo

E começarmos a promover a meritocracia como critério principal para o bem da nossa diplomacia, continuaremos a ser vistos como um País sem estratégias e sem vontade política para darmos passos gingatescos na arena internacional.

O MIREX continua sem direcção, as suas actuações e nomeações não são discutidas profundamente, muito menos são nomeações racionalizadas, até cozinheiros, motoristas e governantas estão sendo nomeados para irem no exterior servir embaixadores e outros diplomatas nas suas residências, é o caso do circular n.° 66 da Direcção dos Recursos Humanos do MIREX de 23 de Novembro de 2020, nos despachos n.°s: 821/2020 (27 de Outubro); 833/2020 (03 de Novembro); 834/2020 (03 de Novembro); 845/2020 (16 de Novembro); 846/2020 (16 de Novembro), onde cozinheiros, motoristas e governantas, foram nomeados para saírem do País e irem trabalhar nas casas dos diplomatas no estrangeiro.

Tudo isso só demonstra falta de programa e de projecto sério por parte do MIREX, essas nomeações sem lógicas de cozinheiros e de motoristas, só prejudicam ainda mais a economia e os cofres do Estado (esses cozinheiros e motoristas levam normalmente toda a família no exterior e é o Estado quem deve pagar tudo por eles), não seria mais fácil contratar angolanos e angolanas que vivem já na diáspora para serem motoristas ou cozinheiras?

O Estado gastaria menos recrutando motoristas e cozinheiras a nível local (cidadãos angolanos) e as despesas não seriam assim tão altas, e o MIREX não deve preocupar-se em indicar ou escolher cozinheiros, isso não é seu trabalho, o MIREX deve preocupar-se em criar estratégias político-diplomáticas eficazes, de modo a arrecadar fundos, financiamentos e grandes investimentos a favor do País, mas a nossa diplomacia é uma desgraça, não há projecto sério diplomático em Angola, é necessário um comando jovem forte no MIREX.

Outro caso também preocupante é a nomeação da Senhora Marina Andreia de Almeida António (Prima de Adão de Almeida – Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República), para a função de Adida de Imprensa, na Missão Permanente da República de Angola junto do Ofício das Nações Unidas em Genebra (Suíça). Ela foi nomeada com o despacho n.° 867/2020, de 04 de Novembro de 2020. Esta função além de ser de alta responsabilidade, exige qualificações inquestionáveis por parte da pessoa, além do domínio de línguas (inglês ou francês), a pessoa deve ter grandes capacidades intelectuais, deve escrever e falar correctamente, além de possuir formações universitárias aceitáveis.

Ela teve passagens na Rádio Nacional mas está desvinculada à anos, e não só, esse cargo exige um certo tipo de competência muito a cima da média, sendo que, é fundamental estarmos bem representados nas organizações internacionais, mas não é isso que acontece em Angola. A nomeação da Sra. Marina é sinônimo de favoritismo. No nosso País vale muito mais o nepotismo, o familiarismo e o tráfico de influências, o resto não importa.

O MIREX não tem feito correctamente o seu trabalho, vejam as nossas Embaixadas e Consulados, vejam os nossos tristes diplomatas, não conseguem sequer criar simples encontros com as comunidades angolanas na diáspora, desse jeito vamos aonde diplomaticamente? Se perguntarmos: senhor Embaixador qual é o seu programa de mandato? Ele não conseguirá responder, se responder vai mentir, a verdade é que não têm projectos de actuação, desse jeito vamos aonde diplomaticamente? Ao lado nenhum, é só fracasso.

O MIREX deve ser reiniciado, reformas devem ser feitos, e um novo modelo político-diplomático deve ser definido pelo nosso Governo. E com essa Administração do Ministério das Relações Exteriores, a nossa diplomacia será sempre um “tiro” no escuro ou seja fracassos atrás de fracassos, e não é esse tipo de diplomacia que nós altamente preparados na matéria queremos para o nosso País, não é esse tipo de diplomacia que as comunidades angolanas querem, é hora de mudanças de 360 graus dentro do MIREX, e os jovens competentes precisam assumir o comando, é preciso inovar, é necessário mentes progressistas no MIREX.

Eu e a Diplomacia a Diplomacia e Eu

 Leonardo Quarenta – O Diplomata

Doutorando em Direito Constitucional e Internacional

Mestrado em Relações Internacionais e Diplomacia

Master em Direitos Humanos e Competências Internacionais

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