República Federativa do Brasil (RFB) lança candidatura à “liderança da Interpol” para trazer mais diversidade

Pela primeira vez, a República Federativa do Brasil (RFB) lançou um candidato à liderança da Interpol, para trazer mais diversidade e prioridades de outras regiões do globo à organização policial internacional, que tem sido até agora dirigida por europeus e norte-americanos.

Valdecy Urquiza, o candidato brasileiro que ambiciona ser o próximo secretário-geral da Interpol, esteve esta semana em Luanda para participar na 26.ª Conferência Regional Africana da organização e falou à Lusa sobre as mudanças que esta candidatura pode trazer à Interpol.

Valdecy Urquiza é o atual vice-presidente  da Interpol para as Américas e delegado da Polícia Federal, tendo sido oficialmente indicado como candidato pelo Itamaraty no mês passado.

A Interpol é a maior organização intergovernamental global e junta forças policiais de 195 países com o objetivo de combater o crime transnacional.

Apenas cinco países (maioritariamente europeus, com exceção dos Estados Unidos) se revezaram na liderança do organismo que celebra este ano o seu 100.º aniversário, um cenário que o Brasil quer mudar.

 “Nós entendemos que é hora de trazer a diversidade para a organização, de trazer as prioridades de outras regiões e essa candidatura brasileira representa o desejo de fazer uma Interpol mais forte, mais eficiente, que conte com a participação de todos os países”, destacou.

Valdecy Urquiza assinalou que as prioridades dos países não são todas iguais e isso deve ser tido em conta: “a realidade que os países sul-americanos e os países africanos enfrentam são diferentes de outras regiões, as ameaças são diferentes e um secretário-geral brasileiro pode trazer essas prioridades para o alto da agenda da Interpol”.

Entre os exemplos de problemas comuns a estes países, estão a necessidade de desenvolver mais ações de capacitação e uma atuação focada em problemas regionais, “para serem tratados e enfrentados de forma global”.

Sobre o contributo que o Brasil pode dar à Interpol destacou que a Polícia Federal, órgão que representa também, se tem focado muito em inovação e tecnologia e tem sabido reinventar-se ao longo dos seus 80 anos de existência, podendo partilhar essas experiências.

“Pretendemos trazer um pouco disso, trazer a modernidade, essa energia, essa dedicação no enfrentamento à criminalidade global, para a Interpol”, declarou à Lusa o candidato brasileiro.

Valdecy Urquiza adiantou que a candidatura brasileira conta com o apoio de vários países, incluindo “nações irmãs” em África e na América do Sul, bem como regiões asiáticas.

“Entendemos que é um movimento que os países têm feito porque entendem a relevância, entendem que é o momento de ter uma candidatura fora do eixo tradicional”, sublinhou.

Este anseio de ter uma organização mais diversa permitirá “dar voz a outros países, a outras regiões, mas principalmente uma participação ativa dos países da América do Sul e de África, para que possam trabalhar em conjunto definindo a agenda e o modo de atuação da organização”, acrescentou.

Para Valdecy Urquiza, é importante levar elementos da Polícia Nacional de Angola (PNA), da Polícia Federal do Brasil “que possam contribuir efetivamente para o engrandecimento da organização”.

“Isso traz visões diferentes para problemas que são distintos e com certeza contribuirá para uma organização mais efetiva”, reforçou.

O titular da Diretoria de Cooperação Internacional da Polícia Federal considera que “o Brasil está muito bem posicionado” para vencer a corrida ao cargo de secretário-geral, destacando a sua larga experiência na organização, de que é atualmente vice-presidente, depois de ter chefiado o núcleo da Interpol no Brasil, e ter trabalhado como diretor na sede, em Lyon.

“Atuei em todos os níveis, tático, estratégico, operacional, isso traz uma visão necessária, um conhecimento profundo da organização para ajudar a guiá-la nos próximos anos”, argumentou.

Quanto aos adversários, preferiu não entrar em detalhes já que as candidaturas podem ser apresentadas até janeiro do próximo ano, e a brasileira foi a única a ser formalizada até agora.

“Temos ouvido os nomes de outros candidatos, sobretudo do eixo mais tradicional, mas entendo que a candidatura brasileira é a mais forte e com o apoio dos países africanos penso que vamos ter muito sucesso”, reiterou Valdecy Urquiza.

Uma organização mais diversa, mais moderna e atuante ao nível do desenvolvimento da capacidade das autoridades policiais dos países que pertencem à Interpol são os principais eixos da sua candidatura.

“Precisamos atuar formando os policiais, trazendo os equipamentos para as polícias, trazendo melhorias para as polícias”, salientou, acrescentando que o combate à criminalidade organizada deve ser feito de forma conjunta.

“Se uma polícia não tiver condições de atuar contra esse tipo de crime, esse problema reflete-se globalmente, precisamos de investir bastantes recursos na capacitação das polícias”, defendeu Valdecy Urquiza.

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