Governo, amigos e partido governamental recordaram hoje a figura do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, o “bom patriota” que promoveu a paz e reconciliação no país, numa cerimónia que incluiu o desmaio de um dos oradores.
“Em nome da direção do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola], de todos os militantes, simpatizantes e amigos do nosso partido, venho oferecer-te uma flor. Adeus nosso presidente emérito, adeus camarada presidente José Eduardo dos Santos, adeus arquiteto da paz, adeus Zedu, paz à sua alma”, resumiu Luísa Damião, vice-presidente do partido que governa Angola.
Em representação da Fundação José Eduardo dos Santos, João de Deus recordou que o povo falava do ex-presidente como ‘Zedu’, “dada a sua natureza de humildade e trajetória simples”.
Com 37 anos, José Eduardo dos Santos “sacrificou a sua juventude”, para assumir, em 1979, uma “substituição necessária para dar sequência ao prematuro passamento físico do imortal guia da revolução”, numa referência a Agostinho Neto, afirmou João de Deus, que desmaiou durante o discurso, tendo sido assistido pelos serviços médicos.
Por seu turno, o chefe da Casa Civil do Presidente de Angola, Adão de Almeida, afirmou hoje que o país se despede de José Eduardo dos Santos, “um bom patriota” que “trouxe a paz” a garantiu a “unidade territorial” ao longo dos 40 anos de governo.
No dia em que José Eduardo dos Santos comemoraria os seus 80 anos, o Governo organizou uma cerimónia oficial de exéquias fúnebres que contou com a presença de 24 delegações estrangeiras, entre as quais o Presidente português, o coordenador das cerimónias explicou que o executivo está em “sintonia” com a família.
No seu discurso, Adão de Almeida elogiou o legado histórico de José Eduardo dos Santos e o seu papel na “transição” de Angola para o regime democrático, economia de mercado e na construção de um conjunto de “direitos, liberdades e garantias dos cidadãos”, dos quais destacou a abolição da pena de morte.
Mas, em particular, o ministro elogiou a “invulgar sagacidade” do ex-presidente que, após a vitória na guerra civil, promoveu a reconciliação nacional, de “cujos frutos Angola usufrui há 20 anos”.
Já Roberto Almeida, antigo presidente da Assembleia e próximo do ex-presidente, falou do amigo como “um arquiteto da paz” que “pôs fim definitivamente a décadas de guerra fratricida”, num “reencontro da grande nação angolana”.
As cerimónias fúnebres do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos concluem-se hoje, data em que completaria 80 anos, com um funeral de Estado na presença de vários Presidentes, incluindo Marcelo Rebelo de Sousa, e representantes da diplomacia de diversos países.
O antigo chefe de Estado morreu em 08 de julho, com 79 anos, em Barcelona, Espanha, onde passou a maior parte do tempo nos últimos cinco anos, mas as exéquias só agora se vão realizar devido à disputa sobre a custódia do corpo entre duas fações da família de José Eduardo dos Santos – a viúva e os três filhos mais novos, apoiados pelo regime angolano, contra os cinco filhos mais velhos.
Nas cerimónias de hoje encontram-se Ana Paula dos Santos e os três filhos que teve em comum com o antigo chefe de Estado, bem como um outro filho, José Filomeno dos Santos “Zenu”, que foi condenado pela justiça angolana a uma pena de prisão pelo seu envolvimento num caso de corrupção e aguarda, em liberdade, decisão sobre o recurso que interpôs.
O funeral fica marcado também pela ausência das mediáticas filhas mais velhas do ex-presidente, a empresária Isabel dos Santos que enfrenta diversos processos na justiça angolana e em outros países, e a ex-deputada do MPLA, Tchizé dos Santos, que declarou o seu apoio ao candidato da UNITA à presidência angolana, Adalberto da Costa Júnior, contra o candidato do MPLA e sucessor do seu pai na presidência, João Lourenço.
Presentes no funeral estão o presidente da UNITA, que chegou pelas 09:30 ao local, bem como líderes de outros partidos da oposição, bispos católicos, membros do executivo angolano e outras individualidades.
Só perto do início das cerimónias, atrasadas duas horas, é que a organização conseguiu preencher o auditório dedicado à população em geral, mas as arquibancadas do Memorial Agostinho Neto permaneceram muito despidas de pessoas.
A praça da República, onde se encontra o monumento fúnebre do primeiro Presidente angolano, no Memorial António Agostinho Neto, foi novamente escolhida para as cerimónias fúnebres, depois de ter acolhido um velório público sem corpo logo após a morte de José Eduardo dos Santos, durante um luto nacional de sete dias.
Hoje, haverá honras militares num programa que inclui música lírica, leitura de mensagens do Estado angolano e da família, do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), da Fundação José Eduardo Santos e leitura do elogio fúnebre, bem como um culto ecuménico, acompanhado de grupos corais.