Jovens angolanos desempregados, muitos qualificados, queixam-se das dificuldades de arranjar trabalho e até biscates para sobreviver, mas garantem “continuar na luta”, com mais fé em Deus que nas políticas públicas.
Muitos têm qualificações técnicas e académicas, de eletricistas, engenheiros informáticos e até juristas, mas não encontram oportunidade para mostrar as suas competências, numa altura em que as alternativas de subsistência rareiam.
Há dois anos desempregado, o eletricista Jeremias Garcia, 25 anos, disse à Lusa que sobrevive com alguns biscates que, entanto, têm escasseado nos últimos três meses e considerou “crítica” a situação atual.
“Vivo com os meus pais, mas a tendência é ser independente e, para isso, temos que ter alguma coisa para fazer. Já estou há quase três meses sem biscates, não é fácil, mas Deus é sempre bom e o bocado sempre aparece”, disse.
Jeremias Garcia, que saía do centro da capital angolana em busca de alguma oportunidade de emprego, considerou crítico o desemprego em Angola, “agravado” pela covid-19.
“É necessário que se criem mecanismos para se ter mais empregos, sobretudo para os jovens planearem o seu futuro”, exortou.
Cláudia Mara Nhanga, técnica de restauração e desempregada há três anos, gastou o pouco dinheiro que tinha, tentando a sorte num dos restaurantes do centro de Luanda, mas mais de duas horas de espera depois não teve qualquer resultado positivo.
De regresso à casa, a jovem de 23 anos descreveu a Lusa o seu trajeto diário, reafirmando a sua “motivação para continuar a difícil luta em busca de um emprego”.
“Esperei mais de duas horas pela dona do restaurante e não tive sucesso nenhum e, por isso, vou para a casa sem nenhuma resposta positiva, mas vou continuar a procurar porque não podemos perder a motivação”, assegurou.
Para Cláudia Mara Nhanga, que viu a vida a “complicar-se” após ser afastada do restaurante onde trabalhava, “em consequência da crise económica”, é “urgente” que se criem políticas de emprego sob pena de muitos jovens “continuarem mergulhados nas drogas e de outras práticas negativas”.
“Uma terrível batalha” foi o adjetivo utilizado por Didon Nzinga, desempregado há 4 anos, para classificar o seu percurso diário de “luta pela sobrevivência”, sobretudo para sustentar os dois filhos.
Com os biscates no ramo da eletricidade “cada vez mais difíceis”, Didon Nzinga, 28 anos, que concluiu o curso de matemática na Escola de Formação de Professores, já bateu a várias portas, mas estas continuam fechadas.
“As pessoas fazem concurso público, entregamos documentos, mas o nome nunca sai”, lamentou, exortando as autoridades para dedicarem atenção à juventude, se quiseram “fazer o futuro de amanhã”.
Desempregada há dois anos, Omblina Lenda Paulino queixou-se do “nepotismo” que diz “persistir” em instituições públicas e privadas na seleção do quadro de pessoal, lamentando a falta de oportunidades.
“Estamos a procura (de emprego) e as oportunidades não aparecem, são poucas, há até sítios mesmo que precisam de pessoas para trabalhar, mas com aquele orgulho preferem meter pessoas próximas sem qualificação e a cadeira fica vazia”, contou.
A engenheira informática de 22 anos, “comerciante ocasional”, sonha com um emprego no ramo da formação, mas enfrenta várias dificuldades no seu dia-a-dia. Garante, no entanto, que vai continuar a lutar. “E em nome de Deus vamos conseguir”, atira.
Por seu lado, o jurista Mauro Carlos, 28 anos, desempregado há oito meses, “não acredita nas atuais políticas públicas” que visam inverter o atual índice de desemprego em Angola, afirmando que sobrevive com atividades por conta própria.
“Não vejo nada, não vejo um futuro melhor, vejo apenas trabalho duro, trabalho por conta própria pode ser a solução, e não esperar do Governo”, defendeu, realçando que a sua luta diária “é para sobreviver”.
Angola continua a registar uma elevada taxa de desemprego que afeta sobretudo jovens, situação que resulta da crise económica, financeira e cambial que o país vive, desde finais de 2014, devido à queda do preço do petróleo no mercado internacional.
A situação, segundo as autoridades, também foi agravada pela pandemia de covid-19.
Na campanha eleitoral para as eleições de 2017, o candidato João Lourenço, atual Presidente de Angola, prometeu criar 500 mil novos empregos até ao final da legislatura, em 2022.