Portugal: Qual É A Importância da “Ciência Política” Para Angola? – Dorivaldo Manuel Dorival

QUAL É A IMPORTÂNCIA DA CIÊNCIA POLÍTICA PARA ANGOLA? Uma reflexão sem convite para o entendimento do paradigma exclusão

Se partimos da inferência que um Estado ideal (ou das promessas e desejos) é diferente de um Estado real (ou das realizações), não creio que suscitaremos dúvidas de que a Ciência Política não se compadece com o primeiro, todavia, é através da sua caracterização ontológica, contestatária e participativa que nos Estados ideais gera sempre ambientes discordantes entre os formados Politólogos e actores políticos passíveis de, por razões ideológicas, excluírem àqueles.

O objectivo deste sincrético artigo de opinião é descrever, contextualizar e analisar a observação das reclamações dos formados e formandos em Ciência Política em Angola. Pois, reclama-se que tal curso não é integrado nas chamadas dos concursos públicos, fundamentalmente, nas Administrações Públicas, e Direção do Estado (Governo). Deste modo e, como é evidente, nos meandros das teorias da Comunicação e Marketing Político, aprendemos que informação é poder, significa que vamos informar sobre o que é Ciência Política, sua contextualização como Ciência de ensino em Angola e, por conseguinte, a análise da pertinência das suas saídas profissionais, sem descurar a inexistência desta pertinência no processo da vida profissional do estudante de Ciência Política em Angola, facto que não gera regalo pelas seguintes razões:

A Ciência Política é a Ciência que estuda o poder político. Pois, é através deste poder que um governo existe, cuja existência não é para excluir uns ou outros, mas para materializar a equidade ou a eudaimonia na sociedade política. Como enfatizamos na nossa obra «PODER NACIONAL: contributo do factor científico-tecnológico para o desenvolvimento sócio-económico e industrial de Angola», é este governo que através do poder político tem a autoridade e legitimidade para decidir quais ciências devem ser estudadas nas Universidades de Angola, que define, administra e emprega o poder nacional, e que sabe que a CIÊNCIA POLÍTICA é, segundo Aristóteles, na sua obra «ÉTICA À NICÓMACO» a ciência que todas as ciências se sujeitam a ela a despeito de estudar o poder de legislar (isto é, nas acções da Direção do Estado, que pressupõe, para José Fernandes, o governo e parlamento).

Neste artigo, que resulta da observação das reclamações actuais e históricas sobre o valor dos cientistas, não queremos elencar, que temos um governo permanente no exercício do poder (MPLA/1975-2022), fazendo acreditar que faz perceber, que só os JURISTAS, ECONOMISTA e SOCIÓLOGOS são cientistas sociais, porém, esta última proposição pode não ser verdade, mas a verdade é que temos um governo que não demonstra fortes políticas de mobilização e estímulos imparciais (sem militância em causa) dos formados e formandos em todos os níveis de ensino, especialmente, o nível superior e, delimitadamente, o curso de Ciência Política (isto é, os Politólogos).

Ora, desprezar a Ciência Política e os Politólogos que se comprometem com a lógica das práticas do bom governo (isto é, as leis), a democracia minimalista e maximalista, significa não ter vontade de potencializar as instituições e a política interna e externa do país. Significa governar sem querer saber o que é governar. Pois, trata-se de uma ciência desenvolvida entre o renascimento, modernidade e contemporaneidade, e que se afirma no século XIX, recebendo contributos teoréticos de mentes impulsionadoras como de Maquiavel, Jean Bodin, Thomas Hobbes, John Locke, Jean Jacques Rosseau, Voltaire, Charles de Montesquieu, Augusto Conte, Émile Durkheim, Karl Marx, sem deixar de mencionar Herbert Adams, Carl Schmitt, Emanuel Kant, Lévi-Strauss, Hannah Arendt, John Rawls, O´donnell, Norberto Bobbio, Marx Webber, Mosca e Pareto, Schwartzenberg, Linz e Stepan, Robert Dahl e Schumpeter, Samuel Huntigton, Tocqueville, Chomsky e Fukuyama, Daye e Easton, Pasquino, Giovani Sartori, Antony Downs, Duverger, Hans Morgenthau, Marcelo Caetano, Adriano Moreira, e outros indispensáveis, que os politólogos, construtivamente, os lêm para compreensão da política dos Estados e dos grupos, e do funcionamento das instituições movidas pelo poder e interesses estratégicos.

Em Angola, a Ciência Política é um curso novo, institucionalizado, a priori, num período de paz, na Faculdade de Ciências Sociais, da Universidade Agostinho Neto, no entanto, a nível mundial, começou a ser ministrada no século XX, isto é, primeiro nos ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (séc XIX), depois se afirmou na Europa com a França e Alemanha etc. A sua importância como curso académico reside nas disciplinas interdisciplinares apreendidas, e que proporcionam saídas profissionais que cada Politólogo bem preparado pode servir para o Estado e seus governos.

