Efectivos da Polícia Nacional abateram, nesta quarta-feira, 15, à queima-roupa, um jovem no bairro Uíge, na comuna de Ngola Kiluanji, no distrito urbano do Sambizanga, onde, logo pela manhã, se registou um protesto que visou contestar o mau estado do troço que liga a Tecnocarro à Sonangol, e o referido bairro à zona da Sucanor.
Às primeiras horas da manhã, informações postas a circular nas redes sociais davam conta da existência de vários bloqueios ao longo do referido troço que liga as duas circunscrições, com os moradores, na esmagadora maioria jovens, a queimarem pneus e a colocarem várias barreiras ao longo de toda a via.
O levante popular e o bloqueio a que ficou sujeito o troço, não só impediu que os moradores proprietários de viaturas saíssem de suas residências para o trabalho, como também impediu que transeuntes e taxistas pudessem circular na referida zona. Aliás, relatos partilhados na internet indicavam que, entre os manifestantes, também estavam motoristas de táxis.
Num áudio que circulou mais cedo, gravado por um morador, descrevia-se a situação como sendo tensa, devido aos bloqueios que tinham sido postos pelos manifestantes e que acabaram por se estender até à zona da Cimangola.
“Hoje está a acontecer o inédito na via que liga a Tecnocarro ao bairro Uíge. A população, depois de tanto tempo cansada de reclamar junto das autoridades para repararem a estrada, hoje, dia 15 de Fevereiro de 2023, a população embarrou a estrada, colocou tantos obstáculos e ninguém vai circular naquela estrada hoje”, dizia o morador no áudio, descrevendo o ambiente que se vivia na altura.
“Há um pânico total, porque as populações que residem na zona do bairro Uíge, Cimangola, não conseguem saira. A estrada está interdita”, completava o morador.
De acordo com testemunhos de moradores partilhados na internet, chamada ao local, os efectivos da Polícia Nacional abordaram, inicialmente, o protesto de forma pacífica, sem grandes motivos de conflito com os manifestantes. A acção policial teve como principal objectivo desencorajar o bloqueio daquela via.
Entretanto, no início da tarde, a Polícia Nacional voltou a fazer uma nova abordagem, fazendo vários disparos à queima-roupa, assim como lançando granadas de gás lacrimogéneo, o que resultou na morte de Serginho, um jovem que aparentava, pelas imagens, ter entre os 20 e os 25 anos de idade.
“Nos vários vídeos que circulam, quer no Facebook como em grupos do WhatsApp, vê-se Serginho deitado no chão, logo a seguir ao disparo que o teria atingido na região da cabeça. De um lado, via-se os efectivos da polícia e do outro jovens enfurecidos, mas imponentes ante os disparos de arma de fogo”.
O corpo de Serginho, que teve morte imediata, ainda chegou a ser arrastado para uma esquina da rua, onde os manifestantes se refugiavam, para se protegerem da abordagem policial e dos disparos.
“O bairro Uíge é famoso pelo nível extremo de pobreza. Criado na segunda metade da década de noventa do século passado, por deslocados de guerra provenientes do norte de Angola, o bairro Uíge, é hoje conhecido pelo elevado índice de criminalidade e por inúmeros descasos em termos de condições de habitabilidade, saneamento básico e mobilidade”.
Até ao fecho desta peça, a Polícia Nacional ainda não se tinha pronunciado a respeito do assunto, sendo que também não foi possível recolher mais dados sobre a identidade do jovem assassinado.
Desde o início do ano, esta é a quarta vítima da acção policial.
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