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Portugal: “A UNITA e Adalberto Costa Júnior caíram em duas armadilhas” – Ana Maria Simões

Adalberto Costa Júnior e a UNITA ou a UNITA e Adalberto Costa Júnior caíram em duas armadilhas, uma mais previsível do que a outra. De uma e de outra, para saírem, vai demorar algum tempo e com sérios custos políticos.

Sobre a primeira, já falei no ‘Conversas Cruzadas’ da MFM, mas vou voltar ao assunto.

Rui Galhardo da Silva, um franco atirador, agindo, na forma e nos conteúdos, de modo inaceitável do ponto de vista da vida interna de um partido político, faz, com um à-vontade desconcertante, acusações gravíssimas ao líder do partido e depois finge que desconhece a realidade em que vive e queixa-se que a sua integridade física foi posta em causa – por quem, apetece perguntar, pelo próprio ou por terceiros? No entanto, riscos calculados, parece-nos que era isso mesmo que pretendia.

A polarização é vital para a sobrevivência dos dois partidos tradicionais em Angola, que se corporizam em poder e oposição. Com a falta de propostas concretas de um lado e do fracasso das propostas não concretizadas do outro só lhes resta o discurso. E no discurso, ou melhor, na propaganda, a premissa é ‘quanto pior, melhor”. Não há limites. Éticos não há certamente, morais só por piada.

Imprevidentes ou descuidados, a UNITA e ACJ ou ACJ e a UNITA permitiram que um elemento hostil – certamente consciente do mal que fazia ao partido que diz que é o seu há mais de 30 anos, claramente favorecendo o opositor – ou seja, marcando golos na própria baliza, quer de cabeça quer com a mão, tal é o desrespeito pelas regras – apresentasse uma queixa-crime contra o líder, a menos de ano e meio das eleições (isto se as Eleições Gerais acontecerem mesmo em 2022).

É um porMenor? Não. É um por Maior com consequências imprevisíveis. E ACJ e a UNITA não podem desconhecer o terreno que pisam. Não podem desconhecer que pisam terreno minado. ACJ é líder de um partido da oposição num país africano, numa ‘democracia soberana’ em que eliminar um adversário político é decorrente. Que o diga Abel Chivukuvuku.

A UNITA devia ter gerido internamente, e da forma mais discreta possível, a questão Rui Galhardo do Silva. Agora é tarde. Como dizemos por aqui, ‘Inês é morta’. ACJ vai ser cozido em lume brando nos próximos meses, e começou hoje, na TV Zimbo, com a perfídia (pouco) subtil de David Mendes, o jurista, ou, dito de outro modo, o pai da advogada de defesa de Rui Galhardo da Silva – sim, porque a UNITA e ACJ são entidades jurídicas distintas, é um facto, da mesma forma que pai e filha também são, mas, e para o caso, a relação de parentesco entre o comentador e a advogada não é irrelevante. E nunca, mas nunca, passou pela cabeça, ou pelo auricular, da jornalista perguntar-lhe se se sentia confortável em comentar o assunto. Nunca. É por estas e por outras, que mesmo quando não queremos, somos forçados a tomar partido, por uma questão de elementar sentido de justiça e de imparcialidade. Porque, lá está, não gostamos de ser estupidamente manipulados. Mas o assunto não somos nós,  é ele, é ACJ. E ele está tramado.

Temo que em Angola não haja UM juiz disposto a fazer de Moro, mas, pelo menos, uns DEZ de juízes disponíveis para fazerem de Moro. Vamos a ver se me engano (no fundo, quero estar enganada).

Em Dezembro passado, ACJ disse numa entrevista ao ‘Expresso’: “Queremos a revisão da Constituição, desde 2013 que a fiscalização tem de ser aprovada pelo PR, que é um Deus. A lei eleitoral angolana está formatada para produzir maiorias qualificadas do MPLA, o que torna impossível a alternância política em Angola”. Pois bem, aí está a revisão da Constituição. E esta é a segunda armadilha para a UNITA e para ACJ ou para ACJ e para a UNITA. Estas palavras vão ter de ser engolidas e digeridas, e não vai ser fácil.

Virgílio Fontes Pereira já avisou, e até já fez contas, se a UNITA avançar com propostas para uma revisão menos pontual, as eleições poderão não se realizar em 2022 – talvez lá para 2024 – o que fará com que o primeiro mandato do Presidente João Lourenço passe de cinco para sete anos, ao mesmo tempo que surge o pretexto para o consagrar constitucionalmente, ou seja, em vez de dois mandatos de 10 anos, João Lourenço poderá contar com dois mandatos de 14 anos, sem que isso choque ninguém. Se a UNITA, como aconselha a prudência e, digamos…, o bom senso, não avançar com propostas próprias e, digamos…, menos pontuais, será sempre acusada pelo partido do poder de ter tido uma oportunidade e a ter desperdiçado – o que também um bocado risível, porque a UNITA pode apresentar dez ou vinte propostas e serem todas chumbadas – seja como for, se não o fizer, o discurso, e sem que também ninguém fique chocado, será esse mesmo: tiveram uma oportunidade e não a aproveitaram. E outra revisão da Constituição nem nos próximos dez anos.

É claro que se passa por cima do facto de que na maioria dos regimes democráticos uma revisão pontual da Constituição é um momento de debate e procura de consenso entre todas os forças políticos e incluindo a tão celebrada sociedade civil que, contas feitas, não passa de um conceito pouco exequível nestas, e noutras, questões.

Os próximos meses não serão fáceis para a UNITA e para ACJ ou para ACJ e para a UNITA, é também por isso avisado que tudo o que seja dito e feito nos próximos tempos seja feito obedecendo a grande ponderação. E que jovens da UNITA, no mínimo, insensatos, não se ponham aos gritos a dizer disparates. ACJ podia começar por aí, por pedir desculpas, sem ‘mas’, à senhora que o jovem ofendeu.

 

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