Paralém da Faculdade de Ciências Sociais da UAN, que forma Politólogos, há também outras Universidades em Angola, em que o curso de Ciência Política e Relações Internacionais é uma opção, estamos a falar do Instituto Superior Politécnico Kangonjo, Instituto Superior Politécnico Sol Nascente, Instituto Superior Politécnico Kalandula, Instituto Superior de Ciências Sociais e Relações Internacionais, e outras Universidades e Institutos ou Escolas, em que os cursos de Relações Internacionais não deixam de ser uma parte externa ou embrionária da Ciência Política.

Deste modo, vamos apresentar as disciplinas leccionadas no curso de Ciência Política, na Faculdade de Ciências Sociais, da Universidade Agostinho Neto, e as saídas profissionais, que a Universidade e o Estado não proporcionam em sentido programado aos formandos e formados:

DISCIPLINAS LECCIONADAS AOS POLITÓLOGOS NA UAN-FCS

Fundamento de Ciência Política, Introdução à Administração, Filosofia e Lógica, Relações Internacionais, História Política da África e de Angola, Língua Portuguesa e Inglesa, Introdução ao Direito, Sociologia Geral, Processos Eleitorais e Representação Política, Regimes e Sistemas Políticos, Finanças Públicas e Gestão Orçamental, Economia, MIC e Ciências Socias e Política, Políticas Comparadas e Públicas, Sistema Político Angolano, Direito Constitucional e Administrativo, Geopolítica e Geoestratégia, Segurança e Política de Defesa, Ética e Prática Política, Movimentos Sociais e Acção Política, Política Externa e Cooperação, Organizações Sociais e Políticas Internacionais, Tomada de Decisão Políticas, Comunicação e Marketing Político, Cultura Estratégia, Estado e Desenvolvimento, Análise Política Interna e Externa, Teoria Geral do Estado, Problemas Sociais de Angola, Organizações Regionais Africanas, Tecnologia de Informação e Comunicação, Demografia, História da Ideias Políticas, Ciências Sociais e Humanas, e Estatística.

 

Todas disciplinas elencadas são importantes na prática e fazem da Ciência Política uma ciência prestigiada e, passível de, não só, analisar o poder político, mas também todas estruturas que o poder político determina. Pois, em Angola, os Politólogos aprendem estas disciplinas com noção das saídas profissionais, pelo contrário, nem orientação de Estágio nos lugares das saídas a Universidade e o Estado Proporcionam de forma programada, deste modo, e através da inexistência da vinculação da teoria com a prática, questiona-se a boa formação para genial prestação de assessoria política, gestão de conflitos e decisões políticas. Ora, vejamos as saídas de atuações profissionais:

SAIDAS PROSSIONAIS DOS FORMADOS EM CIÊNCIA POLÍTICA

 

Administrações Públicas, regionais e locais, embaixadas, Partidos Políticos, Empresas, ONG´s, Sindicatos, Organizações Internacionais e Regionais, Escolas e Universidades, Organismos do Estado com vocação Política (órgãos de soberania, isto é, governo e parlamento) etc.

 

É nestes lugares que num Estado poliárquico, ou que se afirma no processo de democratização, os Politólogos devem atuar, aplicando o conhecimento aprendido, e interagindo com os outros cientistas sociais em prol de uma ANGOLA real. O Politólogo é um profissional da política para os políticos e para os Estados, é o profissional certo para, politicamente e estrategicamente, orientar o político, uma vez que tem capacidade para explicá-lo sobre os fenómenos políticos nacionais e internacionais, na perspectiva racionalista, individualista, funcionalista e sistémica.

PORTANTO, excluir os Politólogos ou descurar a Ciência Política nos concursos públicos e, paradoxalmente, só incluir o curso de Relações Internacionais, não é uma acção com razão para se chegar ao desenvolvimento das instituições políticas. Deste modo, solicitamos ao governo Angolano (caso tais reclamações forem verdades sentidas e reconhecíveis com bom senso cartesiano), que passe a evidenciar o equilíbrio entre os cientistas sociais, e com este equilíbrio gerar uma política séria de mobilização, valorização e colocação meritocrática dos lugares em que possam, eficientemente e eficazmente, atuar os SOCIÓLOGOS, HISTORIADORES, ANTROPÓLOGOS, POLITÓLOGOS, INTERNACIONALISTAS, FILÓSOFOS, GESTORES, LINGUISTAS, COMUNICÓLOGOS, GEODEMÓGRAFOS, PSICÓLOGOS, JURISTAS, ECONOMISTAS, e outros cientistas das ciências matemáticas, naturais e aplicadas, que se confluem na causa da possível exclusão, mas que mesmo sem depender do Estado Social-democracia podem refletir a seguinte máxima: “Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, Pergunte o que você pode fazer por seu país” (JOHN F. KENNEDY) EU AMO ANGOLA!

 

DORIVALDO MANUEL DORIVAL, Cientista Político ou Politólogo formado pela Universidade Agostinho Neto, Faculdade de Ciências Sociais (2015-2020). dorivaldo-manuel@outlook.com, Professor de Filosofia nos colégios. Extrato de um artigo científico não publicado. Autor da obra científica «PODER NACIONAL: contributo do factor científico-tecnológico para o desenvolvimento sócio-económico e industrial de Angola».

A EXCLUSÃO DA CIÊNCIA POLÍTICA

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