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POR QUE NÃO ESTAREI NO «DIÁLOGO COM A JUVENTUDE»

Hoje, quinta-feira, 26 de Novembro de 2020, tem lugar o evento denominado Diálogo do Presidente da República com a Juventude Angolana, que é uma espécie de resposta ao movimento juvenil de protestos públicos contra a governação, com particular incidência às grandes manifestações que tiveram lugar nos últimos meses, sendo que, na de 24 de Outubro e de 11 de Novembro, houve vítimas mortais.

Um número elevado de cidadãos defende que os revús devem aproveitar a oportunidade para, primeiro, ouvirem o que o Presidente tem a dizer e, segundo, dizerem ao mesmo o que pensam sobre toda uma variada gama de assuntos que se constituem em problemas que afectam a juventude.

Ora, eu não estarei presente. E as minhas razões são as seguintes:

1. Não se dialoga com um tirano;

2. Minha luta é clara: a incompetência do MPLA tem 45 anos, e não será o partido delinquente a proceder à refundação de Angola. MPLA deve partir – com violência, se for necessário;

3. O Presidente da República manteve-se em silêncio tumular diante das agressões e mortes ocorridas nas manifestações de 24 de Outubro e 11 de Novembro;

4. O cadáver de Inocêncio de Matos, assassinado pela Polícia Nacional a 11 de Novembro, ainda não foi alvo de uma autópsia séria e independente, e – 15 dias depois – o funeral continua sem data graças às artimanhas do regime;

5. O gabinete do Presidente da República sabe perfeitamente quais são as grandes razões que levaram ao levantamento da juventude em manifestações;

6. O evento estará infestado de organizações juvenis que são extensões do MPLA ou, então, dóceis ao regime e seu chefe;

7. O objectivo real do alegado Diálogo com a Juventude é domesticar a sanha de luta da juventude que adquiriu contornos de um processo pré-revolucionário;

8. O alegado Diálogo com a Juventude será na verdade uma operação de charme político – nada será resolvido depois do evento;

9. Estar presente no alegado Diálogo com a Juventude é uma forma de legitimar a nova tirania e toda a sua pornografia política traduzida no conjunto de políticas sociais desastrosas do actual executivo;

10. Tenho assuntos mais importantes a tratar.

A juventude contestatária deve entender que o regime é o mesmo. A merda é a mesma. Só as moscas é que mudaram. Ademais, sem luta, Angola continuará a ser um projecto falhado.

Ao terminar, deixo claro que a minha posição não depende de outros. Mesmo que todos os activistas fossem, eu manteria a minha posição. Não se trata de «Fulano irá», «Sicrano estará presente» ou «Beltrano fará parte». Eu sou eu, não sou o outro.

Nuno Álvaro Dala
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