ONU: João Lourenço condena “golpes de Estado” e diz ser chocante a disparidade no acesso a vacinas

Em discurso da Assembleira Geral das Nações Unidas denuncia e regresso do mercenarismo e pede respostas da comunidade internacional

O Presidente angolano exigiu uma nova postura da comunidade internacional ante os conflitos actuais, com destaque para alguns que persistem em África, condenou os golpes de Estado e pediu que as acções passem de simples declarações de condenação dos governos.

Ao discursar na Asembleia Geral das Nações Unidas nesta quinta-feira, 23, em Nova Iorque, João Lourenço denunciou o que chamou de “regresso do mercenarismo” promovido por “forças poderosas” e defendeu a quebra de patentes das vacinas para que cheguem a todo o mundo.

“Preocupa-nos, sobremaneira, a alteração da ordem constitucional que se regista amiúde em países africanos com recurso à força militar, na medida em que estes actos inconstitucionais não têm merecido uma reacção adequada e suficientemente vigorosa da comunidade internacional, no sentido de desencorajar esta prática a todos os títulos reprovável, a exemplo do que assistimos no Mali e, mais recentemente, na Guiné”, afirmou Lourenço, quem instou a comunidade internacional a actuar “com tenacidade” e não apenas “declarações de condenação, por forma a forçar os actores de tais actos a restituirem o poder aos órgãos legitimamente instituídos”.

O Presidente angolano disse que não se pode “continuar a permitir que exemplos recentes como os da Guiné e outros prosperem em África e em outros continentes” e, sendo assim, a Assembleia Geral é para ele “uma grande oportunidade para os Chefes de Estado e de Governo aqui reunidos exigirem, em uníssono, a libertação imediata e incondicional do Presidente da República da Guiné, o Professor Alpha Condé”.

João Lourenço acrescentou que há que “continuar a acreditar nos mecanismos de que as Nações Unidas dispõem para construir, no quadro do multilateralismo, soluções que garantam de forma sólida e perene a paz e a segurança mundial”.

Regresso do mercenarismo

A actuação de extremistas armados no Sahel, na República Democrática do Congo, em Moçambique e noutras regiões do planeta, que obriga, a comunidade internacional a mobilizar-se continuamente para reforçar a capacidade de resposta “a esta atividade perigosa que atenta contra a estabilidade social e económica dos países visados”, preocupa Lourenço, que preside a Conferência Internacional par aa Região dos Grandes Lagos.

Num discurso pautado pelos problemas de segurança a nível internacional, com enfoque em África, o Presidente angolano disse que “lamentavelmente, assistimos ao regresso do mercenarismo, com o recrutamento a partir de qualquer parte do mundo de profissionais sem exército, pagos para matar, para desestabilizar países, para depor políticos e regimes democraticamente eleitos mas incômodos, fenómeno antes fortemente condenado e combatido mas hoje infelizmente encorajado e alimentado por forças poderosas que se escondem no anonimato”.

O exemplo de Angola na resolução de conflitos, lembrou Lourenço, tem sido levado a outros países e regiões, por isso, é possível encontrar soluções.

Para o Presidente angolano, “as Nações Unidas, a União Africana e de uma forma geral a comunidade internacional, devem encorajar as autoridades etíopes a encontrar os melhores caminhos para pôr fim ao conflito na região do Tigray, afastando a ameaça de uma catástrofe humanitária, antes que possa ganhar contornos mais graves e seja tarde demais”.

Chocante disparidade na vacinação

Na abertura do seu discurso, abordou as consequências da pandemia e revelou que o seu Governo foi, no entanto, capaz, de agir atempadamente “para conter a expansão da contaminação a uma escala que nos permitiu manter os níveis de contágio dentro dos limites da capacidade de resposta das nossas estruturas de saúde”.

No entanto, disse ser “chocante constatar-se a disparidade existente entre umas nações e outras, no que respeita à disponibilidade de vacinas, pois estas diferenças permitem, em alguns casos, administrarem-se já terceiras doses, enquanto noutros, como ocorre em África, a larga maioria das populações não está vacinada sequer com a primeira dose”.

João Lourenço defendeu, por isso, “que sejam discutidas e aprovadas pelas Nações Unidas decisões favoráveis à liberalização do regime das patentes de produção de vacinas para que seja possível a sua fabricação por um número cada vez maior de países, tornando-as mais acessíveis para todos”.

O Presidente angolano pediu também uma acção conjunta de todos para enfrentar as mudanças climáticas que, segundo ele, ameaçam a todos.

 

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