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Portugal: “Jaime Freitas e António Mosquito” são os novos patrões da banca angolana

Dois dos maiores empresários angolanos — Jaime Freitas e António Mosquito — preparam-se para reforçar a sua posição no Banco Caixa Angola (de que a Caixa Geral de Depósitos é o maior acionista), em substituição da Sonangol, soube o Expresso junto de fonte do Banco Nacional de Angola (BNA). A Sonangol está de saída do capital do Banco Caixa Angola onde tem uma parceria com a Caixa Geral de Depósitos. Ex-BESA também está a mudar.

Detentores de 12% cada, com a venda de 25% da petrolífera angolana, Freitas e Mosquito compram 7,5% cada um à Sonangol, no total de 15%. Passam assim a deter uma posição de 19,5% no banco, detido em 51% pela Caixa Geral de Depósitos. A participação de 15% comprada pelos dois empresários custará 20 milhões de dólares (cerca de €18 milhões). Os restantes 10% da participação da Sonangol serão dispersos em bolsa.

Confirmando o negócio (sem referência aos montantes), o banco público português diz que é “de salientar o empenho destes [empresários] em reforçar as suas posições acionistas, exercendo os direitos de preferência consignados no acordo parassocial, o que prova a sua confiança no futuro do banco”.

“Foi um bom negócio para um dos bancos mais bem geridos e capitalizados em Angola, que passa a contar com o músculo financeiro de dois parceiros com confortável posição no mercado angolano, namibiano e português, no ramo automóvel, petrolífero, hoteleiro e turístico”, diz ao Expresso o consultor bancário Adriano Carvalho.

Contudo, as movimentações no Banco Caixa Angola não ficam por aqui. Atento à nova dinâmica do mercado financeiro, este banco estuda a hipótese de vir a lançar a prazo uma oferta pública de aquisição do Finibanco Angola, que já esteve para se fundir com o Banco BNI, liderado por Mário Palhares. O Banco Montepio está há anos para se desfazer desta instituição financeira angolana, sem sucesso. Chegou a fazer um acordo com Palhares, para reduzir a posição, mas a parcela a alienar nunca foi paga, pelo que nunca deixou de pertencer ao banco mutualista.

A saída da Sonangol do Banco Caixa Angola sinaliza o fim de um tempo em que a petrolífera estatal, como galinha dos ovos de ouro da economia angolana, era o epicentro de uma vasta teia empresarial, com relevância para uma presença destacada também nos bancos BAI, BCI e BESA, atualmente Banco Económico, e no português BCP.

Com a gradual retirada do sector financeiro, a Sonangol, que está confrontada com problemas de liquidez, prepara-se para vender também a sua participação de 70,38% no capital do BE.

Um problema chamado ex-BES Angola

O BNA ainda chegou a admitir que a Sonangol pudesse participar no aumento de capital no valor de €1,59 milhões, mas a estratégia de desinvestimento em sectores fora do seu core business, perseguida pela petrolífera angolana para mitigar prejuízos de €2,5 mil milhões apurados em 2020, deixou cair por terra esta perspetiva.

Descartada esta solução, ainda se abriu a porta à entrada de investidores estrangeiros no Banco Económico, mas o estado de opacidade a que está votada a avaliação da real dimensão dos seus problemas e os elevados prejuízos — é o segundo pior banco no mercado, depois do Banco de Poupança e Crédito (BPC), de acordo com uma avaliação de alguns especialistas — também afastaram este cenário. Como as suas contas não são publicadas há dois anos, “ninguém está disposto a comprar um bem sem conhecer detalhadamente o que está à venda”, alertou o economista Samuel Gervásio.

Esgotada mais esta solução, o caminho encontrado foi a transformação dos cinco maiores depositantes em novos acionistas, entre os quais Álvaro Sobrinho, antigo presidente da comissão executiva do BESA, acusado de ter sido um dos principais responsáveis pelo ‘terramoto’ do banco. Com esta engenharia, o BNA espera que o Banco Económico possa cumprir com todos os requisitos regulamentares vigentes, incluindo o seu reequilíbrio patrimonial e o desagravamento dos níveis de liquidez e de solvabilidade.

Apesar deste esforço, em diversos meios persistem as reservas em relação ao futuro deste banco. “É um dos maiores problemas da banca angolana porque existe o risco de se adquirir algo com elevadíssimos riscos, que está a ser alvo de uma reestruturação cujo fim pode não corresponder às expectativas de um potencial comprador”, disse fonte de uma consultora internacional, que não quis ser identificada.

“No extremo, o valor da venda da participação da Sonangol no Banco Económico poderá ser zero, mas a melhor saída talvez passasse pelo modelo aplicado no antigo BES em Portugal, através da criação de um banco bom e um banco mau”, acrescentou a mesma fonte.

A reestruturação do banco iria, na sua primeira versão, limitar a possibilidade de recuperação de cerca de €300 milhões do Novo Banco pelo Fundo de Resolução, como noticiado pelo Expresso. Houve movimentações diplomáticas de Portugal em relação a Angola, mas por agora nem Novo Banco nem Fundo de Resolução querem fazer comentários sobre quais foram as perdas impostas às entidades.

Outras mudanças

Com a alteração da geografia acionista em diversos bancos resultante do afastamento da Sonangol, depois da primeira grande fusão na história da banca angolana, com o casamento do Banco Atlântico com o Millennium Angola, assiste-se agora a novas movimentações que, no final de 2021, deram lugar à aquisição do Banco de Crédito Industrial (BCI), um banco público, pelo Grupo Carrinho.

No primeiro caso, a fusão, em 2016, entre o Atlântico e o Millennium, na visão de Carlos da Silva, antigo presidente do banco angolano, constituiu “a esteira para a criação de um banco sistémico, mais inovador, inclusivo e universal e cada vez mais exposto em linhas de crédito e de trade finance a contrapartes internacionais”.

Nesta linha, o Banco Atlântico-Millennium prevê listar em breve as suas ações em bolsa e, até ao final do ano, abrirá o capital à entrada de novos investidores internacionais que já manifestarem interesse em fazer parte da sua estrutura acionista.

No segundo caso, as críticas feitas em diversos meios à compra em leilão por 29,3 milhões de dólares do BCI por um grupo do sector logístico — o Grupo Carrinho — levou o Governo a desagravar as condições de acesso de outros grupos empresariais à linha de crédito do Deutsche Bank gerida pelo BDA — Banco de Desenvolvimento Angolano.

Estas críticas não refrearam a agressividade do Grupo Carrinho que, ao ter feito contratos mútuos (empréstimos) com dois acionistas do Banco Keve, transformaram Rui Campos no maior acionista da instituição. Demonstrando, no entanto, que não dá ponto sem nó, o passo seguinte poderá até passar pela compra do Banco Keve.

E Portugal?

De saída da banca angolana, a Sonangol é também o segundo maior acionista do BCP, o segundo maior banco português. A possibilidade de reduzir — e de envolver a sua participação em consolidação no país — foi assumida, mas até agora nada foi concretizado.

As movimentações no sector demoram sempre anos e tal é visível com o BPI, desde 2015 a tentar encontrar parceiro para o Banco de Fomento Angola, de que detém 48,1%, com a Unitel como acionista maioritária. Perdeu o controlo, mas a redução da exposição a Angola continua a ser uma exigência do BCE. Porém, não houve ainda qualquer transação. Também o Montepio está há anos para se desfazer do Finibanco Angola.

 

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