Província angolana do Cunene com cheias “incomuns” mas fenómeno “beneficia” populações rurais

O Governo da província angolana do Cunene considerou hoje “incomuns” as cheias que se registam na região, admitindo um aumento das chuvas e “situações piores” nos próximos dois meses, mas assinalou que o fenómeno também traz “benefícios” às populações rurais.

“Realmente a província está a ser beneficiada com chuvas abundantes e na montante no norte e leste da província, aí está a chover muito e fez com que a água das cheias partisse do município do Cuvelai e transbordasse do norte para o sul e fez com que as cheias atingissem a cidade de Ondjiva, capital da província”, afirmou hoje o vice-governador da província Apolo Ndinoulenga.

Em declarações à Lusa, o governante reconheceu que as intensas chuvas na região, no mês de janeiro, “não são um fenómeno comum, porque as chuvas mais abundantes, normalmente, têm sido nos meses de fevereiro e Março”.

“Neste contexto, as chanas [planícies] estão cheias, são mesmo cheias pouco comuns, e estamos agora a acautelar-nos para os próximos dois meses onde se têm registado mais precipitações a nível da época de chuva”, disse.

“Se agora as cheias estão nessas proporções pensamos que com o aumento das chuvas nestes dois meses poderemos ter situações piores, mas, pessoalmente, penso que não podemos olhar para as cheias numa perspetiva negativa”, realçou.

O responsável apontou que “as cheias beneficiam mais do que prejudicam, isso é conhecido tradicionalmente”.

Para o vice-governador do Cunene para o setor Político, Social e Económico, as autoridades locais não estão a ver agora prejuízos enormes, admitindo, no entanto, que muitas escolas da província estão “encerradas e sitiadas” em consequência das cheias.

A província do Cunene, região sul de Angola, que tem sido afetada nos últimos anos com a seca, registou nos últimos dias fortes chuvas, que concorreram para a inundação das chanas e de vários pontos da circunscrição, inclusive a sua capital, Ondijva.

Apolo Ndinoulenga explicou também que a cidade de Ondjiva está localizada por cima da bacia hidrográfica do rio Cuvelai, cujo lençol freático por vezes “vem à superfície, causando muitas vezes as cheias”.

“Há casos em que algumas casas ficam inundadas por água que está a sair do solo para cima, é esta componente negativa que podemos citar, e este assunto de Ondjiva já tem merecido uma atenção especial do nosso executivo”, realçou.

Segundo o governante, a capital do Cunene hoje não é afetada tanto pelas águas correntes pela superfície terrestre, “mas sobretudo devido ao lençol de água aí existente, porque foram construídos diques de proteção da cidade que desviam a água”.

“O único problema acontece com o lençol freático que fica sempre saturado e tira a água para a superfície, isto provoca às vezes inundações nos quintais, nas casas, e então este é que é o aspeto negativo”, admitiu.

Uma organização não-governamental angolana criticou hoje o que disse ser “trabalho paliativo” das autoridades em resposta às cheias que se registam na província do Cunene, devido às chuvas, lamentando que muitas crianças estejam impedidas de assistir aulas.

“É verdade que neste momento está a se verificar cheias e que as mesmas têm muitas implicações, uma delas são as aulas, porque quando as chanas estão cheias as crianças deixam de ir à escola porque não podem atravessar as chanas”, disse hoje à Lusa o padre angolano Gaudêncio Félix Yakuleinge.

Além disso “também quando cai a chuva as aulas são impossíveis, porque muitas crianças estudam debaixo de árvores”, frisou o também responsável da Associação Ame Naame Omunu, ONG local de promoção dos direitos humanos.

O vice-governador do Cunene assegurou igualmente que as autoridades locais estão a envidar esforços no sentido de responder às consequências das chuvas, referindo que as medidas paliativas, como valas de drenagem para evacuar as águas, serão complementadas posteriormente com um projeto integrado.

O governo da província tem em carteira um projeto designado “Projeto de Infraestruturas Integradas da Cidade de Ondjiva” aguarda pela aprovação central.

Salientou que, tão logo o referido projeto estiver aprovado, será possível responder ao problema na capital.

“E desejamos sempre boas vindas às cheias, porque com estas cheias a falta de água no meio rural toma fim”, comentou.

“Por exemplo, este ano nada nos impede de dizer que não teremos falta de água no meio rural porque as chimpacas [reservatórios de águas] estão cheias, o nível de água estará também saturado e as pessoas vão fazer escavações tradicionais para poderem encontrar água para o seu consumo e dos animais”, acredita.

“Então, estamos a classificar o início como um bom ano, tendo em conta que a água está a passar mesmo em locais onde não choveu bastante. Esperamos então que a chuva continue a cair para facilitar o trabalho dos campos, para a população ter água e alimentação”, insistiu.

Reconheceu que as cheias concorreram para a paralisação das aulas em muitas escolas, “sitiadas pelas cheias, onde nem professores e alunos conseguem chegar”, considerando tratar-se de consequências passageiras.

Em relação às águas que pelo município do Namacunde transcorrem até à República da Namíbia, Apolo Ndinoulenga minimizou este percurso natural da água, recordando que Angola partilha com o país vizinho as chanas e o rio Cunene.

“Mas, também o relevo do Cunene, por onde passa a água, é o mesmo relevo que está na República da Namíbia (…). Não há qualquer problema de vizinhança, porque este é um fenómeno natural e eles sabem que quem empurra as águas para lá não são os angolanos, mas sim a natureza”, concluiu o governante.

 

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