O Porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) apelou hoje ao diálogo entre a família do ex-presidente da República José Eduardo dos Santos e o Governo no diferendo sobre a transladação dos seus restos mortais.
Belmiro Tchissengueti, que falava na conferência de imprensa que marcou o encerramento da II conferência anual da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), que decorreu, na província de Luanda, entre quinta-feira e hoje, disse que a igreja respeita as mais variadas posições.
“Ou seja, há o lado da sensibilidade dos filhos, há também o da vontade legítima do Estado de realizar um funeral condigno de alguém que liderou o país por 38 anos”, sublinhou.
Nesse sentido, prosseguiu, o que a igreja incentiva “é o diálogo entre as partes” para que se encontre a melhor modalidade possível para uma solução destas divergências.
O porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) destacou que o antigo presidente “fez muito por este país, apesar das suas falhas”, realçando que foi também “um fator de equilíbrio e de salvaguarda da paz em momentos muito delicados” da história de Angola.
“Sem forçar situações, incentivamos o diálogo entre as partes”, reforçou.
José Eduardo dos Santos, que governou Angola de 1979 a 2017, morreu, no dia 08 de julho, com 79 anos, em Barcelona, Espanha, onde passou a maior parte do tempo nos últimos cinco anos.
Duas fações da família dos Santos disputam, na Vara de Família do Tribunal Civil da Catalunha, quem ficará com a guarda do corpo de José Eduardo dos Santos.
De um lado, está Tchizé dos Santos e os irmãos mais velhos, que se opõem à entrega dos restos mortais à ex-primeira dama e são contra a realização de um funeral de Estado antes das eleições de 24 de agosto para evitar aproveitamentos políticos.
Do outro, está a viúva Ana Paula dos Santos e os seus três filhos em comum com José Eduardo dos Santos, que reivindicam também o corpo e querem que este seja enterrado em Angola nos próximos tempos.
Esta pretensão é apoiada pelo Governo angolano, que decretou sete dias de luto e anunciou a intenção de fazer um funeral de Estado, enquanto a disputa prossegue nas instâncias judiciais, a três dias do início da campanha para as eleições gerais, tornando-se num facto político que está a marcar a corrida eleitoral.
Em entrevista no domingo a meios de comunicação social angolanos, o ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, que lidera a delegação que representa o Estado angolano, general Francisco Furtado, mostrou-se confiante num desfecho favorável, salientando que os cidadãos angolanos e a comunidade internacional querem ver “o problema resolvido”.
“Toda a nação angolana quer a presença do seu antigo líder no país para lhe render a merecida homenagem”, disse Francisco Furtado, sublinhando que se as autoridades espanholas tiverem em conta as razões que levaram o ex-presidente a Barcelona “não haverá outro desfecho que não seja o regresso do corpo para Luanda”.