Portugal: “João Lourenço e o erro das estratégias antigas” – Celso Filipe

Em Luanda, a greve dos taxistas foi marcada por atos de vandalismo e destruição. O MPLA acusa a oposição de ter instrumentalizado esta paralisação setorial. Todavia, a crise económica constituirá o maior rastilho para esta revolta popular.

A greve dos taxistas de Luanda que ontem teve lugar, marcada por confrontos e atos de vandalismo, entre os quais se destaca a destruição do comité de ação do MPLA no distrito de Benfica, constitui um inequívoco sinal de alerta para o governo de João Lourenço.

Este caldo de contestação resulta de uma deterioração das condições de vida, condimentada pelo aumento dos preços e a escassez de emprego. Estas doenças não são curáveis num curto prazo e assumem-se como um enorme fator de pressão.

Ainda que o MPLA possa argumentar que existe interferência da oposição, em particular da UNITA, na onda de protestos, é inquestionável que a mesma só ganha forma porque existem motivos objetivos que lhe conferem legitimidade.

Esta circunstância é reforçada pelo facto de a sociedade angolana estar pouco politizada e ainda por existir uma diferença significativa entre os temas debatidos pelas elites de Luanda e aqueles que constituem as maiores preocupações da população.

A entrevista controlada que João Lourenço deu na passada semana a cinco órgãos de comunicação social, com as perguntas previamente conhecidas, ilustra esta ambiguidade e expôs o Presidente da República a críticas desnecessárias. Antes de mais porque João Lourenço deveria estar preparado para responder a qualquer questão. Em segundo lugar porque transformou uma ação que se pretendia de transparência numa iniciativa passível de ser interpretada como uma tentativa de condicionamento da imprensa. Ou seja, entre as elites fazedoras de opinião, João Lourenço acabou por perder pontos. Por outro lado, as mensagens que passou não respondem (nem podiam) às necessidades da população angolana mais carenciada.

A relevância de Luanda

Estas manifestações, além de constituírem um alerta interno, podem também ter repercussões externas, atendendo a que os investidores estrangeiros não convivem bem com a instabilidade. A frente económica constitui, aliás, o maior desafio de João Lourenço e também uma condição relevante para que possa sair vitorioso das eleições gerais que se deverão realizar em agosto deste ano.

O rastilho para a revolta é a deterioração das condições económicas. É na recuperação desta frente que o Presidente angolano tem de se empenhar para garantir estabilidade e apoio popular. É certo que Luanda não é o retrato do país, mas o que se passa na capital tem relevância reputacional e constitui um exemplo para todos, para o bem e o mal.

João Lourenço, “que prometeu ser diferente do seu antecessor, tem-se deixado manietar por estratégias de comunicação do tempo de José Eduardo dos Santos, as quais estão completamente desfasadas da realidade e acabam por empalidecer a sua imagem de reformador”.

Factos relevantes

l Os taxistas queixam-se do excesso de zelo dos agentes policiais de que são alvo e do mau estado das estradas e exigem profissionalização da atividade e formalização do anúncio do regresso à lotação a 100% dos transportes coletivos.

l A greve, além de Luanda, estendeu-se a mais oito províncias e foi convocada por duas associações de taxistas.

 

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