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Portugal: Tribunal da Relação de Lisboa “põe em xeque decisão de arresto de bens de Isabel dos Santos”

Montepio tinha interposto um recurso na Relação contra o arresto de bens de Isabel dos Santos por considerar que tem direitos sobre uma parte dos bens arrestados, por estes terem sido dados como garantia de um empréstimo de 40 milhões de euros. Tribunal da Relação deu razão ao banco, arresto terá de ser de novo reapreciado

O Tribunal da Relação de Lisboa aceitou um recurso do Montepio para embargar o arresto de bens de Isabel dos Santos. O banco tinha interposto recurso por considerar que parte dos bens arrestados não pertenciam na prática a Isabel dos Santos, porque tinham sido dados como garantia de um empréstimo bancário contraído naquele banco, no valor de 40 milhões de euros. A Relação deu-lhe razão e agora o processo tem de voltar ao início. O que isto quer dizer é que o arresto dos bens de Isabel dos Santos vai ter de ser reapreciado e, como há mais recursos interpostos por outros envolvidos, esta decisão pode provocar a queda total ou parcial do arresto dos bens da empresária angolana.

A decisão da Relação de Lisboa, a que o Expresso teve acesso, dá razão ao embargo interposto pela Caixa Económica Montepio Geral e decidiu pela revogação do “despacho judicial” que decretou o arresto dos bens de Isabel dos Santos. A decisão da Relação ordena assim que esse despacho seja “substituído por outro que aceite os embargos de terceiro deduzidos por aquele banco”. Ou seja, o Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC), que havia decretado o arresto, vai ter de proferir nova decisão judicial sobre o caso, tendo em conta que não pode arrestar os bens que coincidem com a garantia bancária dada ao Montepio.

Tudo começou com o arresto decidido pelo juiz de instrução Carlos Alexandre, do TCIC, em 2020, na sequência de um pedido de cooperação judiciária feito pelo Ministério Público de Angola, logo a seguir às revelações do Luanda Leaks. Depois dessa decisão, houve vários recursos, entre eles este do Montepio e outro do BCP. No caso do Montepio, o banco considera que os seus direitos – uma vez que há uma garantia bancária – prevalecem sobre o arresto decretado pelo tribunal. Em causa estão as participações sociais detidas por Isabel dos Santos, através de uma sociedade chamada Winterfell2Limited, na empresa portuguesa Efacec Power Solutions. Estas tinham sido dadas como garantias de um empréstimo bancário (40 milhões de euros) concedido pelo Montepio para a entrada de Isabel dos Santos no capital da Efacec, sendo que o argumento dos advogados apresentado pelos advogados do banco é que isso aconteceu muito antes de o arresto ter sido decretado.

No acórdão proferido agora pelos juízes da Relação vem que “as garantias reais constituídas ao abrigo dos contratos celebrados foram adquiridos em momento prévio ao arresto e foram violadas pelo arresto preventivo decretado” – e como tal é reconhecido o direito do Montepio a embargar esta decisão: “Tem legitimidade e interesse em agir porquanto está carecido de processo”, lê-se.

Ao dar razão a esta oposição do Montepio, a Relação manda o caso para o tribunal de origem, o TCIC, que terá de expurgar da decisão judicial de arresto os bens que coincidem com as pretensões do Montepio. Só depois disto haverá uma nova apreciação por parte da Relação.

Mas o caso pode não ficar por aqui. Há mais recursos que foram interpostos por causa da decisão tomada no ano passado por Carlos Alexandre, nomeadamente do BCP, e este acórdão da Relação pode provocar um efeito dominó e fazer cair assim parte ou a totalidade do arresto decidido na altura por aquele juiz de instrução.

Estes recursos são um dos lados da atuação dos bancos no campo jurídico em relação a Isabel dos Santos. Como já foi noticiado pelo Expresso, os bancos nacionais (Banco Montepio, mas também o Novo Banco, BCP e Caixa Geral de Depósitos) estão a reclamar em tribunal as verbas financiadas aquando da operação de compra da Efacec. O objetivo das instituições financeiras é que possam beneficiar de uma eventual indemnização que o Estado seja obrigado a pagar aos acionistas da Efacec devido à nacionalização. A ação do Banco Montepio, no valor de 40 milhões de euros, deu entrada este ano na justiça portuguesa – separado dos dois processos conjuntos colocados pelos restantes três bancos.

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