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Portugal: Ex-gestor de Isabel dos Santos mete processo para reclamar “salários em atraso” (e não é o único)

Mário Leite da Silva (na foto), que durante mais de uma década foi o braço direito da empresária angolana na gestão dos seus negócios, avançou para tribunal contra a Fidequity. E não é o único ex-colaborador de Isabel dos Santos a fazê-lo

Durante anos a Fidequity ocupou o primeiro andar do número 190 na Avenida da Liberdade, em Lisboa, no edifício que tinha como inquilino mais visível a loja de esquina da Louis Vuitton. Era a partir daí que Mário Leite da Silva e mais uma dezena de colaboradores geriam as várias participações e interesses económicos da empresária Isabel dos Santos. Mas o império ruiu e agora Mário Leite da Silva viu-se obrigado a processar a empresa para a qual trabalhou mais de uma década.

Mário Leite da Silva avançou esta semana com uma ação judicial contra a Fidequity no Tribunal da Comarca de Lisboa, na qual reclama mais de 97 mil euros.

O Expresso tentou contactar o gestor, sem sucesso. Mas segundo foi possível apurar, a ação visa assegurar o direito a salários que ficaram por pagar antes que expire o prazo legal para a reclamação desses créditos laborais.

O ex-gestor de Isabel dos Santos, que representou a empresária angolana nos conselhos de administração de empresas das quais era acionista – como a NOS, o BPI e a Efacec -, não é o único a recorrer à Justiça para tentar recuperar salários que ficaram por pagar.

Nas últimas semanas, pelo menos outros dois ex-colaboradores da Fidequity avançaram com ações similares em tribunal contra a empresa, entre os quais o ex-diretor financeiro Eduardo Sequeira, reclamando cerca de 62 mil euros.

Uma outra colaboradora também avançou há dias com uma ação no juízo do Trabalho de Lisboa para reclamar mais de 34 mil euros, mas à Santoro Finance (outra empresa de Isabel dos Santos) e não à Fidequity.

Em junho do ano passado, a empresária angolana, através de um porta-voz, confirmava, após uma notícia do “Correio da Manhã”, que tinha encerrado os seus escritórios em Lisboa e despedido os respetivos trabalhadores, admitindo haver funcionários com quatro meses de salários em atraso.

Os dados do registo comercial mostram que a decisão de fechar a Fidequity foi tomada a 29 de abril de 2020, entrando então a empresa em processo de liquidação. Um dia antes, Mário Leite da Silva apresentou a renúncia ao cargo de presidente do conselho de administração da Fidequity, com efeitos a partir de 31 de maio.

Mário Leite da Silva era um dos gestores mais próximos de Isabel dos Santos, ocupando cargos de administração nas várias empresas às quais a filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos estava ligada, desde empresas portuguesas a sociedades instrumentais em Malta.

Leite da Silva começou a administrar os negócios de Isabel dos Santos em 2006, depois de vários anos a trabalhar para Américo Amorim.

A ligação manteve-se, com o gestor português a acompanhar Isabel dos Santos na sua ascensão e queda, tal como o advogado Jorge Brito Pereira e a empresária Paula Oliveira.

Os três renunciaram aos cargos que tinham na administração da NOS em janeiro do ano passado, dias depois das revelações de Luanda Leaks sobre os negócios, participações e fluxos financeiros de Isabel dos Santos envolvendo a Sonangol (que a empresária presidiu até 2017) e uma “offshore” no Dubai.

Em setembro do ano passado, Mário Leite da Silva decidiu quebrar o silêncio e a reserva que o vinham caracterizando ao enviar uma carta ao Banco de Portugal, ao Banco Nacional de Angola e ao BCE denunciando que a Sonangol forjou um contrato, com data de 2005, para financiar a aquisição de uma participação indireta na Galp.

Uma ação que levou Manuel Vicente, antigo presidente da Sonangol e ex-vice-presidente de Angola, a repudiar as alegações. “Parece ter como objetivo servir a estratégia de defesa de alguém que estará, certamente, em sérios apuros”, reagiu Manuel Vicente.

Já em fevereiro deste ano, após passar um ano das revelações de Luanda Leaks, Mário Leite da Silva fez um balanço positivo das transações entre a Sonangol e o Dubai, feitas no quadro da reestruturação da petrolífera angolana e justificadas com a necessidade de pagar diversos consultores que participaram nessa reorganização. “No final a Sonangol ficou a ganhar”, argumentou Leite da Silva em declarações por escrito ao Expresso e à SIC.

 

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