Da Nigéria ao Maláui, os países africanos já sofrem com as consequências económicas da invasão russa da Ucrânia, com aumento dos preços dos bens básicos e do petróleo, suscitando receios de um aumento da pobreza em todo o continente.
A mais de 100 dólares por barril, os preços mundiais do petróleo atingiram o seu nível mais alto numa década no início da guerra, duplicando os preços dos combustíveis em África, particularmente na Nigéria, o país mais populoso do continente.
Três semanas após a guerra, os custos estão a subir e com eles a preocupação com a segurança alimentar, uma vez que a Ucrânia e a Rússia são grandes fornecedores de trigo e cereais para África.
Com as sanções contra Moscovo, o preço dos fertilizantes está a subir vertiginosamente. Isto ameaça as culturas africanas e pode fazer aumentar ainda mais o custo dos alimentos.
“A guerra na Ucrânia significa fome em África”, disse no domingo a diretora-geral do Fundo Monetário Iinternacional (FMI), Kristalina Georgieva.
A Nigéria, “a maior economia e maior produtor de petróleo de África, tem de importar a maior parte do seu combustível, devido à insuficiente capacidade de refinação, o que vulnerabiliza o mercado interno”.
Várias companhias aéreas locais anunciaram recentemente que estão a cancelar voos devido à escassez de combustível.
O preço do combustível automóvel também mais do que duplicou para 1,60 euros por litro.
“Não sei como vamos lidar com isto porque 70% das indústrias dependem do combustível”, afirmou em declarações à imprensa local na segunda-feira Lanre Popoola, presidente regional da Associação de Fabricantes da Nigéria (MAN).
A guerra na Ucrânia terá consequências económicas distintas para os diferentes países africanos, segundo Amaka Anku, analista da consultoria do Eurasia Group, citada pela agência France-Presse.
Países como a Nigéria, importadores de matérias-primas ou combustíveis refinados, sentirão a repercussão da subida da inflação nos respetivos défices orçamentais, já de si frágeis, sublinha Anku. Outros, como o Gana, muito endividados, irão enfrentar a subida dos custos da dívida, acrescenta a analista.
A longo prazo, porém, países produtores de gás como a Tanzânia, Senegal e Nigéria poderão vir a beneficiar da redução das importações europeias de gás russo, disse, por sua vez, Danielle Resnick, investigadora da Brookings Institution.
No entanto, e “apesar destas possibilidades, a curto prazo, a invasão da Ucrânia poderá colocar desafios às famílias africanas, ao setor agrícola e à segurança alimentar”, acrescentou Resnick.
Este é o caso particular da Etiópia, onde 20 milhões de pessoas afetadas pela seca e pelo conflito interno necessitam de ajuda alimentar. Mas também do Quénia, a terceira maior economia da África subsaariana, que importa da Rússia um quinto dos cereais que consome e 10% da Ucrânia, de acordo com números oficiais.
Outra das preocupações prende-se com o impacto das sanções à Rússia no fornecimento e preço dos fertilizantes. Um saco de 50 quilos de fertilizante custa agora 6.500 xelins quenianos (52 euros), contra 4.000 xelins no ano passado (32 euros).
No Uganda, os preços do sabão, açúcar, sal, óleo de cozinha e combustível estão a subir em flecha, segundo o Governo de Kampala.
Ainda que “a maioria” das mercadorias sejam produzidas localmente, “alguns ingredientes são importados e os seus preços são ditados por choques nos mercados internacionais”, afirmou o ministro ugandês das Finanças, David Bahati, citado pela agência noticiosa francesa.
Preocupado com a inflação alimentada pela invasão russa da Ucrânia, o banco central das Maurícias aumentou a sua taxa de juro de referência para 2%, pela primeira vez desde 2011. “É lamentável que, justamente quando os céus estavam a abrir-se depois da covid-19, mais nuvens tenham aparecido”, afirmou o primeiro-ministro do país, Pravind Kumar Jugnauth, num discurso televisivo.