José Fuso sobreviveu ao golpe de 27 de Maio de 1977, tendo estado preso e em campos de trabalho forçado durante dois anos. À TSF, diz que as palavras de hoje levam o atual Presidente de Angola a entrar na História.
Com “emoção e surpresa”. Foi assim que José Fuso, um sobrevivente do golpe de 27 de Maio de 1977, em Angola, ouviu o pedido de desculpas “histórico” do Presidente de Angola. Na sequência do golpe, perto de 30 mil pessoas, incluindo portugueses, morreram e hoje algumas ainda estão desaparecidas.
“44 anos depois, ouvir o Presidente a pedir humildemente e falar em sincero arrependimento e que não são simples palavras, evidente que me emocionou e que me deu alguma esperança de que o outro capítulo do 27 de Maio, que tem a ver com a busca da verdade, possa ser alcançado”, referiu José Fuso à TSF, que esteve dois anos em prisões e em campos de trabalho forçado.
O sobrevivente, que faz parte da Associação 27 de Maio, sustenta que João Lourenço já tem um lugar na História. “O Presidente vai ficar na História por ter sido ele a assumir este passivo em nome do Estado. Eu quero crer que também que também exista da parte do MPLA essa assunção da parte das responsabilidades.”
“Se nós assumirmos a questão da justiça que poderia ser uma justiça reparativa, esse ato do Presidente vem ao encontro dessa justiça reparativa”, acrescentou.
Sobre a eventual exumação dos corpos, José Fuso diz que esse trabalho deve ser realizado “de acordo com normas internacionais”. “O Presidente não arriscaria fazer esta comunicação ao país e depois não houvesse equipas forenses a trabalhar de uma forma correta. E é preciso identificar os corpos, é preciso pedir apoio às pessoas da segurança que ainda estão vivas que sabem onde esses corpos estão”, afirmou.
Numa conferência de imprensa em Luanda, João Lourenço disse que “não é hora de apontar o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe”.
“É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias”, disse o chefe do executivo angolano.